Ronaldo Gogoni 7 anos e meio atrás
Vou contar um grande segredo: o mundo evolui. As coisas não permanecem estáticas por muito tempo, somos impulsionados a sempre seguir em frente e a melhorar cada vez mais nossas ferramentas. Isso vale para tudo, inclusive como consumimos mídia. Só que essa verdade tão simples parece não entrar na cabeça dos velhos barões que comandam a distribuição de conteúdo via rádio, mídia e principalmente TV, esses últimos as criaturas mais retrógradas do planeta (em segundo lugar, executivos de gravadoras).
Todos eles foram arrastados para a internet gritando e se debatendo, pois era um modelo que não poderiam controlar com pulso firme tal como fazem com suas emissoras. Aí entram medidas como a DMCA ou atitudes esdrúxulas de restringir material no YouTube ou em canais de streaming por região. O consumidor de hoje não quer saber de esperar, se fecham a porta na cara ele irá direto para a Locadora do Paulo Coelho, que não vai fechar tão cedo.
Emissoras em geral vêem a internet como as empresas viam o setor de TI no início: uma despesa minimamente necessária. Eles vão implementar recursos de qualquer jeito e insistirão em transplantar seus modelos arcaicos para o formato, e mesmo que tentem injetar boa dose de novidade são incapazes de tirar os dois pés no chão e mergulhar. O The Daily foi um excelente exemplo de como não dá para fazer um omelete sem quebrar os ovos, que era basicamente o que Rupert Murdoch queria.
A NBCUniversal segue a mesma linha. Em junho o CEO Steve Burke descreveu o worst case scenario de cobertura das Olimpíadas no Rio de Janeiro como um “pesadelo”, dizendo que se um dia eles acordassem com uma queda de 20% na audiência, a culpa seria da geração dos millenials “que preferem ficar no Facebook e Snapchat a assistir TV, e perderam o evento por isso”.
O grande problema dessa afirmação é apontar culpados e não se mexer para reverter a situação. Burke basicamente queria que todo mundo desligasse smartphones e tablets e ligassem os televisores, para consumir conteúdo determinado pela emissora a ser transmitido como e quando ela desejasse. Não rola mais, queremos tudo ao mesmo tempo agora, a ideia de consumo de mídia em horários fixos é alienígena a quem cresceu com Netflix e cia. limitada.
Mesmo eu, que faço parte da última leva da Geração X e vivi na infância e adolescência a transição do mundo analógico para o digital não tenho tanto saco mais para assistir TV. Obrigar os mais jovens a consumir a programação fixa chega a ser cruel, até porque aguentar o Galvão É tortura.
Ainda assim a NBC investiu US$ 12 bilhões na cobertura exclusiva dos Jogos Olímpicos nos EUA até 2032, e estava tão maluca atrás por audiência mas incapaz de jogar conforme às regras que teve a pachorra de solicitar ao COI que a entrada das delegações na cerimônia de abertura seguisse a ordem alfabética em inglês e não em português brasileiro, como manda o protocolo. Dessa forma a equipe norte-americana seria uma das últimas a aparecer e teria maior destaque. Claro, o comitê mandou a emissora pastar.
Claro que os resultados ficariam longe dos esperados pela NBC. O tal pesadelo veio pior do que o esperado, a emissora registrou queda de 25% em relação à Londres 2012 entre espectadores de 18 e 49 anos, e 17% menor em geral. Por outro lado, a audiência via o app NBC Sports App e o site NBCOlympics.com registrou aumento de 24% quando comparada com os dados de quatro anos atrás.
O colunista do Bloomberg Gerry Smith embarcou na trip de Burke e de fato culpou os millenials pelo fiasco da NBCUniversal, o que francamente não é verdade. A culpa é da própria emissora, que não investe o suficiente em novas formas de fidelizar o espectador e não entende que é preciso dar maior foco à transmissão via streaming e disponibilizar o material online, algo que a Rede Globo entendeu muito bem.
Se a NBC é incapaz de se adaptar, os usuários vão migrar para outras alternativas. Há uma infinidade de serviços de transmissão legais e nem tanto, muitos deles ripando canais por assinatura na internet que foram acessados em massa em todos os cantos. Outros detentores de conteúdo irão investir mais e melhor na internet, com integração às redes sociais que a emissora norte-americana tanto abomina. Pior para ela, que com atitudes como jogar a culpa de sua própria incompetência nos outros e não fazer nada para reverter a situação vai cavando a própria cova.
Fonte: Bloomberg.
EDIT: o valor de US$ 12 bilhões pagos pela Comcast, a proprietária da NBCUniversal pelos direitos de transmissão cobrem o período de 2016 até 2032. O texto original dava a entender o valor era referente apenas à Rio 2016, o que não é o caso.
Agradecimentos ao Thássius pelo toque.