Ronaldo Gogoni 8 anos atrás
A Comissão Europeia não dá moleza. Ela tem sido a pedra no sapato do Google no velho continente, que a enxerga como um monopólio natural e vem tentando partir a companhia em duas por lá, fora alguns rolos com o Android, o “direito ao esquecimento” e o YouTube Music Key.
Lá a conversa é bem diferente da dos EUA, vide o que a Microsoft pastou por lá. E agora a Apple vai provar desse remédio amargo também.
O alvo é o Beats Music, o serviço de streaming premium que a maçã vai introduzir em breve para bater de frente com Spotify e cia. limitada. O seu desenvolvimento após a aquisição da companhia de Dr. Dre tem sido conturbado: tanto executivos das duas empresas saíram como o valor inicial da assinatura proposto teve que ser elevado de 5 para 8 dólares, principalmente por chiadeira das gravadoras. Agora a Comissão Europeia fita o serviço com um olhar desconfiado, e não é para menos.
Enquanto o Beats Music não chega aos usuários, o órgão da UE tem buscado informações junto a gravadoras para saber sobre os acordos que Cupertino tem oferecido, e está seriamente considerando lançar uma investigação antitruste antes mesmo do lançamento do serviço. A preocupação da Comissão é que a Apple utilize de seu tamanho e influência para forçar as gravadoras a abandonarem os serviços rivais, caracterizando concorrência desleal.
A reclamação teria inclusive partido de um serviço de streaming não identificado obviamente, já que a Comissão também está ouvindo os rivais do Beats Music. Sob olhar do órgão a Apple tem a capacidade de oferecer melhores condições para artistas e gravadoras, já que muitos não gostam do formato gratuito suportado por ads praticado pelos concorrentes.
Caso isso vá além é possível que a Apple leve uma bordoada semelhante ao ter perdido o caso dos e-books, onde o júri decidiu que houve conluio entre a empresa e editoras para prejudicar a Amazon e outros concorrentes.
O Google por sua vez pode conseguir uma dor de cabeça semelhante: após cinco anos de investigações sobre práticas anticompetitivas, a Comissão está pedindo agora que empresas de tecnologia que se sentiram lesadas por Mountain View apresentem denúncias formais, a fim de que o processo se torne público.
Entre as companhias que movem ações confidenciais estão grupos editoriais alemães e franceses, bem como startups norte-americanas como a Yelp. A reclamação é a mesma, o Google exerce controle demasiado sobre as informações compartilhadas na internet e com isso, dá preferência a seus próprios serviços (no shit, Sherlock). Caso as reclamações públicas se acumulem a Comissão pode forçar o Google a prestar esclarecimentos e aproximar o caso de uma conclusão.
A situação para o Google não é boa em geral. A atual comissária Margrethe Vestager é vista como mais linha dura do que seu predecessor Joaquín Almunia: este tentou várias vezes fechar um acordo com a gigante, mas foi criticado por diversos políticos europeus por estar oferecendo termos muito leves, que na prática nada mudariam. A visão ideal dos europeus é forçar o Google a compartilhar o seu ouro, ou seja o algoritmo de busca com os concorrentes, e isso pode ser feito inclusive com o desejo local de desmembrar o motor de busca de todo o resto da empresa.