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Córnea sintética devolve visão a homem legalmente cego

Visão (biônica) além do alcance: novo tipo de córnea artificial é esperança para deficientes visuais quando não há doadores

3 anos atrás

O transplante de córnea é um procedimento cirúrgico hoje considerado simples, que permite a pessoas que perderam parte ou toda a visão, por conta de doenças ou danos nessa parte do olho, voltarem a enxergar.

O problema é que a cirurgia depende de doações de córneas, retiradas de doadores falecidos, o que esbarra em uma série de empecilhos. No Brasil, por exemplo, a doação de órgãos deve ser autorizada pelos familiares, mesmo se o morto tiver deixado o desejo expresso de doá-los em vida, que pode ser negado por seus parentes.

Demonstração da córnea artificial já implantada (Crédito: Reprodução/CorNeat Vision)

Demonstração da córnea artificial já implantada (Crédito: Reprodução/CorNeat Vision)

Considerando esses e outros problemas, há pesquisas que estudam soluções alternativas para a substituição de uma córnea doente. Um desses métodos é de autoria de um brasileiro, o dr. Francisco Figueiredo, da Universidade de Newcastle, no Reino Unido, que usa células-tronco para regenerar o órgão.

Outra opção é o uso de córneas artificiais. A organela age como se fosse uma lente fixa, que junto com o cristalino, atuam para focar a luz que entra pela pupila de modo que a imagem se forme na retina. O cristalino sofre de doenças específicas, como a catarata, um envelhecimento natural que o torna opaco, reduzindo a passagem de luz e efetivamente levando a cegueira.

Para esses casos, uma cirurgia para a troca do cristalino doente por um artificial é bem mais simples, e inclusive é feita no SUS. A córnea, mesmo ficando na parte mais externa do olho, não é tão simples de ser substituída, o que leva à opção do transplante como a mais prática, mas existem processos para o uso de uma lente ocular artificial.

O que nos traz à pesquisa da CorNeat Vision, uma empresa israelense especializada em tecnologias biomiméticas (componentes que imitam partes do corpo humano) para a saúde visual. A KPro é a primeira córnea artificial que pode ser implantada diretamente no olho, para a total substituição da original doente.

O processo cirúrgico leva pouco mais de uma hora, não depende de uso adicional de tecidos do paciente, e em semanas, a prótese está integrada completamente ao olho.

O primeiro paciente a receber duas córneas sintéticas KPro foi um israelense de Haifa chamado Jamal Furani, de 78 anos. Após um histórico de edema e outras doenças, ele desenvolveu problemas oculares que não foram sanados com cirurgias e até mesmo um transplante.

Com ambas córneas quase que totalmente opacas e apenas uma fração de sua visão original, Jamal foi declarado legalmente cego, visto que cada novo procedimento cirúrgico reduz suas chances de recuperação, devido à exposição a infecções e sua idade avançada.

O procedimento realizado pela equipe da profa. Irit Bahar, chefe do Departamento de Oftalmologia do Rabin Medical Center, e supervisionada pelo dr. Gilad Litvin, co-fundador e CMO da CorNeat Vision e criador da córnea sintética, foi rápido e um dia depois do procedimento, Jamal já era capaz de reconhecer pessoas visualmente e ler, algo até então impossível.

Paciente que recebeu a KPro faz teste visual, após 10 anos cego dos dois olhos por conta de doenças nas córneas (Crédito: Divulgação/CorNeat Vision)

Paciente que recebeu a KPro faz teste visual, após 10 anos cego dos dois olhos por conta de doenças nas córneas (Crédito: Divulgação/CorNeat Vision)

Você pode acompanhar o vídeo no site da CorNeat Vision (áudio em hebraico, com legendas em inglês), já que não há opção de embed.

A vantagem da KPro, segundo a CorNeat Vision, é que o processo de fabricação é totalmente escalável e dada a simplicidade e baixo índice de rejeição, a empresa espera que sua técnica possa vir a se tornar o método padrão para transplante de córnea no futuro, dispensando completamente o transplante.

Segundo Almog Aley-Raz, co-fundador e CEO da CorNeat Vision, o procedimento realizado em Jamal faz parte da primeira fase de estudos da KPro em pacientes humanos, que se estenderão a mais voluntários em Israel, Estados Unidos, Canadá, França e Holanda ainda em 2021, com o mesmo quadro: cegueira completa e histórico de intervenções anteriores que não deram resultados finais.

Com o tempo, e caso a KPro venha a ser aprovada pelos órgãos médicos para uso em cirurgias, ela pode vir a se tornar barata o suficiente para se tornar um insumo básico nos programas de saúde pública do mundo todo, Brasil incluso, vindo a se tornar uma chance maior para muitos recuperarem a visão.

Crédito: PR Newswire, Israel Hayom, Engadget.

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