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A arte dos jogos de luta, agora na universidade

Dos botecos para a universidade: UC Berkeley abre inscrição para um curso dedicado à história, cultura e competições de jogos de luta

24/01/2024 às 9:44

Se durante a minha infância era preciso frequentar ambientes inóspitos — principalmente para uma criança — com o objetivo de apurar nossas habilidades em jogos de luta, hoje esse conhecimento pode ser obtido até no meio acadêmico. Quer dizer, pelo menos se você for estudante da Universidade da Califórnia, em Berkeley.

UC Berkeley e os jogos de luta

Crédito: Reprodução/666gonzo666/MobyGames

Considerada uma das melhores instituições de ensino superior dos Estados Unidos, a UC Berkeley abriu inscrições para um curso chamado The Art of Fighting Games, que será realizado durante a primavera do hemisfério norte e promete ir muito além de apenas ensinar Hadoukens ou Shoryukens.

Com as aulas realizadas presencialmente, o curso será dividido em duas unidades e contará com palestras, aulas em laboratórios e trabalhos práticos que visam ensinar os fundamentos dos jogos de luta, mas também a história da indústria japonesa de games.

Pois esse respeito e admiração às raízes do gênero pode ser vista na descrição do curso, que diz o seguinte:

“Bem vido ao Japão dos anos 1980: você é um assalariado que volta para a casa após um longo dia de trabalho, mas antes de voltar para casa, passa pelo paraíso cultural da indústria do entretenimento da época: o fliperama. Os fliperamas, e em particular, os jogos de luta, sempre foram o pilar da cultura e da mídia japonesa. De referências na cultura pop a um vasto cenário da cena de eSports em torno do gênero, a origem modesta dos jogos de luta nos fliperamas evoluiu para um fenômeno global que une comunidade, competição e cultura através do improvável meio dos games.”

Crédito: Reprodução/666gonzo666/MobyGames

Os organizadores do curso então afirmam que pretendem levar os iniciantes no meio a um nível médio, além de aproveitar o tema para introduzir os participantes à cultura japonesa, incluído a história daquele país e até mesmo a sua língua.

“Ao final deste curso, você será mais proficiente nos fundamentos de um jogo de luta e terá mais conhecimento sobre o gênero no geral, além de ter uma maior compreensão de como a atual cultura midiática surgiu no Japão,” diz a descrição.

Embora a experiência prévia com jogos de luta possa ajudar aqueles que se interessarem em participar do curso, não existe qualquer pré-requisito para quem se inscrever. Segundo os organizadores, “a única coisa que você precisa é vontade de aprender e falhar!” Também achei interessante quando eles afirmam que o estudante não será avaliado pelo desempenho nos jogos, mas “pelo entusiasmo, comprometimento com a melhoria e esforço nas tarefas.”

UC Berkeley e os jogos de luta

Crédito: Reprodução/666gonzo666/MobyGames

Já quando se trata do material necessário para participar do curso, o plano de estudos fala apenas em uma máquina capaz de rodar o programa Fightcade, por onde as partidas serão disputadas e algum tipo de controle, podendo ser desde um teclado a um fightstick ou gamepad. Além disso, há um aviso sobre o curso ser voltado para os jogos de luta 2D e não os de luta de plataforma, como a série Super Smash Bros.

Outro ponto que chama a atenção é quando o cronograma fala nos estudantes participarem de torneios no estilo suíço, para depois descreverem como a foi a experiência de estar numa competição; ou quando eles terão que debater o processo de criação do rapper INFINITE para a música tema do Street Fighter III: 3rd Strike - Fight for the Future.

Por fim, além das várias tarefas de casa, o trabalho de conclusão de curso será realizado em grupos formados por quatro pessoas, com cada um deles precisando falar sobre um jogador historicamente importante. Os estudantes deverão apresentar para a classe o histórico, contribuição/impacto para os jogos de luta e estilo da pessoa em questão, citando cyberatletas como Daigo Umehara, Justin Wong, Tokido etc.

Crédito: Reprodução/Cem Tezcan/ArtStation

Apesar de os jogadores mais experientes poderem considerar o curso um tanto básico e incapaz de formar um novo campeão mundial, o objetivo certamente não é esse. Além disso, é muito legal ver os jogos de luta sendo o foco de um curso numa grande universidade, servindo como pano de fundo para o aprendizado de outras culturas e com sua história sendo estudada e eternizada no meio acadêmico.

Isso me faz pensar em quando eu saia de casa escondido para jogar ou ver alguém jogando algo em um fliperama e que na época, jamais poderia imaginar que este cenário mudaria tanto. Por isso vejo até com uma certa incredulidade a maneira como os videogames se espalharam pela sociedade, deixando para atrás muito daquele preconceito que existia há 30 ou 40 anos.

Para muitas pessoas, a mídia deixou de ser apenas uma diversão e este curso da Universidade da Califórnia, mesmo servindo apenas como pontuação para os estudantes, é uma demonstração de como os jogos podem ser aproveitados de outras maneiras.

Eu não quero cair na tentação de fazer afirmações como “na minha época que era bom” ou “fliperama forjava caráter”. Por mais que eu tenha aprendido uma coisa ou outra jogando nos botecos da vida, poder ver os jogos de lutas — e a cultura por trás deles — sendo ensinados e estudados numa universidade é uma vitória para todos nós, apaixonados por videogames.

Fonte: Arcade Press

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