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Calma! Não é obrigatório matar prostitutas em GTA V?

Um artigo da Forbes levanta uma questão interessante, que está sendo ignorada em toda a polêmica envolvendo Grand Theft Auto V e assassinatos de prostitutas: não é obrigatório. Você pode jogar perfeitamente sem fazer mal às moças. Na verdade não precisa nem matar policiais. GTA está sendo punido por ser um jogo onde o gamer decide seu comportamento moral. Desde quando Livre Arbítrio é algo ruim?

10 anos atrás

Sexy-Golf

Mais de uma década antes das polêmicas envolvendo GTA já era possível atirar em strippers no Duke Nukem. Não acrescentava nada ao jogo, mas todo mundo fazia, até pela regra dos FPS, atire no que estiver na frente.

No The Legend of Zelda: Ocarina of Time uma parte do cenário nas aldeias eram… galinhas. Não faziam nada, não serviam pra nada, mas invariavelmente o idiota com o joystick fazia a Zelda (eu sei) atirar nas galinhas, que se irritavam e davam uma lição no sujeito.

Eu que sou da paz quando comecei a jogar o excelente Just Cause 2 depois de me entediar matando os capangas do Kim Jong-il genérico comecei a brincar com a população civil, prendendo inocentes a cilindros de propano com cabos, atirando e vendo o coitado ser alçado às alturas como um foguete. Puxar uma japa em um tuk-tuk e soltar, do helicóptero em cima de uma refinaria também é legal.

A polêmica atual, que está mexendo com todo mundo que nunca jogou um videogame na vida é que no GTA V você pode matar prostitutas e roubar dinheiro delas. A grande questão, levantada neste bom artigo da Forbes, é que… VOCÊ NÃO PRECISA FAZER ISSO.

Claro, há jogos onde você precisa explicitamente machucar inocentes, seja um simulador de estupro japonês, seja o famigerado Carmageddon.

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O normal é o jogo oferecer um ambiente sanitizado, não há civis no Medal of Honour, no Modern Warfare a única vez em que você vê gente inocente é na fase daquela favela incrivelmente miscigenada, ou na controversa NO RUSSIANS. Na primeira matar um inocente faz com que você perca. Na segunda, em um exemplo didático de instant karma, depois de massacrar os passageiros (todos adultos) você recebe sua recompensa: é morto pelo chefe dos terroristas.

Embora o GTA V esteja sendo alvo de denúncias como se não houvesse amanhã, não é de hoje que matar prostitutas e roubar dinheiro delas é possível. No GTA IV, de 2008 isso já acontecia, com menos polígonos.

As cenas, reconheço, não são legais. É constrangedor em tempos de Pr0n em 4K ver esses personagens profundamente enraizados no Vale da Estranheza fazendo sexo (NSFW, cuidado).

Matar a prostituta depois do serviço não acrescenta nada (ok, talvez dinheiro) ao jogo. E esse é o ponto: a cena toda não acrescenta nada. Você pode jogar GTA até seus dedos caírem e nunca encostar o dedo em uma dama que troca favores por dinheiro. Você também não precisa matar policiais ou atropelar pedestres. Seu personagem pode fazer essas coisas por ele ser escória. Em GTA, aliás, a cidade inteira é composta de seres humanos horríveis.

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"Oi gata, vamos dar uma volta?"

Ao dar a OPÇÃO de matar prostitutas a franquia Grand Theft Auto está fazendo algo que a maioria dos jogos não faz: colocar a decisão moral na mão do jogador. Não são os programadores que matam as prostitutas. São os jogadores.

Um simples jogo de carros já é moralmente questionável. Um Need For Speed mataria milhares de inocentes, se não fosse situado naquele estranho universo onde há carros mas não pessoas. Tipo Cars, da Pixar.

Em termos filosóficos o GTA V nos dá Livre Arbítrio, seria correto dizer que ele nos deixa agir como realmente somos, e se o sujeito se diverte matando prostitutas, há algo de errado com ele, não com o jogo.

Só que… é um jogo. Tirando um ou outro psicopata que se diverte com essa parte, o gamer normal vai experimentar a sequência, não achará graça e continuará como um bom e saudável jogador de GTA V, matando todo mundo, indiscriminadamente.

Sim, é divertido brincar. As pessoas gostam de filmes de zumbis pois podem agir sem amarras sociais, mas eu aposto meu bônus de Natal que NENHUM dos espectadores que achou o máximo da ousadia o The Walking Dead ter mostrado a garotinha-zumbi sendo morta baleada (morta já estava) se imagina fazendo o mesmo com uma criança de verdade.

Nós gostamos de coisas que desafiem as normais sociais, rebeldes, mesmo errados são sexy. É possível ser contra corrupção e gostar de House of Cards. Tenho sérias restrições quanto a serial killers, e adoro Dexter. Vou mais além: defendo o GTA V mesmo expandido a ousada opinião de que é errado matar prostitutas; acho que matar seres humanos em geral à princípio é errado.

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Arrancar a cabeça de seu adversário, não importa quem tenha começado a briga, é errado.

Da mesma forma não está em meus planos fazer isto:

DubStepZz — GTA V (5) | Airport Mayhem With The TANK

Mas que é legal, é.

A decisão da Target de banir a venda de GTA V na Austrália é idiota. Tão idiota quanto os gamers retardados que fizeram uma petição para que a Target parasse de vender bíblias, por ser um livro que promove preconceito, homofobia, violência etc. Não deixa de ser verdade mas se tivessem pesquisado um pouco não teriam que ouvir da Target “Excelente, mas nós não vendemos bíblias”.

O GTA está sendo punido por DAR uma opção, permitir ao jogador fazer uma escolha moral. Mídias que não oferecem essa opção, curiosamente não são alvo de patrulhamento. Breaking Bad que o diga.

No Universo de Grand Theft Auto V você é uma pessoa horrível. Cabe ao jogador decidir o quão horrível ele quer ser, lembrando que não só as prostitutas mas os policiais também tem família, filhos, maridos e esposas, e nem por isso você deixa de passar por cima deles com um tanque. Pois é, ninguém pensa na família dos capangas.

Restringir tudo a uma questão de misoginia, a UM aspecto do jogo é pensar pequeno. Você tem toda uma vida online no GTA onde pode ser um ser escroto de milhares de outras formas. Aliás, qual a diferença entre explodir carros com policiais em GTA e explodir navios em River Raid? Polígonos? Qual o limite para uma morte limpa e moralmente aceitável em videogames?

prost1

Com a resolução original era Ok atirar nas prostitutas de Duke Nukem 3D, mas com resolução de GTA não é válido?

Se o problema é ser visualmente realista, então não há o que se reclamar da fase onde estupra-se uma índia em Custer's Revenge, certo?

custerev

Errado. Apesar de ser em uma resolução patética de Atari, tão coxinha que mesmo num blog censura-livre como o MeioBit a gente posta, o jogo é nefasto. É racista, trivializa violência sexual, é um jogo comprado e desenvolvido por gente que acha divertido estuprar índias.

O Custer's Revenge, assim como os Simuladores de Estupro japoneses são jogos onde o objetivo é ser moralmente errado e ponto. Não é um simulador de assalto por exemplo onde você roube um banco pelo dinheiro. Não é um GTA onde você pode sair com uma prostituta, pagar direitinho, dar gorjeta e deixar na porta de casa.

Steven Spielberg não foi totalmente fiel na Lista de Schindler. Durante as cenas no Gueto de Varsóvia ele se recusou a reproduzir os relatos de soldados nazistas se divertindo lançando bebês judeus contra uma parede, “há coisas que não faço nem com bonecos”. O jogador que não se sente confortável com a morte de prostitutas em GTA V podem simplesmente não matar prostitutas. Ninguém pensará mal de alguém que não consegue matar uma prostituta nem em um videogame. No mínimo é uma pessoa espiritualmente bem melhor do que eu, que adorava atropelar motociclistas em Spy Hunter.

O que mais me assusta nisso tudo é perceber o medo que pessoas que condenam o Grand Theft Auto V têm, da tentação de matar prostitutas em um videogame, se lhes for dada essa oportunidade. Isso diz muito mais sobre elas do que sobre o game.

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