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Regras da FIFA para os Jogos: não pode nada e vivem nos Anos 90

Eu sei, estamos em 2014, as pessoas compartilham tudo em redes sociais, de seu café da manhã ao acidente da estrada, comentam eventos coletivamente e trocam impressões, mas a FIFA acha que ainda estamos em 1990, e decidiu garantir isso proibindo até que alguém de dentro de um estádio compartilhe o RESULTADO de um jogo. Absurdo? Calma que piora…

10 anos atrás

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Uma das características mais peculiares do Brasil, e uma das mais difíceis de explicar para gringos é o conceito de “Lei que não pega”. Nossa sanha legalista acha que tudo se resolve na canetada, daí barbaridades como juros de mercado definidos em Constituição. Por outro lado esse mecanismo doido que engessaria o país tem em seu não-funcionamento um paliativo. Agora será a vez da FIFA entender como o Brasil (não) funciona.

A chamada Lei da Copa atropelou vários dispositivos estabelecidos previamente em Lei, inclusive a proibição de venda de álcool em estádios, mas mesmo assim ela ainda é bem mais branda do que na Copa da África do Sul onde — e isso é verdade — a FIFA instituiu Tribunais que fariam Hitler dizem “uoauoa pega leve”. Em um caso dois cidadãos do Zimbabwe roubaram um jornalista estrangeiro na quarta-feira, foram presos na quinta e na sexta começaram a cumprir pena de 15 anos de prisão. 

Aqui a Lei da Copa não chega a tanto, mas lendo o chamado “Código de Conduta” da FIFA para os jogos, percebe-se que eles estão completamente alienados em relação aos estádios brasileiros. Entre outras proibições:

qualquer instrumento musical, independente do tamanho, inclusive vuvuzelas;

Vuvuzelas eu entendo, mas futebol sem batucada?

Também proibem:

câmeras (exceto para uso privado e, neste caso, com apenas um conjunto de pilhas sobressalentes ou recarregáveis), quaisquer tipos de câmeras de vídeo ou outros equipamentos de gravação de som e vídeo;

Acabou? Não. Ainda na lista de proibições:

Computadores pessoais e outros dispositivos (incluindo, por exemplo, laptops ou PC tablets) usados para os fins de transmissão ou disseminação de sons, imagens, descrições ou resultados dos eventos pela internet ou outros meios;

As proibições culminam em:

gravar (salvo para fins privados), transmitir ou de qualquer forma disseminar pela internet ou qualquer outra mídia, inclusive dispositivos móveis, qualquer som, imagem, descrição ou resultado de qualquer evento que esteja ocorrendo dentro do Estádio, no todo ou em parte, ou auxiliar outra pessoa na condução de tais atividades; explorar comercialmente quaisquer fotografias ou imagens tiradas dentro do Estádio;

Chega a ser divertido imaginando aquela sala de reuniões onde a idade média é de 78 anos tentando decidir que brinquedos eletrônicos proibir. Talvez essa tal de Interweb. Note que a FIFA proíbe todo e qualquer tipo de filmadora, mas permite câmeras “amadoras”. Será que eles sabem que qualquer Tekpix da vida filma, assim como qualquer celular desde 1934 quando foi anunciado o primeiro iPhone?

A limitação de baterias e pilhas extras é um primor de usura. Ainda bem que sem Flash, 90 minutos é chupeta pra qualquer dispositivo moderno.

Também é hilário imaginar os fiscais da FIFA em cima de um coitado com uma DSLR de 5 anos atrás, enquanto outro com um Lumia 1020 e aquela magnífica câmera passa impunemente. Talvez aqueles Samsungs que filmam em 4K possam ensinar uma lição ou duas à FIFA.

Estamos em 2014. Eventos coletivos SÃO compartilhados em redes sociais. Até a Globo, que Mente, sabe disso e disponibiliza programas como o Tá no Ar segundos após a veiculação. O resultado é que ninguém se dá ao trabalho de subir para o YouTube, use o link oficial. A FIFA quer deter controle gestapiano de “seu” conteúdo, esquecendo que o futebol é uma festa de todos os envolvidos, incluindo o pessoal que pagou caro para estar no estádio, e quer compartilhar isso com os amigos.

Não há nenhuma justificativa para esse tipo de atitude, exceto usura. A FIFA provavelmente sairá desesperada distribuindo violações de Copyright, para desespero do YouTube. Já os usuários, bem… algo me diz que só de sacanagem vão sair replicando pela internet inteira as fotos, vídeos e GIFs.

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Falaram no twitter que essa freira foi ofensivo. Achei por bem compartilhar.

A cereja do bolo é proibirem os torcedores de compartilhar online “o resultado de qualquer evento que esteja ocorrendo dentro do Estádio”. Você sabe, o maior evento esportivo do Planeta, transmitindo para o UNIVERSO, mas você, lá dentro não pode twittar “GOL DO BRASIL”. 

Esse tipo de neurose lembra os primórdios da internet, quando a Paramount mandou notificações para todos os sites de fãs de Star Trek exigindo que tirassem do ar o conteúdo “não-autorizado” e passassem a usar imagens de um kit de imprensa pré-aprovado. A chiadeira foi tão grande, as ameaças tão sérias que desistiram dessa idéia idiota. Hoje eles percebem que os fãs só estão ajudando a divulgar o produto.

Uma coisa é pirataria pura e simples, subir um jogo inteiro ou vender camisas falsificadas. Igualar essa gente ao torcedor que posta no Instagram uma foto do placar é no mínimo ofensivo, mas convenhamos, depois que o Blatter disse que a FIFA é uma Entidade Sem Fins Lucrativos, e que US$ 1 bilhão em caixa é só “uma reserva”, nada que eles digam pode agredir mais o bom-senso.

BÔNUS: assista à matéria sobre a FIFA no programa do John Oliver. É bem… esclarecedora.

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