Carlos Cardoso 8 anos atrás
Com o fim dos ônibus espaciais a NASA perdeu mais que sua capacidade de mandar humanos para o espaço. Ela também se complicou no envio de cargas muito pesadas mesmo para órbita baixa. Mesmo o Falcon Heavy, da SpaceX só terá capacidade de transportar 53 toneladas para LEO (Low Earth Orbit). O Delta IV Heavy, o foguete mais poderoso disponível nos EUA consegue colocar em órbita 28,7 toneladas.
O Shuttle transportava 24 mil kg de carga útil; e o foguete Saturno, 118 toneladas. Isso não dá pra chegar em Marte, no máximo chega na Lua.
A NASA está correndo atrás, apesar das brigas políticas, cortes de orçamento e cancelamento de projetos. Daí nasceu o SLS — Space Launch System. Usando tecnologia de foguetes auxiliares de combustível sólido derivados do shuttle, mas maiores, no modelo inicial terá capacidade LEO de 70 toneladas. Com os upgrades chegará a 130.
Ou seja: cápsula Orion, asteróides, Marte, naves de exploração montadas em órbita em múltiplas viagens, tudo ao nosso alcance. Só que pra isso é preciso projetar, especificar, construir testar e certificar. O estágio principal usará 4 motores RS-25, os mesmos do Ônibus Espacial.
Esse brinquedo aqui.
Como todo mundo que joga Kerbal sabe, só os motores principais não são suficientes, é preciso MAIS BOOSTERS! O ônibus espacial usava dois SRBs — Solid Rocket Boosters, cada um com 590 toneladas e 4 segmentos. O pessoal do SLS falou “é pouco bota mais” e desenvolveram um monstro com 53 metros de altura, 4 m de diâmetro.
Você fala: isso é grande. Eu respondo: são seus olhos.
O SRB funciona como qualquer foguete que a gente compra em loja de fogos. Sério. A física é a mesma dos motores de combustível sólido de foguetes amadores. Claro, é uma tecnologia que o Brasil ainda não domina, mas tenho certeza de que assim que sobrar verba a AEB vai comprar um kit da Amazon e faremos engenharia reversa.
Em essência ele é um tubo de metal preenchido com perclorato de amônia, alumínio em pó em outros compostos pra dar liga. O tubo é oco. No alto do foguete existe um foguetinho menor, que é a “vela de ignição”. Ele é acionado, um jato de fogo percorre o túnel feito no combustível. A superfície interna entra em ignição, e só tem um lugar por onde escapar, a biqueira.
Como a pressão está equilibrada, o combustível queima uniformemente. É literalmente uma explosão controlada. Controle aliás é o que não há, depois disso. Você não tem como desligar o motor, não tem como regular a potência e o único controle é direcional, movendo a biqueira do foguete e direcionando o jato.
Essa reação dura, pro SRB do SLS 124 segundos. Após isso os foguetes auxiliares são ejetados e vão pro fundo do mar servir de casa pra marisco. Recuperar e restaurar, como os do Shuttle não vale o custo.
Durante esses dois minutos cada SRB queimará 500 toneladas de combustível, mais do que todos os foguetes brasileiros em todos os testes e lançamentos desde a origem do nosso (quá) programa espacial.
A NASA fez um teste dia 11 de março, para certificar o SRB.
NASA's Marshall Center — SLS Qualification Booster Test at Orbital ATK
Ao final, não mostrado no vídeo, extinguiram os últimos restos de combustível com 53 toneladas de gás carbônico. Tecnicamente a NASA construiu um foguete que não saiu do lugar, mas ao contrário do Brasil eles fazem isso com estilo.