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Recordar é Viver – 5 programas que ninguém mais usa

Programas de computador também têm prazo de validade, aos poucos vamos esquecendo e abandonando velhos softwares. Que tal conhecer alguns que já foram fundamentais?

12 semanas atrás

Um computador sem programas não é nada, que o diga o Windows Phone, mas como diziam os trocadores, fora motorista tudo na vida é passageiro, e alguns programas caem no esquecimento. NÃO MAIS! Vamos recordar alguns softwares do passado que já foram considerados indispensáveis!

Esses TRS-80s são mais velhos que quase todo mundo aqui. (Crédito: Dave Ruske / wikimedia Commons)

1 – GetRight

Ontem resolvi testar um LLM (Large Language Model) para simular uma conversa com Waifu Emma Watson Aristóteles, para isso tive que baixar um modelo de 32GB. Não é problema com um link de 600Mbps, mas no tempo da linha discada, qualquer arquivo levava uma eternidade. Esse modelo, por exemplo, levaria 1363 horas para ser baixado em uma conexão de 56Kbps.

O bom e velho GetRight (Crédito: SnapFiles)

Também havia o inconveniente da instabilidade das conexões, mãe tirando o telefone do gancho, a TELERJ como um todo... os downloads eram interrompidos e tudo se perdia.

Então surgiram as atualizações nos servidores FTP e HTTP, e passou a ser possível retomar um download de um ponto específico, mas os browsers não sabiam lidar com isso.

Foi a época de ouro de programas como o GetRight, que inaugurou toda a categoria dos gerenciadores de download. O GetRight permitia que um download grande fosse pausado, interrompido e retomado, mesmo depois de um reboot. Ele também dividia um download e várias partes baixadas simultaneamente. Por anos ele salvou vidas, até perder sua razão de existir, com a chegada de links mais rápidos e estáveis.

Hoje o problema é outro, muitos sites dificultam ou proíbem o download, como YouTube, Instagram, etc. A nova geração de gerenciadores de download contorna essas limitações. São softwares de ética duvidosa, mas qualidade inquestionável, como o excelente JDownloader.

2 – Kali

Nos primórdios da computação em rede o padrão mesmo era Novel, com seu protocolo IPX/SPX, que funcionava muito bem para redes locais. Os primeiros jogos multiplayer adotaram os protocolos, e era incrivelmente legal juntar os amigos pra uma tarde de cerveja, churrasco, Doom em Rede e mulheres arrancando os cabelos por causa daquele monte de cabos espalhados pela sala. Exceto as garotas gamers. Sim, elas já existiam.

Com a Internet todo mundo pensou em como ampliar os jogos em rede para jogos em Rede Mundial de Computadores. A primeira e melhor solução foi o Kali, um programa escrito por Scott Coleman, Alex Markovitch e Jay Cotton.

Duke Forever! (Crédito: Reprodução Internet)

Lançado em 1995, o Kali encapsulava o protocolo IPX/SPX em pacotes TCP/IP, então para os programas envolvidos, estava todo mundo na mesma rede local. Subitamente todo mundo estava jogando Doom, Command and Conquer, Descent, Warcraft II e outros, online.

Kali vinha com um timer, permitindo um certo tempo de jogo. Comprando a licença de US$20 você se livrava do timer. Kali foi um dos primeiros softwares que comprei.

Com o passar dos anos os jogos passaram a dar suporte direto a TCP/IP, e o Kali foi sendo esquecido.

3 – WinGate

Programa de 1995, o WinGate incrivelmente ainda está sendo comercializado, em 12/2023 a última atualização era de outubro de 2022.

Imagine que você quer instalar Internet na sua rede. Você espeta o modem do provedor na porta WLAN de seu roteador, espeta os PCs nas portas LANs e em 90% dos casos, está tudo automagicamente funcionando.

Agora imagine que você não tem roteador em casa. O modem do seu provedor é realmente um modem, discado, ligado na porta serial do seu PC, que não fala nativamente TCP/IP. Muito menos têm o conceito de compartilhar esses serviços.

WinGate em ação (crédito: WinGate)

O quê o WinGate fazia? Bem, ele é um proxy, ele recebe conexões em portas específicas e as repassa para computadores na rede. Com ele era possível configurar serviços como ICQ, MSN, FTP, etc, na rede inteira, sem um roteador.

Claro, uma vez configurei errado e minhas mensagens do ICQ começaram a aparecer no ICQ da minha namorada, na mesa ao lado. Nunca consertei uma configuração tão rápido.

Eram tempos inocentes, claro, então ninguém ligava pro fato do WinGate ser extremamente inseguro, um verdadeiro portão aberto para invasões. Felizmente aprendemos a configurar máquinas Linux pra servir de gateways e isso deixou de ser problema, até a chegada dos roteadores físicos domésticos.

4 – Aquele programa maldito da sua câmera digital

Lembra daquela primeira câmera, que você ia usar pra fotografar as férias inteiras, até descobrir que só tinha memória interna, e não comportava lá muitas fotos?

Lembra do que você mais odiava na máquina? Era a fome com que devorava pilhas ou aquele cabo proprietário que você guardava com sua vida, pois jamais acharia outro pra comprar?

Nah, era o software, aquele maldito programa feito com toda a má-vontade do mundo, que só achava a máquina umas 3 em cada 10 tentativas, e levava uma vida para baixar uma foto. Se você clicasse no lugar errado, ele reiniciava o processo de criar thumbnails para todas as imagens.

Como, download de todas as fotos de uma vez? Não, os programadores não pensaram nisso. E só salvamos em BMP, tenha um bom dia.

5 – Squid quem?

Hoje para exibir um simples Xwit seu navegador carrega mais de 1MB de dados, entre bibliotecas, componentes, fontes, etc. Qualquer GIF animado, o formato menos otimizado do Universo, são vários MBs. Como todo mundo tem banda larga, não percebemos, mas antigamente qualquer arquivo maiorzinho já era problema, e empresas com links limitados (ou seja, todas) tinham que se virar para não engargalar a rede.

Link limitado era limitado mesmo, a média no Rio, entre empresas progressistas e modernas, eram links de 64Kbits (não MBps, Kbps).  Imagine 20, 30, 50 pessoas usando Internet.

Tela de administração do Squid no WebMin (Crédito: Reprodução Internet)

Uma solução para aliviar isso era usar um Proxy Server, e o Squid era (e ainda é) referência mundial.

Simplificando, o Squid intercepta todas as chamadas de navegadores da rede local e verifica se o arquivo solicitado consta em seu cache local. Se consta, o Squid pergunta ao servidor remoto se o arquivo foi alterado. Em caso de uma negativa, o Squid entrega ao computador solicitante a cópia local.

Não parece, mas isso ajuda MUITO a reduzir o tráfego, se dez pessoas acessam um site 10 vezes ao dia, são 100 solicitações que podem ser resumidas a uma só.

O aumento da velocidade dos links, os navegadores se tornando mais inteligentes e usando caches próprios, e a própria internet se tornando mais dinâmica fizeram o Squid sair de moda, mas ele teve grandes usos. Posso citar 2:

Uma empresa que não citarei o nome estava com problemas de tráfego, o povo baixava porcaria o tempo todo. Um dos programadores teve uma idéia genial: Configurou um PC com o Squid no corredor da empresa; o monitor mostrava, anonimamente, todas as imagens que eram baixadas. Rapidamente as barbaridades expostas foram sendo naturalmente associadas às pessoas, e sem ninguém precisar pedir, o acesso exagerado cessou.

Isso foi uma bela sacanagem. (Crédito: reprodução internet)

Outro caso, dos primórdios mesmo, é genial, e contado em detalhes neste post aqui. O sujeito descobriu que o vizinho estava roubando WIFI. Primeiro ele alterou as rotas via iptables para redirecionar todas as páginas solicitadas pelo vizinho para o Kittenwars.

Depois ele resolveu brincar a sério. Configurou o Squid para interceptar todas as imagens solicitadas pelo navegador do vizinho. Em seguida, elas eram invertidas e repassadas ao browser.

Imagine a cara do esperto tentando entender o que estava acontecendo.

6 – XtreeGold

o bom e velho (muito velho) XTreeGold (Crédito: Reprodução Internet)

Por incrível que pareça dá pra se confundir mesmo com um simples disquete, era comum perder arquivos entre dezenas de pastas e sub-pastas, mas um gerenciador de arquivos maravilhoso lançado em 1985 salvou a vida de todo mundo, o XTreeGold.

Ele era presença garantida no disco de boot de todo mundo que tinha PC, depois de um tempo era impossível fazer qualquer tipo de manutenção de arquivos sem ele, era demorado demais.

O XTreeGold era um programa magnífico, cheio de recursos, alguns até inovadores, como recuperar arquivos apagados, mas com a chegada do Windows ele foi desaparecendo. As versões mais modernas do Windows Explorer cumpriam as mesmas funções, e lidavam bem com nomes longos de arquivo.

Mesmo assim muita gente carregada na memória muscular ainda usou XTreeGold em Windows por muitos anos.

Como, XTG pra Windows? Não, desse preferimos não falar.

6 – PrintMaster

O PrintMaster era um programa que apavorava donos de impressoras. Incrivelmente simples e amigável de usar, ele matou incontáveis foquinhas arbóreas, sendo responsável por milhões de faixas de feliz aniversário em escritórios em todo o mundo.

Em um tempo onde todo mundo tinha impressora com formulário contínuo, o PrintMaster era excelente, você editava rapidamente (pode brincar com o emulador aqui) sua faixa, colava figurinhas e mandava pra impressora, que comia fita até não poder mais, penava, mas imprimia a faixa.

Que poderia sair melhor, vamos fazer outra, afinal quem paga é a empresa...

NOTA: havia uma disputa entre o PrintMaster e o PrintShop, ambos faziam basicamente a mesma coisa.

Embora exista até hoje, com a última versão lançada em 2020, ninguém usa PrintMaster em casa, pois uma faixa grande colorida custaria em tinta o equivalente ao PIB de um país africano. E mesmo quem imprime na empresa, não tem paciência de ficar colando folhas.

As foquinhas arbóreas agradecem.

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