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Rad Racer — A estelar rodovia de Nasir Gebelli

Rad Racer foi um impressionante jogo de corrida lançado pela Square e que mostrou toda a genialidade do seu programador, Nasir Gebelli

17/07/2024 às 11:55

Hironobu Sakaguchi marcou seu nome na história com a série Final Fantasy, mas antes mesmo de se dedicar ao jogo que daria origem a uma das franquias mais bem sucedidas de todos os tempos, ele esteve envolvido em um projeto muito diferente. Rad Racer — ou como era conhecido no Japão, Highway Star — foi um jogo de corrida impressionante, que nasceu do talento de um programador iraniano.

Rad Racer

Crédito: Reprodução/Youtube

Morando nos Estados Unidos para fugir da Revolução Iraniana, algo que só foi possível devido à relação da sua família com a realeza daquele país, Nasir Gebelli estudava ciência da computação e adorava os jogos lançados na Era de Ouro dos Fliperamas. Aquilo o levou a aprender a programar e certo dia, ao demonstrar um programa para slide shows que havia criado, chamou a atenção do dono de uma loja.

O proprietário daquele estabelecimento era Jerry Jewell, que na época estada fundando uma desenvolvedora com Terry Bradley e fascinado pela capacidade do garoto, o convidou a trabalhar na Sirius Software. Na empresa, o iraniano ficaria responsável por programar jogos para o Apple II e seu primeiro trabalho seria o Both Barrels, jogo ambientado no Velho Oeste e funcionava de maneira parecida com o Duck Hunt.

Desenvolvendo quase todo o código mentalmente, Gebelli corria para o computador para escrever o que havia mentalizado, para não esquecer os detalhes e assim, em apenas um ano ele programou 12 jogos. Logo ele começou a se destacar, com várias das suas criações figurando entre os 30 títulos mais vendidos de 1981 e a revista Electronic Game já o tratava como “ace designer Nasir”.

Crédito: Reprodução/John Romero/X

Já no ano seguinte o programador fundou sua própria desenvolvedora, a Gebelli Software, mas apesar dos elogios continuarem chegando, a empresa não conseguiu se sustentar e com o Crash dos Games em 1983, ele se viu obrigado a fechar as portas. Parecia o fim de uma carreira muito promissora, já que o programador resolveu sair de férias e conhecer o mundo.

O interesse do iraniano pelos videogames só retornaria em 1986, quando após encontrar seu amigo e fundador da Broderbund, Doug Carlston, este o falou sobre o surgimento de uma nova febre, um videogame fabricado por uma empresa japonesa e conhecido como Nintendo Entertainment System. Ele gostou do que viu e embarcou numa viagem para conhecer a sede da Square, onde se encontrou com o fundador e presidente do estúdio, Masafumi Miyamoto.

Pois aquela reunião mudaria o mundo dos videogames. Nela estava um programador e admirador de Gebelli, um jovem que ficou empolgado por conhecer alguém que se destacava principalmente pelos simuladores espaciais de combate que produziu para o Apple II. “Eu era um grande fã dele,” declarou Hironobu Sakaguchi. “Quando o presidente o contratou para a empresa, pensei, ‘Uau, é o Nasir, me deixe pegar seu autógrafo!’”

A habilidade do iraniano em programar para 3D precisava ser aproveitada pela Square e assim, Miyamoto pediu que seus comandados produzissem algo que aproveitasse os óculos 3D disponíveis para o NES japonês. Seria apenas a segunda vez que o estúdio criaria para a tecnologia, a outra foi com o The 3-D Battles of WorldRunner, também programado por Nasir Gebelli. Mas daquela vez o foco estaria em um jogo de corrida.

O Famicom teve um óculos 3D (Crédito: Reprodução/Evan-Amos/Wikimedia Commons)

Dedicado a descobrir como o cenário de fundo se moveria, o iraniano permaneceu no Japão, mesmo com o resto da equipe tendo partido para o Hawaii para tirar férias. De qualquer forma, o trabalho teria que ser feito apenas por ele, já que dois programadores deixaram a Square após a sua contratação.

Contudo, isso não significa que Nasir faria tudo sozinho. Para lhe ajudar na criação do Rad Racer ele contaria com o ajuda de Takashi Tokita, Hiromichi Tanaka e da artista Kazuko Shibuya. Depois outros nomes entrariam para equipe, como o próprio Hironobu Sakaguchi e Akitoshi Kawazu, o que poderia ter causado um grande impacto em um projeto que se mostraria muito mais importante para a Square.

Acontece que deveria caber a Sakaguchi iniciar o desenvolvimento de um RPG para competir com o Dragon Quest, mas devido sua dedicação àquele jogo de corrida, o planejamento seria dado a Koichi Ishii. Foi dele a implementação de conceitos como a utilização de elementos (fogo, água, vento, etc.), a visão lateral para as batalhas e a sensação de tridimensionalidade no mapa-mundo, por exemplo.

Rad Racer

Crédito: Reprodução/Youtube

Quanto ao Rad Racer, o maior desafio encontrado por Gebelli foi simular a maneira como a estrada se moveria e se não fosse pela sua capacidade de programação, talvez o jogo nunca tivesse sido criado. A solução foi desenhar o visual não usando sprites, mas linha por linha, o que lhe exigiu memorizar as instruções passada pela artista sobre como as corridas deveriam parecer.

Assim, decorando cada cor e quantos pixels as linhas deveriam ter, ele conseguiu passar a sensação de tudo correr em três dimensões, um feito impressionante se considerarmos a capacidade de processamento de um Nintendinho. Para dificultar ainda mais o trabalho, a Square teria que criar seis versões do Rad Racer, devido o sistema 3D do Famicom, as televisões normais e os países que adotaram o padrão PAL.

Então, quando em agosto de 1987 o Highway Star chegou às lojas japonesas, muitas pessoas ficaram de queixo caído. Entregando uma sensação de velocidade altíssima e um carro delicioso de pilotar, o jogo parecia uma versão (simplificada) de outro que fazia muito sucesso nos fliperamas, mas que tinha sido produzido pela principal concorrente da Nintendo. Seu nome? Out Run. Porém, vale notar que a conversão do título criado por Yu Suzuki só chegaria ao Master System cerca de um mês depois, dando à Nintendo alguma vantagem.

Crédito: Reprodução/Youtube

E de fato, a semelhanças com o Out Run é inegável. Além dele nos colocar a bordo de uma Ferrari 328 Twin Turbo (ou de um carro de Formula 1), em Rad Racer também dirigiremos por uma estrada aberta, partindo de um ponto A e tendo que chegar aos checkpoints antes de o tempo acabar, indo da Costa Oeste para a Costa Leste dos Estados Unidos. Até a tela de Game Over, mostrando até onde conseguimos avançar, é parecida.

Outra semelhança está na ótima trilha sonora que nos permite escolher qual faixa ouvir e foi composta pelo gênio Nobuo Uematsu. A diferença aqui é que as músicas podem ser trocadas mesmo durante as corridas, bastando apertar o direcional para cima

Contudo, enquanto alguns comemoram a semelhança com o jogo criado por Suzuki, outros viram naquilo o seu principal defeito, com a revista Famitsu chegando a classificá-lo como monótono. Mas a verdade é que as reclamações não atrapalharam o seu sucesso, com as vendas girando na casa de 1,95 milhões de cópias.

Rad Racer

Crédito: Reprodução/Youtube

E tamanho interesse — especialmente por parte do público norte-americano, onde a maioria das vendas ocorrera — fez com que o jogo aparecesse no filme O gênio do videogame, de Todd Holland e uma continuação fosse criada. Em Rad Racer II tínhamos novas pistas e músicas, mas uma jogabilidade praticamente idêntica e sem a participação de Nasir Gebelli na sua criação, que na época contribuiria em outros títulos.

Trabalhando na Square até 1993, ele foi o único programador a trabalhar nos três primeiros Final Fantasies, assim como no Secret of Mana, para depois se aposentar e ir morar em Sacramento, Califórnia, onde permanecesse até hoje.

Além de Sakaguchi, outros game designers costumam apontar Nasir como uma grande influência em suas carreiras, como Jordan Mechner (Karateka, Prince of Persia), Richard Garriott (Ultima), John Romero (Wolfenstein 3D, Doom, Quake) e Mark Turmell (NBA Jam, Smash TV).

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