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EUA: meteoro de origem interestelar atingiu a Terra em 2014

Departamento de Defesa dos EUA relata queda de meteoro de origem interestelar em 2014, 3 anos antes do 'Oumuamua ser detectado

2 anos atrás

Um pequeno meteoro pode ter destronado o 1l/'Oumuamua, até então reconhecido como o primeiro objeto interestelar (de origem externa ao Sistema Solar), detectado em nossa vizinhança, e que alguns até cogitaram se tratar de "tecnologia alienígena" (foi muita vontade de que Encontro com Rama se tornasse real).

Segundo documentos do Departamento de Defesa dos Estados Unidos que se tornaram públicos recentemente, um objeto que se desintegrou na atmosfera também teria vindo de além das cercanias do nosso sistema, não fosse um detalhe: a colisão se deu em 2014, três anos antes do mencionado acima dar as caras por aqui.

Artigo publicado em 2019 sugere que meteoro que explodiu na atmosfera em 2014 veio de fora do Sistema Solar (Crédito: urikyo33/Pixabay)

Artigo publicado em 2019 sugere que meteoro que explodiu na atmosfera em 2014 veio de fora do Sistema Solar (Crédito: urikyo33/Pixabay)

A descoberta é atribuída a Amir Siraj e Avi Loeb, astrônomos da Universidade de Harvard, sendo o segundo famoso por ser o autor original da hipótese de que o 'Oumuamua seria um objeto não-natural, fruto de tecnologia extraterrestre, algo que nunca teve respaldo e nem foi levado a sério. Ainda assim, o furor em torno do bólido, que hoje se acredita ser um fragmento desgarrado de um exocometa ou exoplaneta, incentivou a dupla a procurar registros de outros "visitantes".

Siraj recorreu ao CNEOS (Center for Near-Earth Object Studies, ou Centro de Estudos de Objetos Próximos à Terra), uma divisão da NASA JPL voltada ao estudo e mapeamento de objetos celestes cuja órbita e trajetória passem próximos à Terra, o que inclui meteoroides, asteroides e cometas. Seu banco de dados conta com o registro de mais de 1.000 itens diferentes, de diversas escalas.

Dentre as centenas de objetos mapeados pelo CNEOS, um deles diferia: um meteoro catalogado em 2014, que queimou na atmosfera e explodiu sobre a ilha de Manus, a 5.ª maior de Papua-Nova Guiné. Embora pequeno (entre 20 e 200 metros de comprimento), ele estaria viajando a uma velocidade absurda, em torno de 209,2 mil km/h, ou ~58,12 km/s.

Nenhum objeto estelar conhecido, nos limites do sistema solar, consegue viajar em tão alta velocidade, o que levou a classificar o "incidente de Manus" como o impacto de um meteoro de origem externa ao Sistema Solar, de fato o primeiro registrado, 3 anos antes da detecção do 'Oumuamua.

A pergunta, claro, é "por que isso não foi noticiado antes?"

Na verdade, há uma boa razão para isso. O artigo original (cuidado, PDF) foi submetido ao arXiv, o repositório de acesso aberto da Universidade de Cornell, em 2019, em caráter preliminar e nunca foi passou pelo processo tradicional de revisão por pares, por falta de dados que pertencem ao governo americano.

Isso acontece porque parte dos sensores do CNEOS são operados pelo Departamento de Defesa dos EUA, e cuja missão prioritária não é buscar asteroides e meteoroides perambulando pelo espaço, mas analisar anomalias atmosféricas que possam identificar detonações nucleares. Claro, eles também são ótimos para registrar meteoros.

Como os dados desses sensores em específicos são considerados secretos pelo Departamento de Defesa, a NASA JPL não tem acesso a eles, e consequentemente, Siraj e Loeb também não puderam acessá-los para checar a margem de erro na velocidade do meteoro de Manus. Dessa forma, a pesquisa não pôde ser publicada oficialmente, e o estudo foi esquecido e engavetado, tendo sido classificado como "não confirmado".

No início de abril de 2022, porém, o Comando Espacial dos Estados Unidos, o braço militar voltado ao espaço subordinado ao Departamento de Defesa, não só tornou público os dados referentes ao meteoro de Manus, como confirmou a velocidade média estimada do mesmo, atestando se tratar de um objeto de origem interestelar, o primeiro oficialmente registrado e antes do 'Oumuamua.

O 'Oumuamua, ou "primeiro mensageiro de terras distantes" em havaiano foi, na verdade, o segundo (Crédito: ESO/M. Kornmesser)

O 'Oumuamua, ou "primeiro mensageiro de terras distantes" em havaiano foi, na verdade, o segundo (Crédito: ESO/M. Kornmesser)

A grande diferença entre o 1l/'Oumuamua, o 2l/Borislov, o primeiro cometa de origem externa ao Sistema Solar, e até então o segundo (agora terceiro) objeto interestelar, e o meteoro de Manus, é que o último não só se desintegrou na atmosfera da Terra, como há grandes chances de que seus fragmentos possam ser encontrados.

Em caso positivo, os fragmentos do meteorito (nota para nomenclatura: quando no espaço, o nome é meteoroide; ao entrar na atmosfera, passa a se chamar meteoro ou estrela-cadente; ao cair, passa a ser meteorito) poderão fornecer grandes informações sobre a formação e composição de corpos celestes externos ao Sistema Solar.

O pequeno, minúsculo detalhe é conseguir recuperá-los, visto que os restos do meteorito estão espalhados pelo fundo do Pacífico Sul, ao longo da costa da ilha de Nova Guiné. De qualquer forma, Amir Siraj já mencionou o desejo de realizar uma expedição para encontrá-los.

Referências bibliográficas

SIRAJ, A., LOEB, A. Discovery of a Meteor of Interstellar Origin. arXiv (Cornell University), 5 páginas, 15 de abril de 2019. Disponível em https://doi.org/10.48550/arXiv.1904.07224.

Fonte: VICE

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