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Boas novas: Descoberto planeta em órbita de Alfa-Centauro. Más notícias: É Apokolips

11 anos e meio atrás

Apokolips

A mídia está divulgando na maior animação a notícia, com certeza veremos no Fantástico gente discutindo se tem Mensalção em Alfa-Centauro, qual a moda-praia pro verão em Proxima Centauro e onde as celebridades estavam quando o planeta foi descoberto, mas por trás de todo esse hype, há ciência e ciência da boa envolvida.

Ontem foi anunciado um estudo, a ser publicado na Nature, onde astrônomos europeus, trabalhando com dados colhidos no observatório La Silla, no Chile, descobriram um planeta orbitando Alfa Centauro.

Isso por si só não é notícia, temos mais de 800 exoplanetas detectados, mas em sua grande maioria são gigantes gasosos. Planetas insignificantes como a Terra são muito, muito difíceis de identificar, dadas as distâncias envolvidas. Esse planeta forçou e ampliou os limites da tecnologia e matemática envolvidos.

Alfa Centauro é um sistema binário, composto de duas estrelas (DÃÂÂ^), Alfa Centauro A e Alfa Centauro B. Existe uma terceira, Proxima Centauro, mas é uma ridícula anã-vermelha e ninguém dá bola pra ela.

O sistema é o mais próximo do Sol, ficam a meros 4,3 anos-luz da Terra. 1,3 Parsecs, pra quem usa medida de tempo de Star Wars.

 

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Em 2008 um estudo concluiu que Alfa Centauro DEVERIA ter planetas, mas há uma enorme diferença entre uma conclusão teórica e uma comprovação por experimentação, e Richard Feynman já dizia que ciência sem experimentação é contabilidade.

A experimentação veio, mas foi complicada. Se em Jornada nas Estrelas ninguém se atreve a identificar planetas de tão longe, imagine nós, no selvagem Século XXI, com ferramentas pouco melhores que barro fofo e pedra lascada.

Um planeta do tamanho da Terra é pequeno demais para ser observado diretamente, a 4 anos-luz de distância, mas há outros métodos. No caso, tiveram que descartar as variações no brilho da estrela causadas pela passagem do planeta. Os modelos previam corpos muito pequenos, seria uma variação indetectável. MAS… haverá outra influência mensurável?

Sim! Outra força fundamental do Universo: Gravidade. Um planeta não é puxado por sua estrela, os dois são puxados para um ponto em comum, mas como o planeta é muito menor, o ponto em comum fica bem próximo do centro da estrela, dando a impressão de que a gravidade funciona em mão-única, mas é um caso clássico de ação e reação.

Por isso um planeta orbitando uma estrela causa variações na velocidade com que essa estrela se desloca pelo universo. Isso seria fácil de detectar se tivéssemos detectores de gravidade, mas ainda não temos. Como proceder então?

Efeito Doppler

Definido em 1842 por Christian Doppler, é a alteração de frequência de uma onda, sonora ou luminosa, causada pela velocidade com que o observador se move em relação ao emissor (ou vice-versa). É o efeito que torna sirenes mais agudas quando o carro vem em nossa direção, e graves quando vão embora.

Graças ao efeito Doppler conseguimos detectar o desvio para o vermelho, presente no espectro eletromagnético de vários objetos celestes, e determinar a expansão do Universo.

No caso foi observado, em um período de 4 anos, o espectro de Alfa Centauro B, tentando identificar variações que indicassem mudanças de velocidade da estrela. Os resultados foram impressionantes.

Apesar de todo o ruído (inclusive causado pela estrela vizinha) foi detectada uma variação de frequência, com direito a período orbital, e aí é só calcular e deduzir os outros elementos do quebra-cabeças.

O resultado foi um planeta com massa de 1,13 vezes a da Terra, órbita de 3,23 dias e a meros 6 milhões de quilômetros da estrela.

Seria totalmente impossível uma observação direta, o planeta seria totalmente ofuscado, mas essa proximidade fez com que seu efeito gravitacional fosse grande o bastante para medirmos.

Quão grande?

Aqui entra a precisão que falei. A aceleração de Alfa Centauro B, causada pelo planeta é de menos de meio metro por segundo.

De novo: Nós conseguimos identificar, a 4 anos-luz de distância. uma mudança de velocidade em uma estrela equivalente a um bebê engatinhando.

E nós com isso?

Já tem gente fazendo as malas, manchetes como a da Folha, “Pesquisadores encontram planeta vizinho que é gêmeo da Terra” também não ajudam. Mercúrio está a 60 milhões de Km do Sol e já enfrenta temperaturas diurnas de 462°C.  O planeta descoberto, Alfa Centauri Bb (como é conhecido provisoriamente)  tem temperatura superficial de mais de 1200°C. Isso derrete até coração de ex-esposa.

Então, qual a importância, se não podemos construir uma base lá?

A importância, pequeno gafanhoto, é que até pouco tempo atrás não tínhamos sequer provas da existência de outros planetas fora do Sistema Solar. Eu sei, é bom-senso, o Universo faz mais sentido se existirem, mas ´ciência não se baseia em achismo e desejos, isso se chama religião. Trabalha-se com possibilidades, até comprovação via experimentação.

Estatisticamente faz sentido haver mais corpos pequenos do que grandes, mas eles eram difíceis de detectar. Ao achar um aqui do lado, no sistema vizinho, percebemos que sim, planetas rochosos são comuns, e é só questão de tempo acharmos a combinação ideal: Um planeta rochoso, com água, na chamada Zona dos Cachinhos Dourados, a região em torno de uma estrela onde um planeta pode ter água em estado líquido.

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Essa descoberta vai irritar muita gente que gosta de considerar a Terra o centro do Universo e a Humanidade o Povo Escolhido, mas em compensação irá inspirar muita gente, inclusive o primeiro humano a pisar em Marte, que muito provavelmente já nasceu.

Na última história do Calvin ele diz que é um dia cheio de possibilidades, que “É um mundo mágico, Haroldo velho amigo, vamos explorá-lo”. Vivemos em um Universo mágico, cheio de possibilidades, e agora que sabemos que planetas rochosos são, nosso Império Galáctico não é questão se se, mas de quando.

Fonte: BA

Telas: Exoplanets, App para iPad

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