Carlos Cardoso 7 anos atrás
Em uma das melhores cenas do especial do Top Gear na Ucrânia os 3 Patetas acham um cemitério de material bélico soviético, entre eles um ICBM SS-18 Satan. James May então chega na traseira do míssil e tenta acender com um isqueiro: “acho que está com defeito”, diz ele.
Por incrível que pareça ele não estava muito longe da verdade, mas para isso vamos a um passeio pelos foguetes russos.
Um Soyuz por exemplo é composto de um corpo principal e 4 foguetes auxiliares:
Cada foguete auxiliar desses pesa 44,4 toneladas, tem 19,6 m de comprimento e um motor RD-107A com 4 câmaras de combustão. Eles funcionam durante 120 segundos, então são ejetados formando a chamada Cruz de Korolev, em homenagem a Sergei Korolev, o gênio pai do Programa Espacial Soviético:
Cada um dos 5 motores (tem o do meio também) consome 91 kg de querosene e 226 kg de oxigênio por segundo. Agora imagine que você tem que passar esses 317 kg de propelente e oxidante por uma tubulação do tamanho do cano do seu chuveiro, em uma câmara de combustão não muito maior do que um latão de lixo:
Se você jogar 200 litros de gasolina em cima de um fósforo as chances são que ele se apague. Isso não é bom. Se uma das câmaras de combustão não acender, começará a jogar uma mistura altamente explosiva no ar em volta da plataforma, o que não é bom também.
Se a mistura acender mas demorar muito, a ignição acontecerá fora da câmara de combustão, praticamente zerando a propulsão daquele motor, e como ele depende disso para mover as próprias bombas, o motor apagará. Não bom também.
É preciso que todas as 20 câmaras de combustão sejam acionadas absolutamente completamente definitivamente ao mesmo tempo, e para isso os russos utilizam… um fósforo gigante:
Ok, na verdade ele é mais parecido com isto:
É um T de madeira leve, com duas cargas pirotécnicas na ponta. Entre elas, uma mola de bronze. Durante os segundos finais do procedimento de lançamento um sinal elétrico aciona as cargas pirotécnicas, que é uma forma mais eficiente e mais cara de dizer “fogos de artifício”. Como redundância as cargas estão apontadas uma pra outra, assim se só uma acender, o jorro de fogo e fagulhas acende a outra.
A mola de bronze é o sensor de acionamento. Quando as cargas são acionadas elas derretem a mola, o circuito elétrico é interrompido e o controle tem a indicação de que as cargas estão acesas.
No total são 32 cargas, 20 grandes pros motores principais e 12 menores para os motores de manobra. Somente quando todos os 32 sinais de ignição bem-sucedida são recebidos é que comandam a abertura das válvulas liberando a mistura.
Existem outros métodos de acionamento de motores, mas como depois de milhares de lançamentos os russos foram ter problema com UM desses fosforões somente semana passada, dia 12 não há motivo para mudar.
Fonte: Popular Mechanics.