Carlos Cardoso 7 anos atrás
É um processo que se repete. Empresas que ganham dinheiro demais acabam cedendo aos desejos de diretores que não sabem dizer não, e investem em tecnologias que simplesmente não funcionam, não são viáveis e nunca (ao menos em um período de uns 250 anos) serão.
É o caso do Uber e seus carros voadores.
Ok teeecnicamente não são carros, mas quase. São aeronaves VTOL semi-automatizadas.
A idéia do Uber é que você vai morar nos subúrbios (nos EUA isso é chique) e uma viagem de carro de 100 minutos entre seu trabalho e o condomínio de luxo onde mora será feita em apenas 18 minutos, com um AeroUber pousando no telhado.
São ousados até no preço. A corrida no Uber X custaria US$ 111,00. No AeroUber, US$ 129,00.
Um futuro lindo, Jetsons, 5º Elemento, Back to the Future, com o céu cheio de carros voadores.
Bastante dinheiro foi gasta nessa pesquisa, explicada neste post do Medium e publicada como um trabalho completo, de 98 páginas.
Como nem eu nem você temos uma semana, vamos apenas aos pontos principais que inviabilizam essa bagaça:
Carros voadores são um sonho antigo. Todos os protótipos construídos até hoje falharam, por um motivo simples: você está acrescentando complexidade. Ao criar algo que não é nem um carro nem um avião, está criando algo com os problemas dos dois.
Eu sei, todo mundo sonha com carros voadores de decolagem vertical, até os turbofans chuparem o cachorro do vizinho. O mundo aqui fora é cheio de detritos, lixo nas ruas, pardais e coisas que entram em motores.
As cidades por sua vez são péssimo lugar para voar. Ruas cheias de fios, postes e outdoors. Estacionar “na rua” não será possível.
Alto de prédios também não é uma possibilidade, a imensa maioria já está ocupada, nem possui infraestrutura para um heliponto.
Esse avião do Uber representará um aumento no tráfego aéreo das cidades, afetando as rotas dos aeroportos. Também temos o problema da confiabilidade. Se um Uber dá defeito ele encosta no acostamento. Se um Aero Uber dá defeito, ele cai.
No paper questionam o motivo dos motores de aviação custarem tão caro. Esse é um dos motivos, precisam ser muito mais confiáveis, e mesmo assim, como vimos esta semana, de vez em quando falham. Traduza isso para centenas de Aero Ubers pela cidade.
Há outro problema: custo de manutenção. Aviação não é bagunça. Você precisa fazer revisões e certificações regulares, o desgaste dos componentes é muito maior. Há um motivo para hora de vôo ser tão cara. O Uber usa como exemplo de aeronave o V-22 Osprey.
Péssimo exemplo, a hora de vôo do Osprey custa US$ 83.256. Ele é uma aeronave que levou quase 20 anos para ser aperfeiçoado e matou muita gente no processo. O Uber quer esperar tanto tempo?
Também não será possível pegar um pedagogo desempregado para dirigir o Aero Uber. As autoridades de aviação não gostam da idéia de gente não-qualificada pilotando. Você terá uma aeronave nova, não-testada, o que exigirá pilotos experientes, e isso custa beeem caro.
Ruído é um problema. O Uber diz que resolverá isso com motores elétricos. Errr… não. O grande ruído de um helicóptero não é do motor, mas das hélices gerando ruído aerodinâmico.
Carros voadores e transportes futuristas urbanos sempre frequentaram a capa das revistas de divulgação científica, mas nunca saíram delas. Máquinas voadoras tendem a cair se não forem muito bem pilotadas e cuidadas. Pessoas que não se lembram de trocar o óleo do carro com a luz apitando no painel nunca serão capazes de manter um jetpack em condições de uso.
Uma dica: helicópteros existem faz tempo, cumprem as mesmas funções desses aviões do Uber, e nunca se tornaram baratos confiáveis e práticos o bastante para transporte de massa.
Claro, você pode dizer que o Uber está certo pois fatura bilhões, e que desta vez vai dar certo. Quem sabe eles não investem também em cidades submarinas, já que adoram projetos historicamente inviáveis?
Fonte: Popular Science.