Carlos Cardoso 10 anos atrás
Um dos maiores, talvez o único consenso do mundo online é que internet is for Pr0n. Existem dois tipos de pessoas na internet. As que acessam esse tipo de material educativo e as que mentem. Um estudo no Canadá sobre os efeitos da pornografia chegou a ser cancelado por não conseguirem montar um grupo de controle. Não acharam nem gente que mentisse sobre não acessar.
E não se engane, aquela secretária séria, com cara de tia durona da sua empresa? Você não tem idéia das coisas cabeludas que ela envia e recebe por email.
Mesmo assim publicamente ninguém admite e inclusive critica esse tipo de conteúdo. O resultado é que grupos conservadores, religiosos e políticos atrás de atenção fazem a festa. No Reino Unido principalmente, onde esses grupos conseguiram convencer o Governo dos males da internet, e como não há proteção constitucional para liberdade de expressão, a coisa ficou feia.
Um acordo com os provedores de internet instituiu um Filtro Oficial, que será automático para os novos usuários. Os antigos serão consultados durante o ano de 2014. Note: esse filtro não é no navegador, ocorre do lado do provedor, não há nada que você possa fazer (facilmente), se ele estiver acionado. Há três níveis de censura disponíveis.
O modo leve restringe pornografia, conteúdo obsceno e de “mau gosto”, discurso de ódio e auto-abuso, drogas, fumo, álcool e sites de namoro.
O moderado além desses bloqueia nudez, armas e violência, jogos de azar e redes sociais.
O modo severo também bloqueia sites de moda e beleza, compartilhamento de arquivos, jogos e streaming de mídia.
Não é mais fácil meter o alicate no cabo de rede e desconectar essas máquinas da Internet? Nas imortais palavras do filósofo Perry Cox:
“Tenho certeza de que se removerem todo o Pr0n da Internet, só sobrará um site, e ele será chamado ‘Traga o Pr0n de volta’”
A justificativa “pense nas criancinhas” funciona muito bem, costuma fazer as pessoas calarem a boca, mas ela é facilmente abusada, tanto que está sendo usada na Rússia para justificar uma criminosa campanha homofóbica governamental. O que ninguém pensa é que primeiro, é uma batalha perdida. Um grupo de políticos e burocratas versus o impulso libidinoso de milhões de adolescentes. Segundo, quem define o que é conteúdo impróprio?
Sites informando sobre anorexia muito provavelmente serão banidos junto com os que promovem a prática. O programa do Ali G dificilmente deixará de ser limado, por mais que seu discurso “pró-drogas” seja puramente cômico. E sites de moda? Desde quando moda é “errado”?
O internauta inglês estará acessando uma internet nos moldes da Chinesa, um subconjunto de algo muito maior, de onde foi removido todo e qualquer conteúdo que ofenda o Governo. Para sua própria proteção, cidadão.
E todos sabemos onde isso vai parar.
E caso você ainda ache válido, pois “protege as crianças”, só lamento que alguém perceba a internet como a nova babá eletrônica, complementando a televisão. É uma pena que o Governo tenha que criar os filhos de gente sem paciência pra ser pai.
Fonte: Telegraph.