Ronaldo Gogoni 6 anos atrás
Com smartphones top de linha cada vez mais caros (e isso não é exclusividade do mercado brasileiro), a atenção do público em geral se voltou para fabricantes fora do eixo Apple-Samsung-LG, mais especificamente as companhias chinesas. Graças às particularidades da linha de produção do País do Meio, em poucos anos seus produtos foram dos xing-lings safados e cópias a produtos de primeira linha, poderosos e com preços extremamente agressivos.
As principais companhias que entraram no radar dos consumidores, que passaram a contar com as importadoras são a Lenovo (que apesar da Motorola lança produtos no mercado interno muito bons), a Vivo, a Huawei e a Xiaomi (a OnePlus também entra nessa conta, mas ela atua no mercado americano e europeu oficialmente), sendo que estas duas últimas já atuaram no Brasil tempos atrás. A Huawei inclusive já teve problemas nos Estados Unidos e embora tenha se instalado satisfatoriamente na terra do Tio Sam, ela ainda não pretende lançar seus novos smartphones por aqui.
A Xiaomi, embora tenha crescido muito nos últimos anos é ainda mais conservadora e se mantém restrita à Ásia-Pacífico e Europa Oriental, o que é uma pena: o Mi6, seu novo top de linha lançado na semana passada é um dispositivo de encher os olhos. Seu acabamento de primeira acondiciona um hardware matador, composto por um SoC Qualcomm Snapdragon 835, octa-core Kryo com clock de até 2,45 GHz e GPU Adreno 540, display IPS de 5,15 polegadas com resolução Full HD (428 ppi), generosos 6 GB de RAM, 64 ou 128 GB de armazenamento interno não expansível, conjunto principal de câmeras duplo com 12 megapixels (uma com 27 mm, abertura f/1,8; estabilizador óptico de imagens de quatro eixos e outra com 52 mm e abertura f/2,6) com HDR, Flash Dual-LED e que filma em 4K a 30 fps, câmera selfie de 8 MP, Dual SIM, Bluetooth 5.0, NFC, A-GPS, GLONASS, bateria de 3.350 mAh e Android 7.1.1 Nougat com a camada de customização MIUI 8.
É um monstro, mais potente que o Galaxy S8 ao menos em teoria (e que não deve fazer feio na hora do vamos ver); e tudo isso por preços que variam entre o equivalente a R$ 1.141,00 (no modelo de 64 GB) e R$ 1.370,00 (128 GB com corpo em cerâmica). Mesmo com a Receita Federal cobrando 60% de imposto mais taxas, o modelo mais parrudo sairia por menos de R$ 2,5 mil para um usuário daqui no caso de compra direta (as importadoras cobram mais caro). É muito tentador.
Não é de se espantar que a Xiaomi tenha tantos “Mi fãs” espalhados pelo ocidente, mesmo em países onde ela não atua (ou deixou de atuar, como o Brasil) mas no que depender do atual SVP Wang Xiang (que assumiu o cargo após a saída de Hugo Barra para o Facebook), os ocidentais não verão seus dispositivos em seus mercados oficiais tão cedo. Em entrevista ao Engadget no dia seguinte ao evento de lançamento do Mi6 na China, o executivo explicou que mais do que oferecer dispositivos de ponta, ela quer abraçar os mercados emergentes possíveis com dispositivos “que levem inovação para todos”, algo parecido com a estratégia brasileira de 2015: focar em aparelhos de entrada e intermediários em mercados como Índia (onde já são a segunda marca principal em vendas), Mianmar, Ucrânia (3º lugar no país), Indonésia e outros do leste asiático.
No momento a empresa atende 30 mercados e andou tendo problemas na cadeia de suprimentos, inclusive na China e por isso mesmo, embora lamente sua ausência nos mercados ocidentais Xiang afirma que a Xiaomi não pretende por enquanto se instalar em tais mercados. Outro ponto levantado pelo executivo é que a estratégia típica da empresa em focar suas vendas apenas via loja digital, abrindo mão de negociar com operadoras locais acabaria por “queimar seu filme” junto às mesmas e ao menos sob sua visão, o que a OnePlus e a Huawei (com o Honor) fazem hoje não é a melhor opção para eles se estabelecerem solidamente no mercado. É provável que Xiang tenha contemplado o fiasco no Brasil como um exemplo do que funcionar e o que não funciona por aqui.
É uma pena, se a Xiaomi fizesse a coisa certa desta vez ela seria uma tremenda dor de cabeça para os grandes players ocidentais quanto a dispositivos de ponta, mas por enquanto ela pretende manter seus medalhões na China e comercializar os gadgets de entrada apenas nos vizinhos próximos. E mesmo que venha para cá tal estratégia não deve mudar.
Fonte: Engadget.