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A Pirataria Está Firme e Forte, Obrigado

17 anos atrás

O Brasil saiu recentemente da lista negra dos EUA de pirataria, por reconhecidos esforços no combate à pirataria. Pois bem... eu não tenho idéia de onde eles tiraram os dados, mas o negócio de produtos falsificados nunca foi tão bom no centro do Rio de Janeiro.

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1 DVD por R$ 10,00
2 por R$ 15,00

Todo dia, um "agente de inclusão digital", em frente a uma agência do HSBC, faz um gato num bueiro da Light ao lado de uma banca de jornais. Pega uma extensão de uns 10 metros, emendada com fita isolante e liga um playstation a um televisor em cores de 14 polegadas. Ele aproveita e pendura na placa do banco, um fio com 4 lâmpadas, para que os clientes possam ler melhor os títulos. Ele oferece um serviço de testes exclusivo, não visto em nenhuma outra loja, pois testa os DVDs na hora.

Está fazendo um sucesso danado, pois a banca vive cheia. É tão grande que ocupa toda a parte frontal da agência bancária, exceto a porta de entrada do caixa eletrônico e da agência. O ponto é na Avenida Rio Branco, centro financeiro do Rio de Janeiro.

Antes, era apenas suspeita, mas conversando com várias pessoas a respeito de pirataria e ela parece ter alguns fatores em comum:
1. Impostos. Temos um dos mais cretinos, injustos e acachapantes sistemas tributários do mundo. Cobra-se imposto como na Suécia com serviços públicos equivalentes ao da Nigéria. Os produtos eletrônicos chegam tão caros que não geram divisas para o país, nem emprego ou movimentam o comércio.
2. Desejo. As pessoas são bombardeadas com propagandas o tempo todo. Isso cria o desejo, mas o brasileiro não tem poder aquisitivo necessário para comprar os bens e produtos oficiais. Há uma demanda reprimida pelo custo e surge uma retaliação surda. Bem, nem tão surda, por que o cidadão descrito acima agora colocou caixas de som amplificadas (sério!).
3. Cultura. Esse mercado paralelo que parece fazer parte da cultura nacional, como forma de combater justamente os itens 1 e 2. Não posso generalizar, mas pelo menos no meu convívio social, pessoas que têm o poder aquisitivo para comprar CDs, DVDs, Softwares e Jogos acham caro e não aceitam pagar, por exemplo R$ 37,00 por um lançamento em CD, mas pagam R$ 35,00 por uma pizza.

Não os culpo. A pizza é aproveitada por completo e o CD ouve-se por causa de 2 faixas e nada mais. Por isso o sucesso do download a la carte do iTunes e de outras lojas online. Mas a bandalheira generalizada não é recente. Quem nunca contrabandeou um único item? Um brinquedo, um video game, um telefone sem fio, perfume, calçado? Um dos comentários deixados no post sobre o eBook ideal o leitor Nighto sugere um aparelho que na Inglaterra custa 200 Libras(806 Reais) e aqui no Brasil 2.800 Reais. Imediatamente, o nosso pensamento é uma maneira de burlar esse preço proibitivo, que simplesmente ceifou mais de 99% do mercado para esse produto, já que um notebook custa isso.

Por que um europeu tem o direito de adquirir um produto 3,5 vezes mais barato? Não há resposta fácil. O argumento usual de que isso afetaria de forma negativa as importações pode ser verdadeiro em princípio. Mas em contrapartida surge um mercado potencial para venda de serviços e software, que pode ser posteriormente exportado. Em médio prazo, gera-se divisas, empregos e expertise ao mesmo tempo.

O assunto é complexo e não existem fórmulas milagrosas, mas sei que o cidadão continuará vendendo os "itens de inclusão digital" dele por um bom tempo.

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