Carlos Cardoso 10 anos e meio atrás
Acho que essa é a pedra que mais cantei até hoje, a mais óbvia e a que mais foi negada por todo mundo da Microsoft, mas agora já era, a Fase 2 do Plano de Conquista Mundial deles saiu do armário:
Eu sempre defendi que o XBox nunca foi um videogame, era um grande cavalo de Tróia para colocar um computador na sala das pessoas. E esse computador por sua vez é só uma forma de canalizar conteúdo, e consequentemente, publicidade. Sim, o mesmo que a TV faz faz tempo (que construção horrível).
Com o passar dos anos a XBox Live deixou de ser uma simples rede para jogos multiplayer e se tornou uma central de chats, entretenimento e comunicação, com redes sociais, Netflix, Hulu, ESPN e vários outros serviços. O usuário médio de XBox passa mais da metade do tempo gasto no console consumindo vídeos e músicas, jogos já são a menor parte do uso do… console.
Só que desse conteúdo, a presença da Microsoft na geração é mínima.
Sempre foi filosofia contratar conteúdo de fora, mas isso estava se tornando commodity. Se todo mundo tem uma série não adianta você ter. Por isso a Netflix teve a feliz idéia de pegar séries canceladas, como Arrested Development, e produzir novas temporadas.
A Microsoft, que não é boba, quer produzir o próprio material, e para isso está montando um estúdio em Los Angeles. Para chefiar, como Presidente de Entretenimento e Mídia Online, chamou nada menos que Nancy Tellem, que ocupou cargo semelhante de 1998 a 2009 na CBS.
Diz ela que vão produzir conteúdo interativo e linear, o que significa que teremos aquelas bobagens de “escolha sua história” e séries de verdade.
Isso, meus caros, é MUITO BOM. Os motivos são vários:
A taxa de desemprego entre atores de Hollywood fica na casa de 90%. Pessoal técnico tem mais trabalho mas não muito mais. As produções de TV por assinatura e vídeos direto pra DVD deram uma boa aliviada, mas uma nova janela de distribuição como o Xbox significa 40 milhões de espectadores em potencial. Na verdade mais, imaginando que o sujeito não vai assistir sozinho. Isso viabiliza qualquer Game of Thrones da vida. Que dirá um Community, que é mais baratinho.
É um inferno trabalhar com o modelo atual, onde há toda uma barreira de licenças entre países e mercados. Se a produção não for veiculada nos meios tradicionais, se livra disso tudo. O tempo de passar no Brasil é o tempo de dublar ou legendar. Em termos de agilidade, isso é décadas adiante do que se tem.
Os índices Nielsen são uma aberração. São 20 mil residências que decidem o que 116 milhões de outras casas estão assistindo, e assim enterram ou glorificam um programa. Até o advento da Internet não havia outro jeito de medir o retorno de um programa. Também não adiantam muito pesquisas de opinião, painéis, só passam uma idéia aproximada e atrasada.
Em um serviço online, como o XBox Live ou o Netflix é possível saber exatamente quais assinantes estão assistindo quais programas, por quanto tempo, e até mesmo quantos twits o sujeito enviou durante o programa. Cruzando os dados demográficos de assinatura da Live, consegue-se um perfil incrivelmente preciso do espectador. Isso vale ouro.
Existem séries excelentes que apelam para um público limitado. Pushing Daisies, Arrested Development, Caprica, The Middleman, todas elas poderiam ter longas e felizes temporadas, mas não conseguem espaço nas TVs convencionais, o público é disperso demais. Numa Live da vida teriam menos, porém melhores espectadores.
Nancy ainda está montando a equipe, mas já falou que que produzir conteúdo premium, pra concorrer com tudo que as emissoras “de verdade” estão passando. Assim espero. É muito triste ver séries morrerem na mão de um público médio que de forma alguma represente o target daquele conteúdo.
Fonte: LA Times