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Le Mans Virtual, Verstappen e o futuro das corridas virtuais

Apesar da popularidade das 24 Hours of Le Mans Virtual, a insatisfação de Max Verstappen mostrou como os eSports estão suscetíveis a problemas de conexão

1 ano atrás

A palavra eSports pode assustar algumas pessoas, que logo pensam em partidas disputadas em jogos com regras ou mecânicas que elas não entendem. Esse não é o caso das corridas realizadas usando videogames, com as provas lembrando muita as do mundo real e uma das que mais tem atraído a atenção do público e de pilotos profissionais é a 24 Hours of Le Mans Virtual.

24 Hours of Le Mans Virtual

Crédito: Divulgação/Motorsport Games

Realizada entre os dias 13 e 15 de janeiro de 2023, a última edição da prova contou com a presença de figuras importantes do mundo do automobilismo. Entre eles tivemos os pilotos Romain Grosjean (IndyCar), Andy Priaulx (tricampeão de carros de turismo), Felipe Drugovich (Fórmula 2), Felix Rosenqvist (IndyCar) e principalmente, Max Verstappen, bicampeão da Fórmula 1. Já das pistas virtuais tivemos Jeffrey Rietveld, Nikodem Wisniewski, Joshua Rogers e James Baldwin.

Ao todo foram 180 pilotos de 40 países, com o evento contando com patrocínios de gigantes como a Goodyear, Rolex, Lego e Thrustmaster. Até mesmo montadoras como Ferrari, BMW, Mercedes e Porsche fazem questão de participar da prova realizada no lendário circuito de la Sarthe, na França, ajudando a mostrar a importância que a 24 Hours of Le Mans Virtual adquiriu.

Porém, a prova realizada recentemente jogou uma sombra sobre a realização de corridas no mundo virtual e o principal responsável por isso foi o holandês que disputa a F1 pela Red Bull. Após revelar em entrevista o quanto vinha se preparando para a competição, inclusive afirmando que ele e sua equipe a encaravam como uma prova real, Verstappen aparentemente não estava pronto para lidar com problemas externos.

Após adiamentos devido a problemas de conexão que alguns pilotos vinham encarando, a corrida começou com a Redline LMP, formada por Verstappen, Luke Browning, Jeffrey Rietveld e Diogo Pinto, saltando da quarta para a primeira colocação. Enquanto os pilotos se revezavam no volante, eles seguiram na liderança por mais de 16 horas, até que a conexão fosse perdida.

Segundo as regras da Le Mans Virtual, quando quatro ou mais carros são desconectados simultaneamente, mas sem evidências de problemas no servidor, a direção da prova pode optar por recolocar os competidores nas posições que estavam. Isso aconteceu por volta de 1h30 (horário de Brasília), quando sete competidores “caíram”. Já as 2h47 (horário de Brasília), quando apenas o carro de Verstappen e mais outro tiveram o mesmo destino, eles não puderam contar com o mesmo privilégio.

A desconexão fez com que o holandês caísse para o 17º lugar e após conseguir algumas posições, ele foi informado que a volta perdida não seria reposta. Insatisfeito com a decisão, ele se dirigiu para os boxes, apareceu na transmissão da equipe no Twitch e avisou que não voltaria para a prova. No canal, disse:

“Você se prepara por cinco meses para tentar vencer esse campeonato, você lidera o campeonato, você tenta e vence a corrida para a qual se preparou por dois meses e então eles lidam desta maneira...

Honestamente, isso é uma piada, você não pode chamar isso de um evento, é uma palhaçada [...] eles dizem ser azar, mas é apenas incompetência. Eles não conseguem nem controlar seu próprio jogo.

É isso, fim de jogo. Acho que tenho mais chance ser for a Vegas e a um cassino, [lá] terei mais chance de ganhar.”

24 Hours of Le Mans Virtual

Crédito: Divulgação/Motorsport Games

De acordo com Gérard Neveu, produtor executivo do 24 Hours of Le Mans Virtual, um dos motivos para os problemas técnicos que a prova enfrentou podem ter origem numa suposta invasão aos servidores. Isso inclusive levou a direção a chamar a bandeira vermelha duas vezes durante a corrida, sob a alegação de uma falha de segurança, provavelmente fruto de um ataque DDoS.

Entre as críticas em relação ao que aconteceu nesta edição da prova virtual, um dos principais alvo tem sido o jogo escolhido para a disputa, o rFactor 2. Algumas pessoas defendem que ele deveria ser substituídos por outro simulador, com o iRacing ou o Assetto Corsa figurando entre os preferidos.

Já para Steven English, diretor de eSports da Williams Racing, esses problemas técnicos acontecem todo tempo, o que mudou dessa vez foi que mais pessoas estavam prestando atenção na prova. “Se você conversar com qualquer equipe de eSports ou piloto, eles contarão uma história sobre como sua performance em um evento foi impactada por problemas técnicos,” garantiu.

Ainda segundo English, apontar todas as armas para o rFactor 2 não parece justo e ele citou um caso semelhante ocorrido em junho de 2022 com o Assetto Corsa Competizione. Naquela ocasião, uma prova de 24 horas seria realizada e teve que ser adiada justamente devido a um ataque DDoS. Já no iRacing, um glitch fez com que os carros se movessem muito mais rápido quando passavam pela grama, o que evidentemente prejudicou a corrida.

Crédito: Divulgação/Motorsport Games

Contudo, para o CEO da equipe BS+Competition, Florian Haasper, os problemas que cercaram a Le Mans Virtual este ano deveriam servir como um aprendizado para a comunidade de eSports, especialmente aquela voltada às corridas virtuais. “Sei que algo coisa assim pode acontecer o tempo todo, então é como se sempre estivéssemos andando no fio da navalha,” declarou o executivo. “Esses problemas e desafios precisam ser resolvidos no futuro.”

A solução óbvia para as desconexões e ataques externo seria realizar tais eventos localmente, com os computadores conectados numa rede LAN. Porém, Steven English afirma que outras situações poderão ocorrer, como os pilotos terem que competir com equipamentos diferentes dos que estão habituados ou reclamar de falhas nesses equipamentos. Ele então comparou a situação com as quebras que acontecem durante as corridas reais, argumento que também foi utilizado por Romain Grosjean para criticar o comportamento de Verstappen e defender as corridas virtuais.

Portanto, a única opção seria aceitar que problemas são inevitáveis e convivermos com as temidas desconexões? Pois para Haasper, os organizadores deveriam explorar as virtudes oferecidas pelo mundo virtual e não apenas tentar replicar as corridas reais. Um exemplo seria manter os eventos de 24 horas, mas ao invés deles se passarem numa única corrida, serem divididos em provas de uma hora, cada uma disputadas por novos pilotos e em pistas diferentes.

Crédito: Divulgação/Motorsport Games

De qualquer forma, por mais que as críticas do holandês possa ter manchado a imagem desse tipo de eSport, é inegável que ela também ajudou a colocar as corridas virtuais em evidência. O simples fato de um evento assim contar com pilotos mundialmente famosos já ressalta o quão evoluídos estão os simuladores, com Verstappen tendo chegado a afirmar que eles são 90% precisos quando se trata de recriar a sensação de guiar um carro de corrida.

Para quem está participando das provas, não tenho dúvida sobre o quão frustrante deve ser perder posições por uma falha que não é sua culpa. Já para quem está do lado de cá, apenas assistindo, torço para que eventos assim se tornem cada vez mais comuns e se solidifiquem como uma nova forma de entretenimento — mesmo com seus aparentemente insolucionáveis problemas técnicos.

Fonte: Launcher

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