Carlos Cardoso 15 anos atrás
Segundo uma pesquisa da Jupiter Research por volta de 2012 1,8 bilhões de pessoas estarão online. Os maiores responsáveis? China, Russia, India e Brazil. Levando-se em conta que 1/4 do mundo sequer tem acesso a eletricidade, são números impressionantes.
Isso quer dizer que viveremos uma linda utopia, todos ligados ao Google, combatendo tiranos, defendendo a Verdade, Justiça e o American Way?
Não, o super-homem não virá nos salvar, nem a Internet.
Inclusão digital não faz milagres. OK, o Brasil cresce muito nessa área, é excelente, mas apenas estar online não quer dizer nada. Qual a influência no cenário sócio-político-cultural brasileiro que tem a comunidade "Lindomar: o Sub-Zero brasileiro (Número de Membros: 240.000)" (fonte) E essa nem é das maiores.
Inclusão digital também não é acordar, correr pra favela, sair tirando foto de valão e mandar email pro Cesar Maia.
Toda vez que há a quebra de um paradigma tecnológico (céus, escrevi igual ao Negroponte) um bando de otimistas incuráveis (incuráveis mas não morrem. Bah) aponta AQUELA solução tecnológica como algo que iria nos levar à Utopia. Foi assim com a Televisão (que iria alfabetizar e ensinar o mundo), com o rádio, com a mídia de massa, com a impressão por tipos móveis, com os pergaminhos, com as tabuinhas de argila, com a invenção do número 1 (eu vi o especial do History Channel).
Principalmente esse 1/4 da população mundial estará online mas usará MAL esses recursos.
Há uma carência de cursos e treinamentos sobre PARA QUÊ usar o computador. TODO curso de "inclusão digital" ensina o pacotinho word/excel/explorer, ou OpenOffice/OpenExcel(whatever)/Firefox. Não é disso que as pessoas precisam.
Um curso muito mais eficiente seria um que mostrasse como identificar seus problemas do dia-a-dia, como pesquisar soluções, como interagir com gente com os mesmos problemas.
Ao invés de um sujeito ir a uma cidade perdida no interior do Acre (estou assumindo que o Acre existe. Há controvérsias) e doar um forno solar para uma comunidade carente, ao invés de outro sujeito aparecer e ensinar como criar sapatos de couro de piranha para exportação, não seria muito melhor ensinar a população a procurar por essas idéias?
Relação de dependência é a mesma, não importa se o sujeito depende do Governo ou depende do tio bonzinho da ONG. É ruim. Mais do que -citando a clássica frase- ensinar a pescar, temos que ensinar esse pessoal a QUERER APRENDER a pescar. Pode parecer simples, mas eu conheço MUITA gente que escova os dentes três vezes ao dia e não consegue fazer a ligação entre "tenho um problema" e "vou procurar na Internet". Imagine o pessoal que mal sabe que a Internet existe.
Fonte: ITNews