Carlos Cardoso 10 anos atrás
Essa imagem linda aí de cima não é computação gráfica. É real. Foi feita em 2007 pela sonda européia Rosetta, mas Marte não era seu destino, isso foi só um rolezinho. Ela passou por lá só pra malocar momentum e seguir em sua missão.
Lançada em 2004, a Rosetta tem como destino o cometa 67P/Churyumov–Gerasimenko. Como a sonda não tem combustível pra chegar lá facilmente, resolveram usar Isaac Newton como motor. Projetaram um curso que colocou a Rosetta em órbita solar, para depois usar um estilingue passando por Marte, a 250 km de altitude, ganhando velocidade acelerado pela gravidade do planeta.
Fora isso a Rosetta passou pela Terra 3 vezes, ganhando velocidade, raspando a menos de 5.000 km de altitude e sendo confundida com um asteróide. Isso tudo para, no final de 2014, estar na posição certa para o encontro.
Veja a viagem que a sonda fez e fará, até 2015:
Antes disso ela observou vários cometas e passou por alguns asteroides, inclusive o 21 Lutetia, com 100 km de diâmetro. A Rosetta chegou a 3 mil km dele, mandando imagens lindas:
Depois dessas e outras peripécias, em junho de 2011 a sonda foi colocada em hibernação. Para poupar os sistemas, tudo seria desligado, menos o computador de bordo, que, se tudo desse certo, em janeiro de 2014 religaria tudo, incluindo os aquecedores principais. O problema é que a Rosetta teria então dez anos de idade. Dez anos, sofrendo com tempestades solares, frio próximo do zero absoluto, calor infernal é complicado, por mais que faça parte das especificações do projeto.
Por isso nessa segunda-feira, 20/1/2014, a Agência Espacial Européia fez uma fanfarra, com transmissão ao vivo via internet, jornalistas e redes sociais. Depois de 31 meses, se tudo desse certo, a Rosetta acordaria, enviaria um sinal de alguns bits por segundo e iniciaria o processo de religar os instrumentos, verificar o estado de cada um e transmitir para a Terra a telemetria.
A mais de 807 milhões de quilômetros de distância, o sinal omnidirecional era MUITO fraco, levaria 45 minutos para chegar até nós. Por um bom tempo nada foi detectado, a tensão era palpável aqui, na sala de controle da Agência Espacial Européia:
Antes que reclamem: a foto não foi no dia da Rosetta.
EM TEORIA não receber um sinal não seria o fim do mundo, talvez ele fosse fraco demais, o pessoal roendo unha se preparava para esperar mais algumas hora para, tudo funcionando, a Rosetta acordar de vez, posicionar a antena principal para a Terra e transmitir, mas eis que…
Assista aos minutos finais dos 18 minutos que todo mundo ficou sem respirar, esperando essa sonda desgramada dar sinal de vida. Sim, 18 minutos de atraso. Maldita!
Está viva, e funcionando direitinho. Algumas horas depois começaram a chegar os dados de telemetria, e a Rosetta acordou com tudo na mais perfeita ordem, inclusive o Philae, uma sonda da sonda, que irá pousar no cometa. A foto de abertura deste artigo foi feita por ele, inclusive.
Em maio a sonda encontrará o cometa, mas é só o começo. Ela terá que fazer uma série de manobras para entrar em órbita. Com 5 km de diâmetro, não há muita massa, portanto a gravidade dele é minúscula. É preciso chegar bem perto e no plano certo. Veja a simulação das manobras:
Depois disso, já em novembro será a vez do Philae, com 100 kg de instrumentos científicos, se tornando a primeira nave humana a pousar suavemente em um cometa. Nessa época ele estará chegando perto do Sol, se tudo der certo veremos a formação da cauda de um cometa e toda a atividade geotérmica envolvida, em primeira-mão, ao vivo, do solo.
Na falta de datilógrafo a Agência Espacial Européia tem uma bela equipe de mídias sociais, então dá pra acompanhar a missão da Rosetta, com atualizações constantes.
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