Meio Bit » Engenharia » NASA: cápsula Crew Dragon é opção à Starliner [UPDATE]

NASA: cápsula Crew Dragon é opção à Starliner [UPDATE]

NASA considera "todas as opções possíveis" para trazer astronautas de volta, cápsula Dragon inclusa, mas Starliner ainda é a primeira da lista

05/08/2024 às 10:50

Atualização: provando que "nada está tão ruim que não pode piorar", a NASA estaria agora considerando trazer os astronautas de volta... em fevereiro de 2025.

Sim, piora mais: a Boeing, sabe-se lá por quê, REMOVEU o software de desacoplagem da Starliner, que não é capaz de voltar à Terra sozinha.

Para completar, a missão Crew-9 deverá ser adiada, até que o problema seja resolvido, ou tenham uma solução para ele.

O texto foi atualizado.


Sessenta e um dias. Este é o tempo que a CST-100 Starliner está acoplada à Estação Espacial Internacional (ISS), até a data de publicação deste artigo. A NASA, a agência espacial norte-americana, precisa trazer de volta e com segurança os astronautas Butch Wilmore e Suni Williams, e está considerando "todas as opções possíveis" para fazê-lo.

Embora a NASA tenha adotado a estratégia this is fine, ao insistir que a cápsula da Boeing, mesmo com o vazamento incessante de Hélio e os problemas nos propulsores de manobra, é a opção prioritária para o retorno tripulado, a agência tem, sim, um plano de contingência que visa usar a Crew Dragon.

Cápsula Boeing CST-100 Starliner acoplada à Estação Espacial Internacional, em foto de 13 de junho de 2024 (Crédito: Divulgação/NASA)

Cápsula Boeing CST-100 Starliner acoplada à Estação Espacial Internacional, em foto de 13 de junho de 2024 (Crédito: Divulgação/NASA)

O problema: trazer os astronautas de volta à Terra na cápsula da SpaceX significaria o fim do programa Starliner, o que deixaria a companhia do bilionário Elon Musk sem concorrência no Programa de Tripulações Comerciais (CCP), uma possibilidade que o Congresso dos Estados Unidos abomina desde o início.

NASA (finalmente) lista SpaceX como opção

Estabelecido em 2011, o CCP é voltado ao transporte de carga e astronautas a destinos em órbita baixa (LEO), como a ISS, mas o projeto só saiu do papel quando a Boeing entrou na concorrência. Enquanto a SpaceX era a única inscrita, o Congresso era absolutamente contra conceder a Musk o controle do projeto.

O ex-astronauta Charles Bolden, na época diretor da NASA, revelou posteriormente que "ninguém no Capitólio" (Senado e Câmara dos Representantes) gosta da empresa, e consequentemente do bilionário, que para os políticos dos EUA, "chegou por último na festa e quer sentar na janela".

A Boeing, embora também seja uma companhia privada, trabalha com mais proximidade aos legisladores, aceitando contratos tradicionais que concedem ao Congresso o controle dos foguetes e cápsulas, como o SLS. O CCP, por sua vez, é uma parceria público-privada, a companhia tem autonomia para construir onde e como quiser, desde que siga as diretrizes, e cumpra todos os regulamentos.

Com a entrada da Boeing no CCP, o projeto para as cápsulas Starliner e Crew Dragon foi aprovado, onde a parceira de longa data recebeu bem mais grana, para responder por menos lançamentos que a SpaceX, o que elevou em muito o custo de cada missão. Ainda assim a empresa se enrolou por anos, com direito a uma cápsula perdida no primeiro teste, peças que se soltam no transporte, e rusgas com a Rocketdyne, pela responsabilidade nas falhas em válvulas de combustível, com uma apontando o dedo para a outra.

Nesse meio tempo, a SpaceX concluiu a Dragon e fez seu primeiro teste em 2020, tão bem-sucedido que a NASA reviu seus planos originais, e autorizou a reutilização desta e dos foguetes Falcon 9; o plano original era seguir o procedimento padrão e descartar tudo a cada missão, mesmo com Musk e Gwynne Shotwell, presidente e COO da SpaceX, garantindo que a plataforma era 100% segura e confiável.

Já a Starliner continuava patinando. Em maio de 2022, durante um teste de aproximação, alguns dos propulsores de manobra, usados para ajustar a aproximação da cápsula em relação à ISS, deram pau, o que a Boeing afirmou na época ter resolvido com um procedimento de correção durante a missão, e que o problema não deveria voltar a ocorrer.

O primeiro teste tripulado foi adiado várias vezes, devido a um problema não relacionado com o foguete Atlas V, que a United Launch Alliance (ULA) resolveu em dois tempos, e um vazamento persistente de Hélio, usado na despressurização da cápsula, que a Boeing não conseguiu resolver. No dia 30 de maio de 2024, 5 dos 28 propulsores de manobra voltaram a dar pau durante um teste de ignição, o que foi de novo "resolvido" com um reset, com apenas um não voltando a funcionar.

No fim, a empresa e a NASA concluíram que estava tudo bem, e na base do "vai assim mesmo", a missão foi lançada no dia 5 de junho de 2024. Claro, deu zica.

Foguete Atlas V e cápsula Starliner partem em direção à ISS (Crédito: AFP)

Foguete Atlas V e cápsula Starliner partem em direção à ISS (Crédito: AFP)

Na primeira tentativa de acoplagem, de novo 5 dos 28 propulsores de manobra falharam, fazendo com que os astronautas aguardassem uma segunda janela de oportunidade, às 14:34 do dia 6 de junho, com Wilmore tendo que recorrer ao controle manual.

O vazamento de Hélio, que NASA e Boeing classificaram como "gerenciável", piorou, com a agência tendo detectado mais dois pontos durante a ascensão, e outros dois após a acoplagem. Assim, a Starliner ttem cinco "buracos" vazando gás constantemente, o problema não foi sanado e nem será.

O que a maioria dos especialistas e parte da imprensa não consegue entender, é como a NASA, uma agência completamente paranoica com regulações, redundâncias e controle de qualidade, que implica com tudo que venha da SpaceX, até se Musk espirrar ou apertar um cigarrinho de artista, venha passando a mão na cabeça da Boeing, e insiste que "tudo está bem", quando claramente não está; a missão deveria durar uma semana, mas se arrasta por dois meses, e ainda não há uma data fixa para o retorno dos astronautas.

Em coletivas, a NASA bate o pé e garante que está tudo sob controle, que o Wilmore e Williams não estão ilhados na ISS, que a Starliner é perfeitamente segura para retornar à Terra com os astronautas, e que o Hélio restante é mais do que o suficiente. Na última, Steve Stich, diretor do CCP, disse que "a prioridade é completar a missão", ou seja, seguir com o planejado originalmente.

Porém, fontes internas revelaram ao site Ars Technica que a NASA e a Boeing teriam aceitado que a melhor alternativa é contar com um plano reserva, no que a SpaceX teria sido incumbida de desenvolver um procedimento para que Wilmore e Williamss voltem à Terra em uma Crew Dragon.

Segundo uma fonte, as chances de que a NASA recorra à Dragon agora seriam de 50%, outra diz que a porcentagem é ainda maior, mas oficialmente a agência ainda não tomou uma decisão final, que deverá ser anunciada ainda nesta semana pelo co-administrador James "Jim" Free. Se a SpaceX for incumbida de trazer os astronautas de volta, a missão Crew-9, que deve subir dia 18 de agosto (a data pode ser alterada), levaria trajes adequados para Williams e Wilmore, que a companhia já teria separado.

Assim, os astronautas voltariam na cápsula Crew-9, ou na Crew-8, que subiu com quatro tripulantes em 4 de março, entre eles a engenheira aeroespacial Jeanette Epps. Em tese, a Dragon tem espaço para mais do que quatro tripulantes, mas a Crew-9 poderia ser lançada com apenas dois, abrindo espaço sem que haja necessidade de mover as coisas de lugar da configuração atual.

Usar a Crew Dragon seria trivial, mas ato assinaria a sentença de morte da Starliner (Crédito: NASA)

Usar a Crew Dragon seria trivial, mas ato assinaria a sentença de morte da Starliner (Crédito: NASA)

O que se sabe, é que no dia 14 de julho de 2024, a NASA alocou US$ 266.678 para a SpaceX desenvolver um "estudo especial para uma resposta de emergência", que agência JURA não estar relacionado com os problemas da Starliner, mas fontes internas dizem o contrário. O objetivo, que "oficialmente" seria uma resposta ao problema de vazamento com a Soyuz MS-22, seria descobrir se é possível lançar uma Dragon com capacidade para seis tripulantes.

Porém, mesmo que a NASA opte pela Crew Dragon, isso geraria outro problema.

Fim da Starliner? Não tão rápido

Como dito antes, a entrada da Boeing no CCP viabilizou o plano, e uma missão de retorno com os astronautas voltando à Terra na Crew Dragon significaria o fim do programa Starliner, que se provaria um fracasso completo, e um desperdício de bilhões de dólares dos contribuintes. Isso é algo que o Congresso não permitirá que aconteça, tanto pelo impacto negativo, quanto para não dar mais espaço a Elon Musk e à SpaceX.

Fontes internas argumentam que discussões na NASA estão divididas, há grupos que acham melhor fechar com a Crew Dragon, de modo a priorizar a segurança de Wilmore e Williams, enquanto outros defendem a Starliner, que mesmo com todos os problemas, seria capaz de trazer os astronautas de volta.

O grande problema de fechar com a Boeing, é se houver outro problema com a cápsula durante o retorno, chegando ao ponto de comprometer a segurança da tripulação, o pior cenário possível, e ninguém quer outra situação a lá Apollo 13. O argumento a favor da Crew Dragon, é que se há qualquer dúvida a respeito da confiabilidade da Starliner, ela não deveria ser usada.

Ah sim, a Starliner não tem software para realizar uma desacoplagen e reentrada de forma remota, ou seja, só pode ser operada no manual. A Boeing diz que está trabalhando um uma atualização.

É bom lembrar que a SpaceX já foi posta de castigo por problemas muito menores do que o atual da Boeing.

Boeing viabilizou Programa de Tripulações Comerciais; NASA vai tentar salvar a Starliner a todo custo (Crédito: United Launch Alliance)

Boeing viabilizou Programa de Tripulações Comerciais; NASA vai tentar salvar a Starliner a todo custo (Crédito: United Launch Alliance)

De qualquer forma, a novela da Boeing deve acabar em algum momento; só nos resta esperar para descobrir qual vai ser a decisão da NASA, se a Crew Dragon será usada, ou se vão entubar a Starliner de qualquer jeito.

Fonte: Ars Technica

Leia mais sobre: , , , .

relacionados


Comentários