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Deus não dá asa a cobra. Já Darwin…

Uma das características da Ciência é que ela não tem obrigação NENHUMA de atender a nossos critérios de bom-senso, muito menos respeitar nossos avós. Então, quando eles diziam que Deus não dá asa a cobra, só demonstravam provincianismo, pois, enquanto isso, no sudeste asiático, cobras evoluíam aprendendo a voar. E agora graças a um grupo de engenheiros, estamos começando a aprender como elas fazem isso.

10 anos atrás

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Muito tempo atrás uma humilde cobra estava passeando em uma selva do sudeste asiático, longe de ser um paraíso. Ela se especializou a subir em árvores, um excelente ambiente para suprir sua dieta de aves, lagartos e morcegos. Um dia, talvez fugindo de um predador, ela no desespero se jogou de um galho. Graças à Lei dos Cubos e Quadrados, ela não se machucou quando caiu, mas ficou ao alcance dos predadores.

Assim foi, até que uma outra cobra pulou e se contraiu. Uma leve mudança em sua forma, e o movimento instintivo de colear fizeram com que ela caísse um pouco mais distante. Com o passar das gerações cobras que eram melhores em se achatar, cobras que tinham mais mira e não caíam em ravinas ou rios, sobreviviam. Cobras ruins de vôo, viravam comida de mangusto.

Depois de milhares de gerações cobras do gênero Chrysopelea aprenderam a modificar completamente sua forma, identificar correntes de ar, gerar sustentação e saltar entre árvores. Enquanto nossos avós em sua visão medieval de mundo onde sempre chove em Finados diziam que Deus não dá asa a cobra, na Ásia as cobrinhas faziam isto:

A rigor elas não voam, caem com estilo, mas até aí o Buzz Lightyear também. O mistério é COMO elas fazem isso, e se não foi Deus (nisso há consenso, as asas, lembra?) comofaz/?

Em um trabalho publicado na revista Física de Fluídos um grupo de engenheiros pesquisou a mecânica do vôo das cobras. Eles descobriram que a modificação no formato do corpo da cobra é muito mais complexa do que imaginavam. Ela gera vórtices de baixa pressão que sugam a cobra para cima, gerando sustentação como uma asa.

Mais ainda: a cobra é altamente eficiente em ângulos de ataque elevados, de 35 graus ou mais, enquanto asas de aviões funcionam melhor em ângulos baixos. Usando modelos impressos em 3D e tanques de água simularam a movimentação e viram que há toda uma sequência, quando a cobra pula, se estica, cai reta e então se achata em forma de S, até ganhar sustentação e começar a serpentear no ar. Com controle de direção.

É uma adaptação fundamentalmente diferente de todos os outros animais que caem com estilo, que preferem assumir uma pose aerodinâmica e permanecer imóveis, como o esquilo voador.

Esse tipo de conhecimento pode ser usado de fuselagem de aviões até em robôs. Um drone-cobra vasculhando escombros em um desastre natural ganharia muito em agilidade se pudesse pular de uma parte para outra sem depender de hélices, jatos ou descer e subir 5 andares.

Quanto às cobras, só podem lamentar pelo pessoal sem imaginação que acham mesmo que elas aceitariam caladas aquele papinho medieval de “rastejarás sobre o teu próprio ventre, e comerás do pó da terra todos os dias da tua vida”.

Fonte: TG.

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