In the Hunt — tiroteio embaixo d'água

Respondendo como um dos gêneros mais tradicionais dos videogames, o Shoot ‘em up — também conhecido como Shmup ou simplesmente, jogo de navinha — nos deu inúmeros clássicos. Normalmente esses títulos seguiam um padrão, mas em 1993 os fliperamas receberam um jogo que ousou fugir do lugar-comum, seu nome era In the Hunt!

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Desenvolvido por um grupo de funcionários da Irem que depois fundariam a Nazca Corporation, eles ficariam mais conhecidos pela série Metal Slug. Porém, se não fosse por aquele conceito para um Shmup submarino proposto por Kazuma “Tobi_Nag” Kujo, talvez os Run and guns publicados pela SNK nunca tivessem existido.

O curioso é que até chegar à ideia para o In the Hunt, Kujo precisou lidar com a sua pouca habilidade com jogos do tipo. Tendo iniciado sua carreira na Irem em 1989, sua primeira função no estúdio foi testar o R-Type II. Na época o responsável pela divisão de negócio da desenvolvedora procurava o pior jogador de Shoot ‘em up na empresa e quando todos apontaram para o novato, ele não teria como escapar.

Passada aquela produção, Kujo ainda ajudaria na criação de vários outros títulos, até que em 1993 lhe fossa dada a oportunidade de dar vida a um novo jogo.

“O plano para fazer um ‘jogo de tiro’ já estava decidido, mas também, ao mesmo tempo, decidi fazer um jogo para que duas pessoas pudessem jogar simultaneamente,” declarou o game designer. “Contudo, eu não gostava que em jogos de tiro havia uma rolagem automática da tela, então a tela continuava se movendo mesmo se um dos jogadores estivesse fora do jogo. Além disso, a maioria dos jogos de tiro se passavam no espaço e eu queria fazer algo diferente.”

Porém, essa tentativa de explorar novos territórios não surgiria de imediato. Sofrendo com a pressão para entregar uma proposta que soasse inédita, Kazuma Kujo precisou de semanas, talvez até mais de um mês, até que a ideia surgisse de uma situação um tanto inusitada.

Segundo Kujo, para tentar arejar a mente, ele começou a se ausentar do escritório da Irem todos os dias, passando várias horas num parque que ficava nos arredores. Por lá ele ficava observando as pessoas, admirando os arbustos e eventualmente, até cochilando. Pois foi numa dessas escapadas que o sujeito, deitado e com os olhos fechados, ouviu o som da água que vinha de uma fonte.

“... pensei que poderia ser bom ter um jogo embaixo d'água,” revelou. “Após pensar naquilo, voltei para o escritório e enquanto estava caminhando, vi algumas rodovias e pensei que talvez poderia ser legal ter um jogo em que um submarino estaria circulando pela cidade!”

Com a proposta tendo sido aprovada pelo superior de Kazuma Kujo, ele começou a pensar em como situar o jogo num ambiente subaquático afetaria os gráficos, que tipo de efeito seria mostrado quando um torpedo fosse disparado, por exemplo. Contudo, a resistência da água não seria apenas visual.

Em In the Hunt alguns disparos — como as minas — terão uma velocidade diferente do tiro principal. Já ao emergirmos a nossa arma vertical mudará, tornando possível disparar contra aeronaves que estiverem sobrevoando a área. “Lembro que quando fiz o jogo, fiz de forma que tanto as suas armas quanto a dos inimigos fossem restringidas pela superfície da água,” explicou o game designer.

Desenvolvido para a placa Irem M-92, o que se viu nos fliperamas quando o jogo foi lançado era de cair o queixo. Mesmo tendo surgido três anos antes do Metal Slug, o nível de detalhes presente nos cenários do In the Hunt e as animações muitas vezes superavam o seu irmão mais novo, com a fase em que navegamos por uma cidade inundada impressionando mesmo três décadas depois.

“Os gráficos levaram tempo e esforço, é verdade,” recordou Kujo. “Mas quando se trata de criar visuais 2D e animações, minha equipe era capaz de trabalhar numa velocidade vertiginosa. Precisávamos de muita energia, mas produzimos esses gráficos mais rápido do que você pensa.”

Já o seu enredo era simples, falando sobre uma organização chamada Dark Anarchy Society (D.A.S.) cujo objetivo é lançar uma arma que destruirá a Terra. Assim, a bordo do submarino Hydro Fober Grampus (ou apenas Granvia), caberá ao jogador salvar o que restou do planeta, mas sinceramente? Num título assim o que todos nós buscamos é muita ação, chefes de fases enormes e vários power-ups, elementos que a criação de Kazuma Kujo entrega de sobra.

O resultado foi um jogo que, mesmo sem nunca ter feito tanto sucesso quanto as séries R-Type ou Metal Slug, se tornou cult no Japão. Dois anos depois foi a vez do PlayStation e do Sega Saturn receberem conversões, sendo que no console da Sony praticamente não havia queda na velocidade, problema que prejudicou muito a versão presente no seu concorrente.

Curiosamente, durante a Consumer Electronics Show de 1994 até foi mostrada uma versão jogável do Shmup para o Super Nintendo, mas esta nunca chegou a ser lançada. Ter aparecido no antigo videogame da Nintendo poderia ter ajudado muito a aumentar popularidade do In The Hunt, mas considerando o quanto esta versão seria prejudicada pelas limitações do SNES, o cancelamento deve ter sido mesmo a melhor escolha.

No Japão o título ainda recebeu uma adaptação para PC em 1997 e embora ela também conte com alguns slowdowns, ainda apresenta um desempenho melhor que aquele visto no Sega Saturn. Já atualmente, a melhor maneira de aproveitar o In the Hunt é no Nintendo Switch ou no PlayStation 4/5, onde ele passou a ser vendido através do selo Arcade Archives, com o jogo contando com alguns extras e até um placar online.

Um detalhe engraçado é que, dada a sua semelhança com a série Metal Slug, especialmente na parte visual, na América Latina o jogo para PlayStation chegou a ser vendido nas banquinhas de camelô como um Metal Slug 3 ou mesmo com o nome Metal Slug Submarine.

Infelizmente, o Shoot ‘em up também ficaria marcado como o início do fim da Irem Corporation. Em 1994 a empresa passaria por uma reestruturação, deixando o desenvolvimento de jogos e esse foi um dos motivos para Kazuma Kujo e vários companheiros fundarem a Nazca Corporation. No final de 1996 a Irem até tentou retornar, lançando o Gussun Paradise, mas este, sim, acabaria sendo sua despedida dos games.