Carlos Cardoso 7 anos atrás
Existem diversas formas de determinar que uma pessoa possui inteligência abaixo da média, incluindo o entusiasmo com que ela declara ter votado naquele partido maldito. Só que um dos indicadores mais eficientes é a forma com que a pessoa lida com questionamentos.
Quanto mais ela acata verdades absolutas por virem de uma figura de autoridade, quanto mais ela delega a outros a tarefa de racionalizar a informação, menos seu cérebro se exercita.
Agora isso foi comprovado por uma pesquisa da Universidade de Waterloo, Canadá. Segundo os resultados, as pessoas mais receptivas a “bobagens pseudo-profundas e intelectualóides” são também as mais propensas a ser menos inteligentes, acreditar em teorias da conspiração, paranormalidade e medicinas alternativas.
No teste os cientistas pediram para as pessoas diferenciarem citações filosóficas, bobagens e frases comuns. Coisas como “A vida não é sobre esperar a tempestade passar, mas sobre aprender a dançar na chuva”.
Detalhada no seminal paper On the reception and detection of pseudo-profound bullshit, a pesquisa mostrou que o grupo que compartilha essas correntes, mensagens inspiradoras, alertas contra vacinas e totens da sorte apresenta o menor grau de raciocínio, não processam a informação, apenas a repassam.
Essas pessoas são mais susceptíveis a bobagens e obviedades, não conseguem determinar o que se é apenas uma afirmação genérica, “O amor é o oposto do ódio, então ao invés de odiar, ame” ou tem um significado mais profundo “Na piscina a baleia pergunta ao Homem se todos os oceanos têm paredes”.
Nossos cérebros adoram padrões, adoram explicações e somos recompensados por isso. O proto-macaco pré-histórico que escuta um barulho no mato e imagina que pode ser um leopardo foge e tem macaquinhos. O macaco inteligente e racional, que exercita a curiosidade e descobre que não é, vai morrer nos 3% de vezes em que a fonte do barulho for um leopardo.
Felizmente não precisamos viver reféns de nossas limitações biológicas, nosso cérebro é plástico o suficiente para não nos tornarmos marionetes na mão de qualquer um com uma bandeira, um distintivo, uma bíblia ou um Photoshop.
Não é preciso muito, só um mínimo de esforço: por exemplo, a bobagem repetida ad nauseum todo ano, “Sempre chove em finados”. Quanta gente já parou para pensar “chove aonde?” Em quais lugares? No mundo todo? E onde não se comemora Finados? Será que um fenômeno mundial assim não atrairia a atenção de cientistas?
Ninguém se pergunta isso. É mais fácil ignorar todas essas perguntas, e se chover no seu bairro (em novembro, época de chuvas) dizer “viu? Sempre chove” mesmo que no ano passado não tenha chovido.