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Os riscos da rede 2G e por que desligá-la não é tão simples

Redes 2G se tornaram sinônimo de ataques; diversos países se organizam para desligá-las, mas no Brasil, o 3G pode ser encerrado antes

2 anos atrás

As redes 2G (GSM) continuam sendo bastante usadas no Brasil e em diversas regiões do mundo. A tecnologia legada de telefonia celular, em situações ideais, deveria ter sido substituída pelo 3G, e este pelo 4G. O 5G em tese não é destinado apenas para conexões móveis, e deverá operar em paralelo com redes LTE.

Na prática, porém, desligar as redes 2G é uma complicação. Muitas regiões dependem delas devido à falta de cobertura do 3G e o 4G, e diversos equipamentos não operam nos padrões mais recentes, como maquininhas de cartão. Por outro lado, seus protocolos arcaicos fazem do 2G uma porta de entrada para hackers.

Torre de telefonia celular (Crédito: blickpixel/Pixabay) / 2g

Torre de telefonia celular (Crédito: blickpixel/Pixabay)

Tomemos o Brasil como exemplo. Nosso país é o 5º maior em extensão territorial, ficando atrás da Rússia, Canadá, China e Estados Unidos, e sendo tão grande, possui uma série de problemas acerca da cobertura das redes de telefonia celular.

Longe dos grandes centros e indo mais para o interior do país, há muitas localidades que só podem contar com o 2G para conexão de dados e telefonia móveis, e outros nem isso têm. Exatamente por isso, há um consenso de que o 3G será desligado no Brasil antes do 2G, por que os usuários da rede de 3ª geração podem ser atendidos pelo 4G sem nenhum prejuízo.

Os EUA enfrentam problemas similares, sempre com o 2G tendo maior cobertura nos rincões afastados das metrópoles, mas algumas operadoras, como a AT&T, já encerraram a rede legada e também o 3G, de modo a se concentrar no 4G; a T-Mobile, por sua vez, desligou sua rede 3G antes do 2G.

Por aqui, a previsão mais otimista é da Claro, que pretende fechar o 2G em 2024 e o 3G em 2026, segundo o cronograma global. Vivo e TIM, por sua vez, se organizam para compartilhar as suas redes GSM, mas embora considerem o desligamento, a tecnologia ainda é considerada estratégica.

O posicionamento da Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) é de manter o 2G funcionando de modo a manter o suporte a certos dispositivos da Internet das Coisas, que usam terminais M2M, presentes em máquinas de cartões de crédito, rastreadores de veículos e sensores diversos, entre outros. É muito mais simples manter o 2G do que promover a atualização de toda uma infraestrutura funcional, o que implicaria em custos para empresas e repasse inevitável deles para o consumidor.

Máquinas de cartões ainda dependem do 2G (Crédito: AhmadArdity/Pixabay)

Máquinas de cartões ainda dependem do 2G (Crédito: AhmadArdity/Pixabay)

O grande problema em manter o 2G ativo, no entanto, é o fato de seus protocolos de segurança, que embora existam e funcionem, são bem arcaicos e passaram por poucas atualizações e incrementos nos anos seguintes, devido sua depreciação em países desenvolvidos, em prol do 3G e do 4G. Nessas regiões, o GSM se tornou um caminho fácil para hackers aplicarem golpes em usuários e sistemas.

O problema é mais concentrado em usuários finais, já que por padrão, iPhones e dispositivos Android tentarão por padrão se conectar a qualquer tipo de rede disponível, incluindo o 2G, o que deixa a porta aberta para golpistas. Nos países em que o GSM está sendo abandonado ou já foi quase que totalmente encerrado, não é interessante manter o suporte à rede legada em cada celular fabricado.

A EFF (Electronic Frontier Foundation), entidade sem fins lucrativos que defende a liberdade de expressão e a privacidade digital, é importante que hajam formas de desligar o suporte ao 2G em celulares, e recebeu com otimismo a notícia de que o Google está implementando o recurso no Android 12. A opção pode ser encontrada em "Configurações", "Rede e Internet", "SIMs", "Permitir 2G".

Infelizmente, nem tudo são flores. Primeiro, o recurso é exclusivo do Android 12, e o aparelho deve ser compatível com uma atualização da camada de abstração Radio HAL, para a versão 1.6. O recurso é bem mais provável de estar presente nos celulares novos, que já saem de fábrica com a última versão do sistema do Google, do que em dispositivos que forem elegíveis para o Android 12.

Por fim, em se tratando do Android, fabricantes e operadoras podem capar o recurso, por conveniência e/ou questões referentes a mercados diversos, como o brasileiro, por exemplo.

Opção para desativar o suporte a 2G, incluída no Android 12, vem ligada por padrão, mas pode ser desligada facilmente (Crédito: Reprodução/Google)

Opção para desativar o suporte a 2G, incluída no Android 12, vem ligada por padrão, mas pode ser desligada facilmente (Crédito: Reprodução/Google)

Para usuários de redes 3G e 4G, desligar o suporte a 2G não influirá em absolutamente nada, visto que o GSM mal pode dar conta de transmissão de dados, e basicamente só serve para ligações de voz e SMS; basta lembrar como era a navegação em browsers WAP.

Ainda que limitado, a opção de desligar o 2G em celulares Android é uma opção bem-vinda por questões de segurança, que ao menos por enquanto, não deverá ser adotada pela Apple em seus iPhones; talvez o iOS 16 resolva o problema, mas vai saber.

Já para outras soluções e dispositivos legados, e em países em desenvolvimento como o Brasil, onde mesmo o 3G não possui uma ampla cobertura, é bem provável que o 2G continue vivo e bem por muito tempo, sendo a única opção de conexão móvel para muita gente, mesmo considerando todos os riscos.

Fonte: Ars Technica

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