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Virgin Orbit falha em lançamento e paga mico no Twitter

Foguete que seria o 1.º lançamento orbital do Reino Unido não atingiu altitude; já o Twitter da Virgin Orbit disse outra coisa

1 ano atrás

A Virgin Orbit, subdivisão para lançamentos de satélites do conglomerado controlado pelo bilionário Richard Branson, passou por uma tremenda saia justa nesta segunda-feira (9). O foguere orbital LauncherOne, que deveria ser a primeira missão do tipo realizada pelo Reino Unido, e a primeira comercial lançada da Europa ocidental, deu chabú.

Curiosamente, tal qual certos governos sem tradição no espaço, a conta oficial da Virgin Orbit no Twitter seguiu informando estar tudo bem... só que não.

Boeing 747 "Cosmic Girl" e foguete orbital LauncherOne (Crédito: Divulgação/Virgin Orbit)

Boeing 747 "Cosmic Girl" e foguete orbital LauncherOne (Crédito: Divulgação/Virgin Orbit)

A missão, que recebeu o nome de "Start Me Up" (a Virgin era originalmente uma loja de discos, depois gravadora; Branson vira e mexe faz referências musicais) estava programada para às 19:16 de 9 de janeiro de 2023, horário de Brasília.

O foguete LauncherOne, carregado com 9 microssatélites de 7 clientes diferentes, foi lançado de um Boeing 747 modificado, que a Virgin batizou de "Cosmic Girl" (eu disse, vai se acostumando com as referências). Decolando de Cornualha, na Inglaterra, o avião alcançou a altitude prevista de 35 mil pés (~10.000 m), e soltou o foguete de 21 m de comprimento, que deveria acionar os motores e entrar em órbita.

Cabe uma nota aqui. Diferente de empresas como a Blue Origin e a SpaceX, dos também bilionários Jeff Bezos e Elon Musk, a Virgin Orbit/Galactic não trabalha com foguetes lançados do chão. Ao invés disso, usa aviões lançadores em grande altitude, ajudando a minimizar os custos.

Em julho de 2021 a Virgin lançou a VSS Unity, a primeira nave espacial turística a realizar um voo orbital, para apenas 9 dias depois, a Blue Origin fazer o mesmo com o New Shepard, inclusive com Bezos levando uma passageira ilustre, a piloto do programa Mercury 13 Wally Funk, que se tornou a pessoa mais velha a ir para o espaço.

Esta foi inclusive uma espetada em Branson, visto que Funk era uma passageira pagante do programa da Virgin, mas não subiu por atrasos; Bezos a levou de graça.

Picuinhas à parte, a primeira fase do lançamento do LauncherOne ocorreu sem problemas, o que pode ser visto no vídeo oficial. A ação começa às 1:47:14.

No vídeo, é possível ver que o motor principal NewtonThree entra em operação normalmente, o primeiro estágio segue sem problemas, e o processo de separação de estágios não enfrenta percalço algum, bem como o processo de ignição do segundo estágio, que deveria atingir órbita baixa e lançar sua carga.

Só que deste ponto em diante, o caldo desandou. A telemetria apontava que o LauncherOne estava perdendo altitude, no que o host disse que os dados exibidos poderiam ser "erráticos", dando uma de João-sem-braço.

Alguns minutos depois, a conta da Virgin Orbit no Twitter postou uma mensagem, dizendo que o lançamento foi bem-sucedido.

Então, o negócio é o seguinte... (Crédito: Reprodução/Twitter)

Então, o negócio é o seguinte... (Crédito: Reprodução/Twitter)

Na transmissão no YouTube, o host não chegou a dizer que algo errado estava acontecendo, só se limitou a dizer que o 747 havia voltado em segurança... e pouco tempo depois, a transmissão foi encerrada.

No Twitter, o que se seguiu foi uma sequência de tweets postados manualmente (é possível conferir que eles foram publicados, via interface web, através do Tweetdeck, que ainda denuncia qual cliente os perfis usam para tuitar), com textos pré-definidos cuidadosamente escritos com antecedência, que foram postados em sequência, mesmo com a telemetria dando a entender que o lançamento deu chabú.

Ao que tudo indica, o estagiário da Virgin Orbit no controle do perfil do Twitter não tinha autonomia para postar qualquer coisa diferente do ordenado.

Ops (Crédito: Reprodução/Twitter)

Ops (Crédito: Reprodução/Twitter)

Somente 35 minutos depois, um novo post informou que uma "anomalia" impediu o LaunchOne de atingir seu objetivo, e o tweet comemorando o sucesso foi apagado. Na prática, o foguete e toda a carga útil foram perdidos. Historicamente, a Virgin chegou à órbita em 4 de 6 tentativas, no que a empresa não está conseguindo manter a cadência de sucessos.

A resposta foi impiedosa: tão logo o mercado abriu nesta terça-feira (10), as ações da Virgin despencaram 20%, mas se recuperaram depois. A administração do Reino Unido, que contava com um bom resultado, terá menos motivos ainda para investir na companhia de Branson, que não anda bem das pernas após fracassos passados, como a perda da VSS Enterprise em 2014.

No Reino Unido, uma investigação já está em andamento para identificar a origem da anomalia no LaunchOne, até porque o centro de lançamento horizontal na Cornualha consumiu 8 anos, e uma boa soma de dinheiro público, para ficar pronto, logo, é preciso apresentar resultados à população, e aos investidores.

Fracasso faz parte do processo de aprendizado, mas o que a Virgin Orbit/Galactic precisa para ontem, é de uma equipe de relações públicas que tenha a ombridade de admitir que algo não está certo, ao invés de tentar passar pano, mentir e desviar do assunto, quando as coisas não correrem como planejado. Isso é coisa de países que odeiam Ciência.

Fonte: Ars Technica

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