Carlos Cardoso 2 anos e meio atrás
Starlink é o projeto da SpaceX que vai financiar a colonização de Marte pela SpaceX. Em termos de negócios, é uma idéia que não tem nada de revolucionária, mas vale mais que a própria SpaceX.
O conceito de fornecer acesso Internet através de satélites não é novo, há várias empresas que atuam nesse mercado, mas as desvantagens são imensas. Os links são caros e lentos, com limitação de banda trafegada e principalmente, uma latência horrenda, culpa desse alemão aqui:
O problema é que esses serviços usam satélites geoestacionários, na chamada Órbita de Clarke, na altura do Equador, a 35786Km de altitude. Nessa altitude um satélite leva 23h56m4s para completar uma órbita, que por acaso é o mesmo tempo que o planeta leva para girar em torno de seu eixo. Assim o satélite aparece fixo em relação a um ponto no solo.
A parte ruim é que a velocidade da luz é finita, e lenta. Então mesmo desconsiderando tempo de processamento, um sinal enviado ao satélite e retransmitido de volta para o mesmo ponto na Terra percorreria 71 572Km.
Na velocidade da luz esse percurso leva 238.7ms. Na prática o ping dos serviços de satélite fica na casa de 600ms. Isso inviabiliza jogos, controles de drones, telecirurgias e vários outros usos.
A vantagem é que um satélite sozinho consegue cobrir um hemisfério inteiro.
Cada satélite do Starlink tem bem menos área de cobertura, mas eles compensam isso com muitos satélites. Quantos muitos? Muitos muitos. Originalmente a SpaceX conseguiu aprovação para lançar 12 mil satélites. Em Outubro de 2019 o FCC autorizou mais 30 mil.
Como uma empresa vai conseguir lançar tantos satélites, se é algo tão caro? Simples, você só precisa criar uma empresa de lançamentos espaciais, desenvolver tecnologia de reutilização de foguetes, vender seus serviços para clientes pagantes, e depois que os foguetes voarem umas 3 ou 4 vezes, use-os para lançar seus próprios satélites.
Com isso a SpaceX já colocou em órbita 895 satélites, e depois de testes fechados resolveram começar a convidar usuários para um programa beta chamado “Beta Melhor do que Nada”.
No email-convite eles explicam que ainda estão com uma cobertura bem esparsa, portanto os usuários não devem esperar nada mais rápido do que 50Mb/s a 150Mb/s nos próximos meses, com ping entre 20ms e 40ms. Por volta do Inverno de 2021 eles esperam alcançar pings de 16ms a 19ms.
Agora a dolorosa: O kit da antena, receptor e um roteador WIFI sai por US$499. O custo mensal, US$99.
A opinião entre os especialistas é que a SpaceX está subsidiando a instalação. Para receber sinais de um satélite geoestacionário qualquer lata de goiabada resolve, mas os satélites da Starlink estão se movendo, e rápido. A antena precisa apontar para um satélite enquanto ele se move de horizonte para horizonte, depois voltar, achar outro satélite e repetir o processo.
Isso era feito mecanicamente, nos primórdios do radar era inclusive feito manualmente, com uma manivela que os operadores usavam para mudar a direção da antena.
Claro, hoje em dia isso é inviável, pois embora até dê pra usar o XVideos com uma mão só, outras atividades, como games demandam o uso completo dos membros superiores.
Foi desenvolvida então uma tecnologia chamada phased array, na qual uma antena altera o ângulo e direção do sinal que transmite e recebe eletronicamente, sem nenhuma parte móvel.
Nos destroieres com sistema de combate Aegis a tecnologia é utilizada para enviar feixes precisos do radar de controle de tiro para vários alvos simultaneamente, sem precisar de mais de um radar. Chegando a mais de 5MW, um radar SPY-1 desses é capaz de fritar os equipamentos eletrônicos de um inimigo que chegue perto demais.
Essas placas mais claras são de fibra de vidro e protegem as antenas do radar AN/SPY-1 (Crédito: US Navy)
Como a maioria das casas é menor que o destroier, a SpaceX teve que miniaturizar uma antena com tecnologia phased array para caber em algo do tamanho de uma pizza grande. Isso não é nada barato. Com certeza na escala atual de produção, não dá pra ser feito com US$500.
E claro, como a Internet é a Internet no Reddit já estão chilicando dizendo que “é muito caro”.
Só que Starlink não é pra quem mora em Nova York ou São Paulo. Não é nem mesmo pra quem mora em Niterói. Starlink é um serviço para regiões remotas, interior, áreas sem cobertura (ok, isso pode ser dito de boa parte do Rio).
A triste realidade é que saindo dos grandes centros as opções são escassas, mesmo nos Estados Unidos. E o preço mesmo de beta está BEM competitivo. A Hughesnet oferece 25Mbps via satélite a US$150/mês, e a Viasat 50Mbps a US$170.
Comparando laranjas com laranjas, a Starlink já é vantajosa só no preço.
Por isso que a Forbes avaliou que em 2025 o valor de mercado da Starlink deve chegar a US$30 bilhões, com receita anual na faixa de US$10.4 bilhões. Em comparação Elon Musk avalia que a receita da SpaceX deve estabilizar em US$3 bilhões.