Carlos Cardoso 9 anos e meio atrás
As boas intenções, vocês sabem, pavimentam o caminho para o Inferno, e uma das formas mais rápidas de conseguir isso é dar pitaco em uma área que não seja a sua. É o caso de Rongjia Tao. Ele é físico, chinês em uma universidade americana, não tenho dúvidas de que seja um cara muito inteligente, mas ele achou por bem tentar resolver um problema fora de seu campo de expertise, e não deu muito certo.
Ele propôs uma idéia para acabar com os tornados, fenômenos meteorológicos violentos, imprevisíveis e que causam morte e destruição no Meio-Oeste dos Estados Unidos, ameaçam vacas e fazem com que a Laura Dern tenha a ilusão de que poderia ter uma carreira cinematográfica.
A solução? Algo bem chinês: uma muralha, mas não um murinho chinfrim igual a Muralha da China, mas um trambolho com milhares de quilômetros de comprimento. Seriam três muralhas, uma na Dakota do Norte, uma na fronteira entre Kansas e Oklahoma e uma entre o Texas e a Louisiana. A muralha teria uns 300 m de altura, 50 de espessura e custaria US$ 60 bilhões a cada 160 km.
A idéia é que as muralhas perturbarão os padrões de ventos, gerando instabilidades no sistema e impedindo que os tornados se formem.
É ótimo, pena que não funciona. Meteorologistas que leram o trabalho de Tao explicaram que a própria China é uma demonstração de que o conceito não é válido; as cadeias de montanhas nas regiões de tornados chineses seguem o mesmo modelo proposto, e não fazem nada.
Do outro lado, uma obra de engenharia capaz de afetar um fenômeno climático como um furacão não é impossível, só inviável. Foi o que descobriu o engenheiro Mark Z. Jacobson, da Universidade de Stanford, junto com Cristina Archer e Willett Kempton, da Universidade do Delaware.
Eles simularam em computador o efeito de uma fazenda de turbinas eólicas em um furacão. Descobriram que com um número suficiente de turbinas tanta energia é tirada dos ventos que quando a tempestade chega em terra perdeu boa parte de sua força.
Em condições ideais conseguiram reduzir a velocidade dos ventos de furacões em 148 km/h, e a força das tempestades em até 79%, mas calma, ninguém vai sair instalando turbinas eólicas no oceano.
O modelo funcionou com parques de 78 mil turbinas. Isso equivale a 1/3 de todas as turbinas eólicas instaladas no mundo, o custo de manutenção seria imenso, riscos de navegação aumentariam muito e ninguém sabe os efeitos a longo prazo.
Hoje turbinas eólicas já funcionam com menos eficiência em algumas regiões, por causa de outra obra de engenharia planetária: reflorestamento. Estamos com mais florestas, isso diminui a velocidade dos ventos. Vários parques desses poderiam alterar o clima de uma tal forma que furacões seriam o menor de nossos problemas.