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Concord, Foamstars, e a lição dos GaaS bem-sucedidos

Fiasco de Concord e conversão de Foamstars em um game free-to-play mostram que emplacar um Jogo Como um Serviço (GaaS) não é nada simples

04/09/2024 às 10:26

A Sony foi forçada a reconhecer que Concord, hero shooter e game de estreia da Firewalk Studios, foi um fracasso retumbante.

Nesta terça-feira (3), o diretor do game Ryan Ellis, ex-Bungie, anunciou que as vendas foram paralisadas, todos os que o adquiriram terão direito a reembolso, e seus servidores serão fechados no dia 6 de setembro de 2024.

Concord: 8 anos de desenvolvimento, US$ 100 milhões investidos, fracasso de público, fechado após 11 dias (Crédito: Reprodução/Firewalk Studios/Sony Interactive Entertainment)

Concord: 8 anos de desenvolvimento, US$ 100 milhões investidos, fracasso de público, fechado após 11 dias (Crédito: Reprodução/Firewalk Studios/Sony Interactive Entertainment)

Com isso, Concord ficará no ar por míseros 11 dias, uma marca negativa impressionante, mas que ainda não supera o fiasco do MMO de sobrevivência The Day Before, encerrado 4 dias após o lançamento, com direito ao fechamento da desenvolvedora Fntastic, e acusações graves dos desenvolvedores sobre condições de trabalho insalubres.

Concord: Sony tentou tirar mais grana do GaaS

O caso de Concord é didático, como uma coleção de decisões erradas sobre como introduzir um novo Jogo Como um Serviço. Os primeiros esboços do título teriam sido estabelecidos em 2016, dois anos antes da Firewalk Studios se estabelecer, quando o desenvolvimento ativo começou. A Sony comprou o estúdio em 2023, e teria injetado em torno de US$ 100 milhões no desenvolvimento.

Aqui começaram as ideias ruins. Concord foi posicionado como o primeiro título de uma nova empreitada (cuidado, PDF) da Sony Interactive Entertainment (SIE), anunciada em 2022 pelo presidente Jim Ryan, durante apresentação direcionada a investidores, que consiste em lançar 12 GaaS desenvolvidos por seus estúdios internos, até o fim do ano fiscal de 2025, que se encerra em 31 de março de 2026.

Em novembro de 2023, porém, Hiroki Totoki, presidente da Sony, admitiu que a marca era irreal e a revisou, reduzindo para 6 GaaS dentro do mesmo período; os demais games teriam sido postergados, não cancelados, enquanto os mais adiantados seriam priorizados.

Concord era o primeiro da fila, mas a Sony decidiu abraçar a mesma estratégia que a Bungie usa com Destiny 2, ignorando ser esta uma marca há muito estabelecida: o game da Firewalk Studios foi colocado à venda por US$ 40, tática também adotada por dois outros GaaS que também não tiveram vida fácil, Marvel's Avengers e Suicide Squad: Kill the Justice League, embora estes tenham sido vendidos por preços cheios (US$ 60/US$ 70).

Concord (Crédito: Divulgação/Firewalk Studios/Sony Interactive Entertainment)

Concord (Crédito: Divulgação/Firewalk Studios/Sony Interactive Entertainment)

Assim como aconteceu com os dois games estrelados por personagens de HQs da Marvel e DC, Concord não foi bem recebido pelo público, principalmente por ser um GaaS com preço de venda caro, mas, ao mesmo tempo, títulos como Destiny 2 e Helldivers 2 mostram que é possível usar tal tática nesse cenário e ser bem-sucedido. Em geral, a Sony teria investido muito pouco no marketing do game, e principalmente, Concord é genérico e não se destaca perto dos rivais.

Por outro lado, a exclusividade de Helldivers 2 mostra que a estratégia de não abraçar inicialmente o free-to-play pode ser uma imposição da Sony, que os desenvolvedores são obrigados a aceitar; outro exemplo disso é o game que falaremos a seguir.

Foamstars, Splatoon, Midjourney, e F2P

Desenvolvido pela Square Enix, Foamstars é um shooter em que os participantes atiram uns nos outros com armas de espuma. O game foi lançado em fevereiro de 2024 para o PS5 e PS4, também como um GaaS premium, mas diferente de Concord e Helldivers 2, ele foi oferecido "de graça" aos assinantes da PS+. Embora colorido e visualmente original, ele foi acusado de copiar as ideias principais e mecânicas da franquia Splatoon, da Nintendo, e de fato, os títulos são bem parecidos.

A Square Enix, que não têm um pingo de Simancol, ficou realmente incomodada com as comparações, e indiretamente disse aos fãs para pararem com isso, similar ao que aconteceu quando Stranger of Paradise: Final Fantasy Origin virou um "meme do caos". Para piorar a situação, a empresa admitiu que parte da arte do game foi criada usando o Midjourney, software de criação de imagens via Inteligência Artificial (IA), o que foi entendido como a Square Enix preferindo economizar ao invés de contratar artistas de verdade.

Como resultado, a base instalada de jogadores de Foamstars era praticamente nula, mesmo entre os que tiveram acesso ao game pela PS+, e o título ser apinhado de microtransações só piorou as coisas. Como consequência, a Square Enix jogou a toalha e converterá o título em um F2P, e deixará de exigir a assinatura da PS+ para jogá-lo, na esperança de atrair público.

As mudanças entrarão em vigor no dia 4 de outubro de 2024.

"Cópia" de Splatoon e uso do Midjourney afugentou jogadores de Foamstars (Crédito: Divulgação/Square Enix)

"Cópia" de Splatoon e uso do Midjourney afugentou jogadores de Foamstars (Crédito: Divulgação/Square Enix)

Lições aprendidas... ou não

Como citado antes, Marvel's Avengers e Suicide Squad: Kill the Justice League, mesmo sendo baseados em franquias de sucesso, também não agradaram os jogadores, que não gostaram da ideia de ter que abrir a carteira para comprar ambos títulos, e gastar mais para adquirir itens dentro deles, sejam eles cosméticos ou que forneçam alguma vantagem.

Em geral, o público prefere a abordagem de jogo gratuito com microtransações, que a Blizzard adotou (mal e porcamente no início, depois foi ajustando) para Overwatch 2, e implementada desde o início em outros como Apex Legends; o caso de Fortnite é diferente, o modo Battle Royale gratuito foi introduzido pela Epic Games após o naufrágio do formato original, hoje o modo Salve o Mundo, que era e ainda é pago.

Olhando para fora dos shooters, é impossível não citar o exemplo da miHoYo, uma das desenvolvedoras que mais lucra no mercado de gacha games todos os meses, com seus três títulos principais, Genshin Impact, Honkai: Star Rail, e o mais recente Zenless Zone Zero, onde todos são gratuitos, mas faturam horrores com quem deseja principalmente colecionar personagens.

Voltando aos shooters, estúdios e distribuidores estão começando a entender que não adianta reinventar a roda, o público não se sentirá propenso a investir muita grana em um título pago que constantemente o atormentará para gastar mais, se a experiência não for minimamente satisfatória (de novo, Destiny 2 e Helldivers 2). Um bom exemplo é a NetEase, que lançará em dezembro de 2024 Marvel Rivals, um hero shooter em terceira pessoa similar a Overwatch 2, mas free-to-play e com acesso liberado a todos os heróis, desde o início.

Marvel Rivals: free-to-play e todos os heróis liberados, desde o início (Crédito: Divulgação/NetEase Games/Marvel Games/Disney)

Marvel Rivals: free-to-play e todos os heróis liberados, desde o início (Crédito: Divulgação/NetEase Games/Marvel Games/Disney)

Quanto à Sony, espera-se que o fiasco de Concord, que voltará à prancheta antes de ser relançado sabe-se lá quando (se o for), tenha feito a gigante entender que emplacar um novo Jogo Como um Serviço não se resume à estratégia "se construir, eles virão", e é preciso muito mais poder de convencimento para fazê-lo cobrando preço premium.

Claro, há a possibilidade dos japoneses não tirarem nada de proveito dessa situação, nesse caso, nos restará aguardar pela próxima tentativa da companhia, e mais uma vez apontar os erros quando seu próximo GaaS também naufragar.

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