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A era do usuário acabou

12 anos atrás

Durante algumas décadas, o papel das pessoas em relação à tecnologia era bem definido. Havia os que ensinavam, e havia os que usavam. Era muito clara a diferença entre quem "sabia mexer com computador" e quem jogava paciência enquanto escutava a novela. Hoje em dia, esses dois personagens praticamente se fundiram. Ainda há uma diferença importante entre quem ganha a vida com tecnologia e quem apenas absorve a tecnologia em seu dia-a-dia, mas essa diferença é cada vez menor.

Não há mais espaço para usuários leigos atualmente, com o perdão do pleonasmo. A tecnologia está incrustada em nossas vidas, ao ponto de ser inevitável utilizá-la nas mais diversas situações. Ninguém é obrigado a virar geek do dia para a noite, mas é importante ter interesse em aprender e dominar o manuseio de equipamentos, softwares e sistemas que somos obrigados a operar atualmente.

O primeiro grande obstáculo surge quando uma mudança de paradigma é exigida. Tirar um usuário da sua zona de conforto é uma tarefa dificílima. Ninguém tem um interesse real em mudar algo que aparentemente funciona muito bem, mesmo que a novidade funcione melhor. Nós precisamos de segurança para viver, mesmo que essa tranquilidade demande mais tempo para executar tarefas bobas. Tempo, esse, que poderia ser usado para lazer. Cabe aos early adopters a tarefa de enfrentar e apostar nas novidades, possibilitando assim que milhões usufruam destas adiante.

Diante de todo esse avanço, a forma como utilizamos e de que maneira essas tecnologias impactam nossas vidas vai mudando rapidamente. Qual foi a última vez que você foi até sua agência bancária por vontade própria? É muito mais cômodo pagar contas, fazer transferências ou checar o saldo deitado na cama, ou enquanto espera sua vez no caixa do supermercado. Supermercado esse que receberá o pagamento através de um pedaço de plástico com um chip de segurança.

Chegamos ao ponto principal desse artigo: segurança. Praticamente na mesma velocidade com que as tecnologias evoluem, maneiras de fraudar, manipular, adulterar e roubar dados, informações e dinheiro surgem a cada dia. E é preocupante que os usuários, maiores vítimas dos facínoras digitais sejam tão avessos aos métodos criados para garantir a integridade de sua vida digital. Entre as reclamações mais comuns:

- Odeio ter que colocar uma senha muito difícil;

- Detesto captcha;

- Odeio esse módulo de segurança do banco;

- Que saco ter que usar esse token; Entre outras.

Constantemente, os usuários questionam o nível de segurança de sites, senhas, bancos, serviços, redes sociais. Mas a necessidade de conforto urra a todo momento em que engenheiros de sistemas desenvolvem algoritmos e ferramentas para aumentar a segurança dessas informações (e desse dinheiro). A qualquer sinal de atualização, modificação, exigência de uma nova senha, toda a sorte de reclamações é proferida amaldiçoando empresas e instituições. As pessoas querem segurança, mas não querem lidar com ela. De alguma forma mágica, sistemas devem instantaneamente tornar-se seguros e de forma transparente. De fato, seria lindo, mas enquanto houver humanos envolvidos no processo, a realidade é outra.

O cenário é bem parecido com o de um motoqueiro que compra uma linda e veloz moto, mas reclama de usar o capacete. Não preciso dizer o que acontece se ele cair a 160km/h. Não há mais espaço para usuários. Você tem obrigação consigo mesmo de dominar as tecnologias que utiliza, pelo bem das suas informações, apesar disso não significar que você deve tornar-se um gadget freak.

Se eu tenho esperanças de que esse cenário mude num futuro próximo? Quase nenhuma. A humanidade evolui de uma forma muito estranha. Chegamos ao blu-ray sem saber sequer programar o relógio do video-cassete.

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