Dori Prata 4 anos atrás
A minha relação com a franquia Assassin's Creed pode ser classificada como… estranha. Apesar de sempre ter adorado o conceito dela nos levar a diferentes momentos históricos interessantes, eu nunca consegui acompanhá-la da maneira que gostaria. O primeiro jogo por exemplo eu só fui dar uma chance muitos anos após o seu lançamento e quando fiz isso, chegar ao seu final foi uma tarefa bastante traumatizante.
Com uma mecânica engessada e missões muito repetitivas, o título me fez criar uma certa resistência inconsciente à série e quando resolvi jogar o segundo, outras obrigações me fizeram largá-lo pela metade. Depois foi a vez de me interessar pelo Assassin's Creed III, que chamou a minha atenção por se passar durante a Revolução Americana e quando decidi experimentá-lo, quanta decepção.
Contando com um novo protagonista que era meio inglês, meio mohawk, o que poderia ser um personagem fascinante acabou se mostrando muito menos carismático do que o tão adorado Ezio Auditore. No início a sua história até consegue nos prender, com o jogador querendo saber os detalhes do passado do sujeito, mas logo percebemos que ela nunca chega a ser corretamente explorada.
Porém, o que acabou me afastando do jogo foram as diversas decisões de design que considero equivocadas. A principal delas é a tentativa de tornar o título o mais cinematográfico possível, limitando assim as ações que podemos tomar durante as missões. Jogar o Assassin's Creed III era um constante exercício de tentativa e erro, com o jogo nos colocando para refazer muitas das suas missões simplesmente por não termos realizado aquilo o que seus criadores idealziaram.
Para um título de mundo aberto e com foco em termos que passar despercebido a maior parte do tempo, essa limitação acabava se mostrando extremamente irritante, nos fazendo achar que no fundo não passamos de uma marionete controlada pelos desenvolvedores.
Os anos se passaram, a franquia Assassin's Creed sofreu muitas modificações e embora o jogo estrelado por Connor Kenway tenha ficado marcado como um dos pontos mais baixo da série, eu sempre tive o sentimento de que um dia precisaria lhe dar uma nova oportunidade. Para a minha alegria, recentemente uma remasterização do Assassin's Creed III acabou sendo anunciada, mas o que acabei descobrindo com ela é que certas coisas é melhor que fiquem no passado.
Trazendo todos os DLCs lançados para o original, assim como o Liberation, jogo este que havia sido lançado para o PlayStation Vita e se passa em New Orleans, com o Assassin's Creed III Remastered a empresa francesa aproveitou para corrigir alguns dos principais problemas do título lançado em 2012 e podemos dizer que isso foi alcançado. Em partes.
Por exemplo, agora é possível chamar a atenção dos inimigos quando estivermos escondidos, algo que pode nos ajudar muito em diversas situações. Outra boa adição foi a possibilidade de matarmos dois inimigos ao mesmo tempo e se somarmos essas duas novidades ao fato das missões serem (um pouco) menos punitivas, é inegável que o progresso na remasterização se tornou menos frustrante. mas não se iluda, ter que refazê-las várias vezes ainda será necessário.
Outra promessa feita para o Assassin's Creed III Remastered era de que ele seria consideravelmente mais bonito, mas novamente as melhorias não chegam a impressionar. Para aqueles que jogaram o original no PC, conseguir notar alguma diferença nos gráficos será uma tarefa quase impossível.
Já para aqueles que conheceram o jogo no PlayStation 3 ou Xbox 360, o salto de qualidade é grande, mas ainda assim passando a sensação de se tratar de algo da geração passada. Tudo bem, algumas sombras estão mais bonitas, a luz pode parecer mais natural, mas no frigir dos ovos, não vá esperando texturas muito detalhadas ou um algo tão bonito quanto o que nos foi entregue com o Assassin's Creed Odyssey. Na verdade, perto do capítulo passado na Grécia este parece até pertencer a outra série, tamanha a diferença.
Eu até poderia criticar a animação facial dos personagens nesta remasterização ou mesmo durante os combates, fazendo com que eles pareçam duros e artificiais, mas o que realmente me incomodou na parte gráfica foi a limitada distância em que os cenários são gerados. Explorar a Nova Inglaterra no jogo é viver com uma irritante névoa que não nos permite ver o que está mais longe e depois de ficar deslumbrado com os vastíssimos cenários do Odyssey, foi muito desanimador subir num enorme edifício aqui e só conseguir ver algumas poucas quadras.
A diferença entre trabalhar em uma remasterização ou refazer um jogo do zero é evidente, com os estúdios precisando investir muito mais tempo e dinheiro no segundo caso. Por isso é compreensível que a Ubisoft tenha optado por relançar o Assassin's Creed III com apenas algumas melhorias e assim permitir que um novo público tenha acesso ao jogo.
Porém, ao fazer isso a empresa sabia que muitos dos problemas seriam mantidos e por mais que eles tenham se esforçado para corrigir alguns deles, a maneira como o Assassin's Creed III foi estruturada não permite grandes mudanças sem um remake. Ou seja, se você jogou o original e não gostou dele, dificilmente essa remasterização conseguirá lhe fazer mudar de opinião. Já no caso de tê-lo curtido, este relançamento deve ser encarado apenas como uma tentativa de reviver os bons momentos, já que não existe muitas novidades que justifiquem experimentá-lo.
Disponível gratuitamente para quem possui o passe de temporada do Assassin's Creed Odyssey, o Assassin's Creed III Remastered pode servir como um bom registro histórico, até por ser uma espécie de elo de transição entre os primeiros capítulos da franquia e aqueles mais modernos.
Para mim, a maneira como a série passou a funcionar a partir do Assassin's Creed Origin é muito melhor e depois de jogar essa remasterização passei a achar que, se não fosse pelos erros cometidos na aventura de Connor Kenway, talvez as mudanças nunca tivessem acontecido.