Carlos Cardoso 11 anos atrás
O melhor dessa notícia é que o estagiário do G1 vai tentar entender, e deduzirá que Júpiter fica a 1.200 km de distância da Terra. Será divertido, e renderá um post aqui, mas ele perderá a grande beleza da notícia, o que Arthur Clarke chamada de jogo de bilhar cósmico.
Em resumo, a sonda Juno irá explorar Júpiter mas tem um longo e tortuoso caminho pela frente.
Ao contrário dos filmes de ficção científica, onde salvo problemas menores (sorry, Aldeeran, too soon?) você chega a seu destino seguindo uma linha reta, lidar com navegação orbital é BEM complicado.
Imagine que você tem que ir de Belo Horizonte para o Rio. Idealmente pegaria uma estrada reta. Agora imagine que as duas cidades estão se movendo, uma a 30 km/s a outra a 13 km/s. Em um círculo (eu sei). Para chegar até o Rio você precisa desacelerar 17 km/s.
Só que a estrada é uma ladeira, se você desacelerar, desce de volta pra onde começou. Ou pior.
Ah, seu carro não tem freio. E a estrada TAMBÉM está se movendo, então você precisa desacelerar na hora certa, senão chegará onde o Rio estava meses atrás. E não dá para parar e ficar esperando ela passar de novo por ali.
Para piorar, seu combustível é limitado e não há postos no meio do caminho. Você precisa ir a maior parte do tempo na banguela, enquanto na estrada pensa nela.
Coloque isso em 3D e você tem um leve noção do que é chegar em Júpiter.
Como sai MUITO caro construir um foguete capaz de fazer essa manobra direto, os cientistas espaciais desenvolveram uma técnica de empuxo gravitacional, criada nos anos 60 e que permitiu que a Voyager 2, nos anos 1970 visitasse Júpiter, Saturno, Urano e Netuno usando praticamente nenhum combustível.
O truque é usar a gravidade de um planeta para acelerar a nave. Essencialmente depois que você é capturado no poço gravitacional do planeta, está caindo em direção a ele. Com isso ganha velocidade, e se o ângulo for correto, você erra a superfície, mas está tão rápido que a gravidade não consegue te puxar de volta.
Como nada no Universo é de graça, isso significa que o planeta perde energia, e gira mais devagar. É o que acontecerá com a Juno, em outubro. Lançada em 2011, a sonda de 4 toneladas levará 5 anos para chegar em Júpiter. Primeiro ela estabeleceu uma órbita alongada, pra lá de Marte. EM março, no apogeu da órbita executou uma manobra que a colocará raspando na Terra.
Aqui uma animação da manobra:
Neste momento, segundo o Twitter da sonda (adoro viver no Futuro) ela está a 55,31 milhões de quilômetros de nós. Ela literalmente cairá, acelerando dos 40 mil km/h atuais até nos raspar a uma altitude de 559 km. Ela ganhará um empurrão significativo, rumando então para Júpiter. Se tudo der certo, em 4/7/2016 ela entrará em órbita polar.
O mais distante que Júpiter fica da Terra são 928 milhões de km, mas como não pode ir em linha reta, Juno já marcou 1,4 bilhão de km no odômetro, e isso é metade do caminho. A única coisa boa da exploração espacial é o programa de milhagem.