Sua conta do Steam (teoricamente) morrerá com você

Com suas constantes promoções, fácil acessibilidade e ótimos recursos, é fácil entender por que o Steam caiu no gosto dos jogadores. Isso fez com que algumas pessoas formassem vastas bibliotecas digitais com centenas, milhares de jogos, mas alguma vez você parou para pensar o que acontecerá com nossas contas quando não estivermos mais por aqui?

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Pois um usuário do Resetera teve essa dúvida e enviou uma mensagem para o suporte do serviço de distribuição da Valve questionando se poderia deixar sua conta para alguém através de um testamento e a resposta que recebeu não foi um tanto preocupante.

“Infelizmente, as contas e jogos do Steam são intransferíveis,” disse o atendente. “O suporte Steam não pode fornecer acesso à conta a outra pessoa ou mesclar conteúdos com outra conta. Lamento informar que a sua conta não pode ser transferida por testamento.”

Diante de uma imposição tão dura, nossa primeira reação para burlar a situação pode ser partir para o compartilhamento do nome de usuário e senha da nossa conta com alguém que gostaríamos que ficasse com os nossos jogos, mas não é tão simples assim. Quer dizer, pelo menos não legalmente.

Ao olharmos o contrato que assinamos ao abrir nossa conta no Steam, já na primeira seção há um trecho que fala claramente sobre como o compartilhamento da conta é algo contra os termos de uso que aceitamos. “Você não poderá revelar, compartilhar ou de outra forma permitir que outras pessoas usem sua senha ou Conta, exceto se for especificamente autorizado de outra forma pela Valve,” diz o documento.

Na sequência, o contrato afirmar que “a sua Conta, incluindo informações pertinentes a ela (ex: informações de contato, informações de cobrança, histórico e Assinaturas da Conta, etc.) é estritamente pessoal. Portanto, você não pode vender, nem cobrar dos outros pelo direito de uso da sua Conta, nem transferir, de outro modo, a sua Conta [...].”

Contudo, na prática, seria difícil a Valve ter controle sobre esse tipo de transferência e desde que a pessoa tenha se antecipado e fornecido os dados para que outra consiga acessar sua conta, é pouco provável que aconteça um banimento por quebra de contrato.

Além disso, alguns usuários afirmam que a parte em que podemos ler “exceto se for especificamente autorizado de outra forma pela Valve” já seria uma forma da empresa evitar uma batalha judicial relacionada a tal pedido em um testamento, mas evitando escancarar que a transferência é permitida.

Já de acordo com um artigo publicado por Claudine Wong no Santa Clara High Technology Law Journal, existe outra maneira de garantir legalmente essa transferência para um herdeiro, mesmo com ela parecendo longe do ideal. A autora afirma que “o conteúdo digital é transferível para os sobreviventes de um usuário falecido se as cópias desse conteúdo estiverem localizadas em dispositivos físicos, como iPods ou e-readers como o Kindle.”

Ou seja, se a pessoa quiser acessar tal conteúdo em outro aparelho, mesmo que seja por uma falha no dispositivo de armazenamento, isso não será possível. Pois qualquer um que costume comprar jogos digitalmente sabe o quão problemática pode ser essa restrição.

Vamos pegar o meu caso como exemplo. Só no Steam eu tenho 1382 jogos e obviamente, apenas uma pequena quantidade deles está instalada no computador. Para conseguir baixar todos, eu precisaria de muito mais espaço de armazenamento, HDs ou SSDs que eventualmente deixarão de funcionar e quando isso acontecer, ninguém mais poderia aproveitar os jogos que possuo?

Passamos então para os consoles que também contam (ou contavam) com serviços de distribuição digital. Xbox 360, Xbox One, PlayStation 3, PlayStation Vita, PSP... Se for falar do PlayStation 5, nele uso um SSD de 2 TB e um HD externo do mesmo tamanho só para os jogos de PS4 e adivinhe? Ainda há muitos títulos que não baixei porque não há mais espaço nessas unidades.

Sendo assim, lhe parece uma solução viável realizar o download de tanto conteúdo para garantir que meu filho possa acessar esses jogos? E repito, o que ele deve fazer quando tais videogames ou mesmo suas unidades de armazenamento falharem?

No caso do Steam, é interessante notar que o serviço já nos oferece um bom sistema de compartilhamento de jogos, onde podemos dar acesso à nossa biblioteca mesmo para quem estiver usando outro computador. Logo, não seria muito mais prático a Valve permitir que alguém passe a controlar nossa conta quando morrermos?

Há muito o Steam deixou de ser apenas uma loja virtual, com muitos usuários usando-a como uma espécie de rede social, onde temos ferramentas para troca de mensagens e informações, uma página pessoal e todo tipo de recurso comum nesses ambientes. Portanto, a Valve não poderia deixar que fosse criado uma espécie de memorial para o falecido, assim como acontece no Facebook, mas com o diferencial de o responsável pelo espaço poder herdar seus jogos?

Entendo que há a questão de direito de uso desses títulos, algo que vai além da empresa de Gabe Newell e imagino que seja por isso que essa transferência não possa ser liberada. Ainda assim, permitir que os jogos que compramos possam ser “emprestados” para qualquer pessoa só reforça o sentimento de que alguém poderia aproveitar legalmente nossos espólios.

Infelizmente, uma atitude como essa é mais um dificultador na preservação da história dos jogos e como hoje a distribuição é tão presente, especialmente no PC, discussões relacionadas a transferência de contas deverão se tornar cada vez mais comuns, mas com as nossas bibliotecas fadadas a desaparecerem. Ao menos teoricamente.

Fonte: Rock, Paper, Shotgun