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The Last Oricru — de boas intenções...

The Last Oricru é um action RPG Souls-like que traz boas ideias de narrativa, mas tropeça feio na apresentação

1 ano e meio atrás

The Last Oricru é o novo game do estúdio tcheco GoldKnights, um RPG de ação que usa elementos de jogos Souls-like, com foco na jogabilidade cooperativa. Trata-se da versão comercial do obscuro indie game LostHero (2018), que trazia as mesmas mecânicas, design e ambientação, em uma apresentação mais "alpha".

The Last Oricru (Crédito: Divulgação/GoldKnights/Prime Matter)

The Last Oricru (Crédito: Divulgação/GoldKnights/Prime Matter)

Embora traga ideias interessantes, como uma história que pode tomar diversos rumos e levar a finais distintos, The Last Oricru não contribui com grandes novidades ao gênero, e possui um visual pouco polido.

O último o quê?!

A história de The Last Oricru gira em torno do protagonista, um homem que acorda em uma câmara criogênica e é imediatamente morto por uma criatura alienígena. Na sequência, ele acorda em um salão diante de um guardião chamado Maltis, que dá a ele (e ao jogador) uma explicação superficial do que está acontecendo:

O humano, chamado de "Silver" pelos nativos, está em um planeta chamado Wardenia, ocupado pelos noboru, humanoides de pele pálida (que se parecem com os engenheiros de Prometheus, mas também lembram os despertos de Destiny), e os ratkin, os homens-rato, considerados violentos e irracionais. Ambas raças estão em conflito, no que a primeira, que se considera superior, escravizou a segunda.

The Last Oricru (Crédito: Divulgação/GoldKnights/Prime Matter)

The Last Oricru (Crédito: Divulgação/GoldKnights/Prime Matter)

Silver, assim como outros humanos encontrados pelos naboru, é um "oricru", e possui o dom da imortalidade, ou melhor dizendo, pode reviver infinitas vezes após ser morto, o que o grupo de noborus do queal Maltis faz parte, trata como uma vantagem contra os ratkin, e busca treiná-los.

Porém, logo no início você começa a perceber que nem tudo é o que parece: nem os noboru são tão benevolentes, nem os ratkin são completamente maus e ignorantes. Silver pode interagir com todas as raças de Wardenia (há mais de duas), forjar alianças e realizar missões, enquanto tenta desvendar a verdade sobre de onde ele veio, quem ele é, e o que a "Dama do Lago", a mulher misteriosa que surgiu uma visão, quer com ele.

Boas ideias, execução nem tanto

Tecnicamente, The Last Oricru é um RPG de ação, que incorpora vários elementos dos jogos da FromSoftware, mas possui algumas ideias e conceitos originais. Uma delas é o conceito de alinhamento com as diferentes raças de Wardenia, que aumentam ou diminuem conforme suas escolhas e missões realizadas.

Por exemplo, logo no início o game permitiu que eu realizasse uma missão para Gok, o armeiro ratkin da fortaleza inicial, que teve consequências posteriores; dependendo de como você jogar, você será melhor visto por uma raça e desprezado por outra, influindo diretamente nos finais possíveis, que são vários.

Outro elemento interessante, e parte essencial de The Last Oricru, é o co-op. Embora plenamente possível de ser curtido sozinho, o game foi desenvolvido para estimular a jogatina compartilhada, e suporta tanto a conexão online, com uma criação de sala e convites abertos, quanto dois jogadores locais, com tela dividida.

The Last Oricru (Crédito: Reprodução/GoldKnights/Prime Matter)

The Last Oricru (Crédito: Reprodução/GoldKnights/Prime Matter)

A desenvolvedora GoldKnights já havia usado esses conceitos em LostHero, um game suficientemente interessante para chamar a atenção da distribuidora Prime Matter, um dos braços da Plaion (ex-Koch Media, parte do Embracer Group), e com um contrato e dinheiro adicionais, o game experimental assumiu a forma final, entregue como The Last Oricru, para consoles da atual geração e PC/Windows.

Da parte importada dos jogos Souls-like, há a mecânica de combate e a dificuldade elevada no modo tradicional, mas há também um modo História, para quem não deseja sofrer muito e quer curtir a narrativa, que é bem interessante. Os ambientes, de cidades medievais dos noboru às cavernas vulcânicas dos ratkin, são bem imersivas.

Porém contudo todavia, o game possui algumas falhas difíceis de ignorar na parte técnica. Os cenários, embora amplos, são genéricos e pouco criativos, mas os modelos dos personagens são os que merecem as críticas mais duras.

O nível de detalhamento de Silver, cuja opção de customização (fora os equipamentos) se resume ao cabelo, com ou sem, e a textura da barba lembra jogos de duas gerações atrás, mas o pior são os "olhos mortos", que fitam o infinito e não o personagem.

Tá olhando pra onde, minha filha? (Crédito: Reprodução/GoldKnights/Prime Matter)

Tá olhando pra onde, minha filha? (Crédito: Reprodução/GoldKnights/Prime Matter)

Quem assistiu Tico e Teco: Defensores da Lei, no que Bob, o Viking é uma sacaneada com personagens de filmes como Beowulf e O Expresso Polar, sabe bem do que eu estou falando.

A mecânica de combate também não é nada inovadora. Você ataca com armas de uma ou duas mãos, lança magias adicionais, se cura com itens e poções, usa escudos para se defender, usa esquiva e rolamentos... você sabe, o de sempre. Não é possível escolher uma classe, e os HUDs são muito simples. A barra de energia dos chefes, por outro lado, parece com um copy/paste do Paint.

Eu dou um desconto para a GoldKnights por ser um estúdio pequeno, estreante e sem muita verba disponível, tal qual os canadenses da Cradle Games, responsáveis por Hellpoint; cabem aos desenvolvedores darem atenção às derrapagens de The Last Oricru na parte técnica, para evitá-los em games futuros.

Conclusão

The Last Oricru não é um jogo terrível. Ele oferece interações interessantes para um RPG que usa elementos de títulos Souls-like, e possui uma trama muito interessante e intrincada, com múltiplos finais possíveis.

No entanto, a apresentação é o carro-chefe de qualquer produto, e é justamente nela que a GoldKnights derrapou. À primeira vista, um desavisado pode pensar que se trata de um jogo lançado uma década atrás, e não um título desenvolvido especificamente para os consoles atuais, além do PC.

Como dizia um antigo comercial de desodorantes, "a primeira impressão é a que fica", e neste caso, ela não é das melhores.

The Last Oricru (Crédito: Reprodução/GoldKnights/Prime Matter)

Eu acredito que com um pouco mais de polimento nos gráficos, The Last Oricru chamaria muito mais atenção, mas quem conseguir passar do problema com os gráficos e HUDs simples demais, encontrará um game que, mesmo sem um nível de excelência de um Elden Ring, oferece horas de entretenimento, até para desvendar todos os finais e ramificações da história, que é bem rica.

No mais, a GoldKnights é uma desenvolvedora que merece entrar no radar do público, para seus próximos títulos.

The Last Oricru — Ficha Técnica

  • Plataformas — PS5, Xbox Series X|S e Windows (analisado no PS5, com cópia cedida pela Plaion);
  • Desenvolvedora — GoldKnights;
  • Distribuidora — Prime Matter;
  • Classificação Indicativa — 16 anos.

Pontos fortes:

  • Construção de mundo interessante;
  • Jogo se molda com escolhas do jogador;
  • Foco no co-op, online e local.

Pontos fracos:

  • Modelos de personagens bem ruins;
  • Combate não traz nada de novo;
  • HUDs simples até demais.

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