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Microsoft 365 Copilot – Eles vão dominar o mundo – de novo

51 semanas atrás

Dois dias atrás Satya Nadella, nosso indiano favorito apresentou ao mundo o Microsoft 365 Copilot. Ele o definiu como um momento seminal na história da computação, comparando com a Mãe De Todos os Demos, uma apresentação em 1968 onde Douglas Engelbart demonstrou conceitos como mouse, hypertexto, link, interfaces gráficas, videoconferência e vários outras tecnologias que só se tornaram realidade décadas depois.

Só o começo (Crédito: Microsoft)

A Mãe de Todos Os Demos está disponível no YouTube, e vale ser assistida.

Satya também mencionou a introdução do iPhone como outro momento seminal que mudou tudo, para demonstrar o ecumenismo da Microsoft e como aquela apresentação englobaria tudo.

Não é segredo de ninguém que a Microsoft vem investindo pesado na OpenAI, a empresa por trás do ChatGPT e recentemente divulgou um aporte de US$10 bilhões, isso é 2/3 do orçamento do Brasil para Ciência e Tecnologia em 2023, US$15 bilhões. Não, o Brasil não gasta muito, o orçamento da Microsoft para Pesquisa e Desenvolvimento em 2022 foi de US$25 bilhões.

Era óbvio que a Microsoft investe atrás de retorno, e a grande dúvida era como monetizariam o ChatGPT. A OpenAI oferece assinaturas, acesso pago à API e um monte de gente está criando um ecossistema imenso em torno do serviço, mas não justifica o investimento da Microsoft.

Com todas as coisas incríveis, divertidas e assustadoras que o ChatGPT faz, as pessoas se esquecem de um detalhe fundamental: Ele não é um site de buscas. Ele não tem conexão com a Internet, e seu modelo é estático.

O ChatGPT também não é um banco de dados. Ele não tem uma série de perguntas e respostas em tabelas alinhadas. Ele não tem conceito de verdade ou mentira, de fato ou ficção. Ele é um LLM – Large Language Model, uma rede neural treinada com 45TB de textos, produzindo um modelo com 175 bilhões de parâmetros.

Aut-oretrato do Stable Diffusion (Crédito: Stable Diffusion)

Seu objetivo é produzir, através de estatística, a mais provável seqüência de palavras, formando um texto coerente de acordo com os parâmetros de entrada.

Imagine que você está no escritório pela manhã, o chefe abre a porta sorridente e diz “BOM...”. O que é mais provável, que ele complete a frase com “DIA!”  ou “... cansei, vou virar transformista em Barcelona, fui!”?

Agora imagine uma rede neural com associações entre bilhões de termos, ela consegue gerar conteúdo aplicando essas associações, o que sendo justo, é mais ou menos o que a gente faz quando cria algo.

E sim, pronto, falei, a IA cria conteúdo SIM. Às vezes chega a ser assustador como ela entende conceitos abstratos. Enquanto escrevia este texto para o Contraditorium, tive idéia de adaptar a frase do Bane sobre escuridão para falar sobre Multitarefa, mas fiquei com preguiça. Só de farra pedi ao Bing Chat (com acesso ao GPT) para tentar. Eu fiquei assustado com o resultado.

Assustou. (Crédito; Bing Chat)

O Bing Chat, aliás, foi a primeira ferramenta que a Microsoft adaptou para o ChatGPT, depois de uma tentativa desajeitada com a busca do Windows. Ele agora está integrado à Web, com acesso em tempo real, e reza a lenda, rodando com o GPT-4, que foi treinado com 100 Terabytes de textos e tem 1 trilhão de parâmetros.

O Bing Chat tem bem menos momentos onde alucina a resposta, ao contrário do ChatGPT, ele responde com dados factuais, incluindo links, e se você escolher o modo verborrágico, ele explica de onde trouxe os dados.

Na apresentação, a Microsoft explica como melhoraram os resultados: O ChatGPT não é um site de buscas, mas o Bing é, e a Microsoft tem muita experiência com essa tecnologia. O truque é ter o modelo conversacional do ChatGPT funcionando, usá-lo para analisar a pergunta do usuário, produzir queries para a busca, usar o Bing para retornar um número de resultados, e então -aqui o pulo do gato-  alimentar o Chat com esses dados.

O GPT então mastiga as dezenas (ou centenas, sei lá) de páginas, e compõe o resultado que você quer. Um bom uso é com consultas compostas. Aqui eu pedi pro Bing me retornar as 30 maiores bilheterias de 2022, nas 5 maiores cidades do mundo. Esses dados estão disponíveis online (d’oh) mas compilar seria um porre. Ah sim, eu pedi os resultados em formato CSV, e o danado entendeu!

O potencial disso... (Crédito: Bing Chat)

Como está, o Bing Chat já é uma ferramenta poderosíssima, seus recursos são limitados principalmente pela imaginação de quem o usa. Eu não sabia, por exemplo, que era possível pedir para resumir os twits do dia de uma conta:

Extremamente útil (Crédito: Bing Chat)

O Bing Chat também é capaz de gerar textos, programas de computador, o usual, e se ainda há dúvida que essa tecnologia de IA faz milagres, o Bing por causa dela atingiu a marca de 100 milhões de usuários. Sim, a Microsoft conseguiu fazer um monte de gente usar o Bing!

Mais um exemplo de recurso: O Bing Chat consegue criar diagramas SWOT!

Ele consegue ser 100% nerd! (Crédito: Bing Chat)

OK, mas e isso vai mudar o mundo?

Calma, Padawan, estamos chegando lá.

Esses recursos todos, que nem começamos a arranhar, são só a ponta do Goldenberg. Da mesma forma que a Cortana no PC, o Bing Chat, o Chat GPT, todos vivem em caixas de areia, não sabem quem você é, nem conseguem fazer nada com seus dados sem que você os alimente na boquinha.

O Microsoft 365 Copilot MUDA TUDO.

Microsoft Graph (Crédito: Microsoft)

O conceito é integrar a tecnologia do GPT-4 ao pacote Office 365, mas não como um simples assistente, como a janela de buscas do Word. Não é um Google ou Bing para seus dados, é quase uma... entidade.

Primeiro de tudo, o 365 Copilot se conecta ao Microsoft Graph,  a interface/api que engloba todos os seus dados no ambiente Microsoft, como emails, documentos no OneDrive ou na sua rede corporativa, apresentações, eventos de calendário, contatos, reuniões do Teams, etc, etc e mais etc.

O Graph é todo cercado de conceitos de segurança e privacidade, então teoricamente seus dados não estão sendo gravados em alguma pasta TEMP por aí.

Copilot (Crédito: Microsoft)

A integração com o Copilot permite que você pesquise e comande ações em linguagem natural, como por exemplo “convide para um happy hour todos os membros do grupo exceto os que usam emojis em emails”, ou “Leia os press releases que recebi no último mês e liste todos os convites com o termo open bar”.

Na apresentação foi demonstrado um recurso impressionante: O Copilot pode acompanhar uma reunião do Microsoft Teams, transcrever toda a conversa, e resumir para você o que foi discutido, as menções a seus produtos, e até estudar o clima da sala, se o povo estava mais alegre, mais preocupado.

Copilot (Crédito: Microsoft)

Você pode perguntar sobre o que foi discutido e acertado, e o Copilot não só responde como transcreve os trechos da conversa que usou para deduzir aquilo.

I <3 Excel

Eu respeito Excel. Já trabalhei em um lugar onde os loucos do Financeiro tinham uma planilha que controlava a empresa inteira, tinha controle de acesso multinível, multiusuário, era magia negra. Nós da TI nem chegávamos perto.

Na apresentação, vi que não era só eu. A estatística é que o usuário médio conhece menos de 10% dos recursos do Office, e é verdade. Com o Copilot, você passa a ter acesso a 100% desses recursos, pois a IA conhece todos eles.

Você pode descrever o que quer. Uma planilha de projeção de receitas? Peça para ele calcular o efeito de uma recessão leve, ou o aumento de custo de matéria-prima.

No Word você pode pedir que ele use os dados da planilha de vendas, e escreva uma mensagem pessoal de agradecimento aos 5 maiores clientes, mencionando individualmente as transações de cada um.

Mais Copilot (Crédito: Microsoft)

Com um simples link de uma reunião no calendário, você pede uma ata, ele irá acessar as transcrições, e listar tudo que foi dito, e por quem.

Quer transformar isso em uma apresentação? Sem problemas, no Powerpoint é só pedir, ele irá buscar os textos, topificá-los, achará ilustrações dos produtos mencionados, fotos dos participantes e montará tudo pra você.

Seu email está muito longo e formal? Peça para o Copilot reescrevê-lo, usando como modelo emails anteriores que você enviou quando estava mais inspirado.

O nome Copilot foi escolhido para apontar as capacidades do sistema. Ele não é um assistente, não é alguém esforçado mas limitado ou inexperiente, que você usa para tarefas simples como fazer café ou comprar um sonho na padaria.

Copilot nasceu pra fazer Powerpoints (Crédito: Microsoft)

Ele é seu co-piloto, sabe tanto quanto você, talvez com um pouco menos de experiência, e disposto a aprender e executar suas ordens, mesmo as mais complexas.

A proposta da Microsoft é tão ousada que promete até melhorar Powerpoints, isso é impressionante.

Lembre-se, estamos falando de uma IA que consegue criar queries em SQL, macros de Excel e Word, entende linguagem natural e é capaz de reconhecer sons e imagens.

Outro dia, só de zoeira resolvi testar se a app do Bing Chat tinha recursos de reconhecimento de áudio. Pedi para ele adivinhar onde eu estava -um restaurante, perto da cozinha-

Sim, ele basicamente ouviu o ambiente e deduziu onde estava. (Crédito: MeioBit)

Ele basicamente acertou.

Business Chat

Essa interface do Microsoft 365 Copilot é basicamente o chatGPT integrado com todos os dados da empresa, ela é especializada em transformar dados em conhecimento, pois se informação pura fosse poder, as bibliotecárias dominariam o mundo.

Você pode criar ou acompanhar projetos inteiros, gerar simulações, consolidar dados e resumir em um email reuniões que poderiam ter sido resolvidas em um email.

Exemplo do Business Chat (Crédito: Microsoft)

Não é Só Para o Mundo Corporativo

As funções do Microsoft 365 Copilot vão muito além do dia a dia do mundo corporativo. E nem falo daquela sua tia que vai criar powerpoints porretas sobre anjos e mensagens good vibes. Pense no ganho de produtividade de todo mundo que trabalha sozinho ou com equipe reduzida.

Você pode pedir para o Copilot listar seus clientes que mais resultaram em vendas, baseado no número de mensagens trocadas. Pode acompanhar sua produtividade tabelando no Excel seus textos produzidos, com informações como número de palavras e tempo de criação.

Para criadores de conteúdo, o Copilot é um presente dos céus. Ele é capaz de criar estrutura de vídeos e podcasts, incluindo cue sheets. Pro povo que faz texto, ele cuida da parte mais trabalhosa da pesquisa, resumindo artigos inteiros e consolidando informação.

Há gente escrevendo livros e usando a IA para gerar diálogos em dialetos arcaicos ou mesmo fictícios. Se eu quiser criar uma cena em Pompéia, à época da Grande Erupção, posso pesquisar dezenas de sites no Google, ou pedir pro Bing Chat fazer isso pra mim:

Daí, eu posso copiar, se for preguiçoso, ou usar como base para meu texto. (Crédito: Bing Chat)

Claro, muitos vão dizer que isso é trapaça, que é errado usar a IA para consultar e resumir a informação pra mim. 20 anos atrás outros chatos estariam chilicando contra o Altavista ou o Yahoo, dizendo que era trapaça pesquisar sites na Web, pois escritores de verdade faziam suas consultas em bibliotecas.

E a privacidade?

Essa é a melhor parte: Você não precisa ceder acesso aos seus dados, a Microsoft JÁ TEM esses dados, é tudo feito com informações corporativas ou pessoais hospedadas nos serviços dela.

O Futuro é Brilhante

Em todos esses anos nessa indústria vital eu nunca vi uma revolução como essa. Nem a chegada da Internet teve tanto potencial. Já faz tempo que especialistas falam que estamos nos afogando em informação. Hoje é impossível acompanhar tudo de nosso interesse. Mesmo a revolução dos smartphones prova como nossa tecnologia é subutilizada.

Hoje boa parte da população da Terra tem em mãos um aparelho com mais processamento do que um Caça F-22. (ok, não é vantagem, o F-22 tem como CPU principal um Pentium 90MHz), mas ninguém usa nem uma fração desse poder.

A Internet é uma biblioteca com a profundidade da Fossa das Marianas, mas só brincamos nas marolinhas. Essa tendência agora será revertida. O Microsoft 365 Copilot tem potencial de agilizar a produtividade, dar asas à imaginação e capacitar milhões de pessoas, muito mais do que ser usado para trapacear no dever de casa ou responder mensagens melosas da namorada.

Alguns críticos dizem que o Copilot e o ChatGPT não são “IA de verdade”, e estão certos. Não há nenhuma inteligência real por trás deles, eles apenas fingem, mas se o resultado final é satisfatório, qual a diferença?

 

Satya Nadella já foi bem criticado por aqui, ele dizimou a ala Consumidor Final da Microsoft, matou Windows Phone, o Microsoft Studios, que iria fazer uma série decente de Halo, e muitos outros projetos, focando no mercado corporativo. Nem Cortana sobreviveu. Foi a primeira das assistentes pessoais a ir pra vala. Alexa, dizem, sobrevive com aparelhos. Siri... quem?

Agora vemos que assim como os Cilônios, Nadella tinha um plano. Ninguém faz um 365 Copilot em dois meses. Esse projeto, bem como o investimento de US$10 bilhões na OpenAI vinham sido planejados faz tempo.

O Google ficou para trás, eles juram que tem uma IA bem melhor, só não querem usar. Enquanto isso seu ecossistema está engessado. Facebook, nem se fala. A visão da Microsoft foi brilhante, e se eu via Satya Nadella como um agente da destruição, hoje eu o vejo como Shiva, o Deus indiano da destruição e da renovação. O Copilot é a maior ameaça ao Google desde sua fundação.

O ChatGPT isoladamente já está gerando cursos, oportunidades de trabalho, livros, vídeos, pesquisas e experimentos. O Microsoft 365 Copilot ampliará enormemente o alcance do GPT-4 e futuras versões.

Teremos demissões em massa, avanços em escala geométrica na qualidade e velocidade do nosso trabalho? A IA irá dominar o mundo e todos trabalharemos criando prompts? Sinceramente eu não sei. Estou fascinado em testemunhar mais uma, e talvez a maior revolução tecnológica de minha vida.

Neste momento me sinto como Donald, diante das Portas do Futuro, no final do clássico desenho Donald no País da Matemágica: Confuso, curioso e impaciente com as maravilhas quem vêm pela frente, e a única certeza é que a chave para elas é... matemática!

O futuro nos espera (Crédito: Dis-digo, reprodução YouTube)

 

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