Carlos Cardoso 3 anos e meio atrás
A Primeira Guerra Mundial, a Guerra para acabar com Todas as Guerras resultou em algumas das mais terríveis cenas da história, mas também demonstrou o mais nobre espírito humano, em momentos como a tão falada Trégua de Natal.
Nenhuma guerra foi como a Grande Guerra. Semanas se tornaram meses que se tornaram anos, tropas nas trincheiras a menos de 100 metros do inimigo não se moviam, tendo que enfrentar a fome, a sede, doenças, hipotermia e o tédio. Levantar a cabeça era quase garantia de ser atingido por um sniper.
Em casa as pessoas recebiam notícias sanitizadas, empolgantes, promovendo heroísmo e sacrifício, já no fronte os soldados aos poucos foram perdendo o entusiasmo, à medida que o Natal de 1914 se aproximava.
A ideia de uma trégua passou pela cabeça de muita gente, ela foi inclusive proposta oficialmente a ambos os lados pelo Papa Bento XV, que foi mui educada e diplomaticamente mandado pastar.
O que os comandantes não esperavam é que a trégua surgisse naturalmente. Nos dias anteriores ao Natal, os bombardeiros começaram a diminuir, unidades negociavam um cessar-fogo informal para recolher mortos e feridos, e os soldados mais ousados trocavam cumprimentos e cigarros.
Em ambos os lados as trincheiras eram decoradas, árvores de Natal improvisadas montadas, e aos poucos um acordo de cavalheiros foi negociado. Atiradores inimigos não atiravam mais nos grupos que saíam das trincheiras para se lavar, esticar as pernas ou comer.
Na noite do dia 24 de dezembro de 1914, grupos cantavam canções de Natal uns para os outros. Franceses, ingleses e alemães, e em uma ocasião até alemães e russos saíram das trincheiras, desarmados, e se encontraram na Terra de Ninguém. Os relatos falam de soldados que nem sabiam mais por que estavam lutando, ambos os lados estavam cansados da guerra.
O comando não gostou nada disso, ordens vieram para cancelar qualquer confraternização com o inimigo, mas mesmo oficiais locais na maioria das vezes ignoravam ordens superiores. indo ter com seus pares. A confiança era tanta que um soldado britânico aspirante a barbeiro foi visto cortando o cabelo de vários colegas alemães, que dias atrás atiravam nele e agora não viam problema em ficar à mercê de suas tesouras e navalhas.
Historiadores divergem se os famosos jogos de futebol aconteceram. Hoje o consenso é que na maioria os grupos jogaram internamente, mas sim, alguns jogos entre ingleses e alemães foram realizados.
Com medo de desmoralizar a guerra, a mídia censurou o acontecido, mas depois de uma semana o New York Times publicou sobre a Trégua de Natal, com cartas de soldados contando as histórias. Logo a mídia dos outros países seguiu atrás e a reação na Inglaterra foi a melhor possível, o povo adorou.
Estima-se que mais de 100 mil soldados participaram da Trégua de Natal, que em muitos lugares durou até depois do ano novo, com repetidas visitas para trocas de souvenires e rações de combate.
O medo no alto-comando era que a trégua se transformasse em um motim, pois a pior coisa que você pode fazer uma guerra é humanizar o inimigo, no momento em que ele se torna uma pessoa real, como você, o ímpeto de matá-lo por causa de um bando de engravatados que não conseguem resolver seus problemas conversando meio que desaparece.
A muito custo a trégua de Natal acabou e com a Primeira Guerra Mundial se tornando mais e mais feroz, violenta e implacável, em 1915 poucos casos de Trégua de Natal ocorreram, e depois disso, nunca mais.
Até hoje a Trégua de Natal é lembrada, com monumentos, encenações histórias e museus, e a mensagem é explícita para os tempos atuais: se inimigos ferrenhos que dias antes tentavam a todo custo se matar no campo de batalha conseguem colocar suas diferenças de lado para celebrar o Natal, é patético gente dar chilique se recusando a sentar na mesma mesa da ceia que o parente que votou no candidato errado.