Ronaldo Gogoni 3 anos atrás
A nova geração de consoles trouxe novos problemas para o Meio Ambiente. Assim como ocorreu nas gerações passadas, o lançamento do PS5 e do Xbox Series X|S implica na produção de novos equipamentos de hardware, e muitos usuários irão se desfazer de equipamentos e jogos antigos, onde em muitos casos acabam no lixo. Só que desta vez, o maior consumo de banda e serviços de processamento na nuvem também implicam em maiores emissões de carbono.
Em primeiro lugar, é preciso admitir que o mercado de games, embora o mais lucrativo do mundo, não é o maior gerador de e-waste, ou lixo eletrônico, mérito este do mercado mobile, com fabricantes incentivando usuários iOS e Android a trocarem de celular todo ano.
Ainda assim, os games possuem culpa no cartório. Ainda que uma geração demande a aquisição de um console e acessórios uma vez, é preciso levar em conta a impressão dos jogos para o mercado consumidor. Somando tudo, cada nova geração aumenta a demanda por metais raros para componentes, plástico, papel e etc.
Para cada usuário que cuida bem de seus consoles e jogos, e os mantêm como parte de um acervo ou coleção, há tantos outros que passam os produtos para a frente para adquirir o novo aparelho da vez, seja vendendo ou doando. Em algum momento esses consoles e jogos deixarão de funcionar (vida útil) e a reciclagem ainda não é tão difundida.
A verdade é que boa parte dos consoles antigos vai para o lixo comum a cada novo lançamento de geração, e nem todos os países possuem uma legislação sobre o que fazer com os resíduos eletrônicos. No Brasil, o Artigo 33 da Lei N° 12.305/2010 diz que o descarte deve ser feito através da logística reversa, ou seja, o fabricante é obrigado por lei a recolher os produtos que vende, e a descartá-los corretamente.
Ao mesmo tempo, o cidadão não pode jogar TVs, celulares, videogames e nem mesmo baterias e pilhas no lixo comum, sob risco de ser multado, mas como a fiscalização não é lá grande coisa... de qualquer forma, uma Sony da vida dificilmente faria aqui o que a Atari fez com os milhões de cartuchos de E.T.: The Extra-Terrestrial.
Os fabricantes de games vêm se adequando ao longo dos anos, e foi a Sony quem deu um passo significativo em 2012, quando abandonou a impressão de manuais para os jogos do PS Vita, movimento seguido no PS4 e PS5, e que foi imitado por Microsoft e Nintendo em seus respectivos sistemas.
A mesma Sony também tomou a decisão no antigo portátil de passar a vender todos os jogos de seus consoles em versões física e digital, como forma de reduzir a demanda pelos discos impressos. Tal medida, também seguida pelos concorrentes, permitiu à Microsoft lançar o Xbox One S All Digital, o 1º console de mesa de uma grande fabricante sem uma entrada de mídia física.
Hoje, temos o PS5 Digital Edition e o Xbox Series S, ambos também sem leitor de discos.
A produção de novos consoles e a impressão de jogos pode gerar problemas até controláveis, só que é preciso levar em conta o maior consumo de banda e processamento em nuvem nos últimos anos, não só por consoles e PCs mas também por dispositivos móveis e empresas. Dispositivos conectados dependem de dados providos por servidores, grandes consumidores de energia e por conseguinte, emissores de carbono em larga escala.
Em um estudo (cuidado, PDF) publicado em 2019, pesquisadores relataram que a base instalada de gamers dos EUA corresponde a um consumo de energia de 34 TWh/ano, o equivalente a 2,4% de toda energia consumida nos EUA em um ano. Colocando em perspectiva, isso é mais do que o estado de West Virginia gasta no mesmo período.
Ao mesmo tempo, esse número representa uma geração de dióxido de carbono correspondente a 5 milhões de carros. E você achando que videogame era um passatempo 100% verde...
A demanda por processamento em nuvem, que irá aumentar com serviços como Project xCloud, Amazon Luna e outros, também causará efeitos negativos no Meio Ambiente. Em outro estudo, pesquisadores apontam que caso a demanda por processamento distribuído pelos gamers aumente 30%, até 2030 o índice de emissões pela indústria de jogos terá aumentado 30%, o que não é uma boa coisa.
A preocupação com o Meio Ambiente não passou despercebida por Microsoft e Sony, que pretendem se tornar companhias com zero emissões de carbono, o que inclui suas divisões Xbox e PlayStation, até 2030 e 2050 respectivamente.
A Nintendo, por sua vez não fixou datas, mas implementou uma série de medidas para reduzir suas emissões, tais como:
A questão da ética na produção dos consoles e jogos também é levada em conta: tanto Sony quanto Microsoft afirmam não usar minerais e metais raros oriundos de zonas de conflito, ou de fornecedores em que abusos e infrações aos direitos humanos foram constatados. Redmond é especialmente transparente, ao listar a origem dos minerais 3TG (tungstênio, tântalo, estanho e ouro).
Por fim há a cadeia de manufatura, totalmente dependente da mão de obra chinesa, esta por si só uma fonte de controvérsia ao longo dos anos. A Foxconn é a principal montadora dos consoles da Nintendo, Sony e Microsoft, e não raras foram as vezes em que os parceiros comerciais da fábrica, incluindo também a Apple, foram questionados sobre as condições de trabalho dos funcionários, tendo em vista um menor custo homem-hora e amortização do preço final de custo.
O impacto dos games no Meio Ambiente deve ser combatido não só pelos fabricantes, controlando suas emissões e desenvolvendo produtos que consomem menos energia, ou serviços que dependam menos da nuvem, como também pelos consumidores, que devem ser educados a consumir menos, gerar menos lixo e reparar seus jogos antigos, de modo a passa-los para quem ainda deseje curtir títulos de gerações passadas. Melhor do que mandar tudo para um aterro.
Fonte: WIRED.