Carlos Cardoso 10 anos atrás
Uma vez sugeri a uma médica fazer um blog comentando episódios de House, como o excelente Polite Dissent, onde o autor não só trata de medicina em seriados como em quadrinhos, mas sem a arrogância típica de quem não gosta. Ele é fã, mostra onde há erros, acertos e divaga até sobre a fisiologia do Flash.
Ela me explicou que não era uma boa idéia. Seu humilde bloguinho, onde comentava o cotidiano, falava de questões relacionadas a sua área havia sido flaggeado pelo Conselho, com direito a e-mail cheio de ameaças e regrinhas a cumprir. Não poderia nunca jamais consultar online, não poderia anunciar seus serviços, precisava postar dados reais, inclusive CRM e endereço, e por aí vai.
Por um lado soa exagero, por outro é uma medida preventiva para evitar charlatanismo, picaretagem e outros esquemas. Fazer um diagnóstico online na maioria dos casos beira a irresponsabilidade, exceto no caso de Lúpus. Há uma infinidade de detalhes e observações que um médico competente precisa ter acesso antes de dizer qual o problema do sujeito. E nem vou entrar na área psiquiátrica, mais complicada ainda.
Aí me vem uma tal de Doctors On Demand onde por US$ 40,00 você compra uma consulta de 15 min com um médico, via smartphone. Pode mandar fotos daquela pereba, explicar a tonteira e até descobrir que o inalador de asma não está funcionando pois você é um imbecil e aplica no pescoço, como desodorante (caso real, não foi só em House).
Na África há ONGs com programas semelhantes, mas lá enfermeiros e técnicos de saúde se comunicam com médicos treinados, e são a única opção daquela gente.
Trazer isso para o ocidente é algo que pode ser muito, muito perigoso. Mesmo assim a startup já conseguiu US$ 3 milhões de investimento, e está captando médicos, com a promessa de ganhos anuais de US$ 200 mil. Duvido. Vão faturar muito mais, pois o projeto prevê que eles prescrevam RECEITAS online.
Isso mesmo, Vicodin pra galera, e nem é da chinesa.
Felizmente isso não chegará aqui, onde por mais bagunça que seja, a comercialização da medicina não é o oba-oba dos EUA. Que venham os projetos sérios, como o do Hospital Israelita Albert Einstein, que em conjunto com o Ministério da Saúde tem um piloto onde especialistas orientam médicos de unidades menores e remotas.
Internet não é lugar para buscar diagnóstico, até porque, se você colocar seus sintomas no Google em 100% dos casos o diagnóstico será câncer.