Carlos Cardoso 4 anos atrás
A idéia de uma nave espacial movida a vapor pode soar idiota, merecedora do selo da Agência Espacial Brasileira, mas se pararmos pra pensar não é algo tão sem-sentido quanto parece.
Muita gente acha que vapor, assim como biologia é coisa do Século passado, mas vapor ainda é fundamental. Poucas substâncias são tão versáteis, tão simples de produzir e tão energéticas. Sabe o quê não existiria sem vapor? Um submarino nuclear.
O mais avançado sistema de propulsão produzido pelo Homem nada mais é do que uma chapa quente pra esquentar uma chaleira. Uma usina nuclear é basicamente um sonho steampunk, o calor da reação nuclear esquenta água, produzindo vapor que é direcionado para uma turbina que gira, acionando um gerador e produzindo eletricidade.
No caso dos submarinos classe Tufão ela alimenta os motores elétricos, as luzes de bordo, unidades de dessalinização e o aquecimento da piscina de bordo, afinal comunistas também gostam de conforto.
Óbvio que nada espacial pode ser movido a vapor de forma convencional, imagine a quantidade de água que o Falcon 9 teria que levar, e a propulsão conseguida seria uma fração da necessária, mas há um caso em especial onde vapor faz sentido, e está sendo o foco do projeto WINE (World Is Not Enough), da Honeybee Robotics, da University of Central Florida e da Embry-Riddle Aeronautical University.
Eles visualizaram o problema de explorar satélites distantes, onde uma sonda leva anos para chegar. É inviável mandar robôs com rodas para terrenos que são impossíveis de atravessar, e mesmo quando a área é relativamente plana, a Opportunity percorreu 45Km em Marte, mas levou 14 anos pra fazer isso, até o Rubinho reclamaria.
Idealmente uma sonda em um satélite com baixa gravidade deveria pousar, sondar, fotografar e quando tivesse esgotado o interesse científico na área, decolar e pousar algumas dezenas ou centenas de quilômetros dali, em outra área geograficamente diversa.
O problema é que depois de alguns saltos ela esgotaria o combustível, mas o projeto da WINE resolve isso.
O conceito é simples (no papel): A sonda pousará na superfície do satélite, então no melhor estilo Kerbal começará a perfurar o solo, recolhendo a terra para um compartimento que através de processos físico-químicos retirará a água presente na amostra.
A água seria armazenada em uma unidade refrigerada, e aos poucos o tanque seria enchido. Quanto tivesse bastante água uma unidade de aquecimento criaria vapor sob pressão, que seria ejetado criando propulsão, levando a sonda para outro local e o ciclo se reiniciaria.
A energia para isso pode ser obtida por painéis solares ou termogeradores nucleares, no momento não importa, o importante é que o conceito já foi testado na prática, e funciona.
O projeto é tão sério que só a fase de modelar as equações e projetar os sistemas de propulsão levou três anos.
Em tempos em que o foguete futurista de Elon Musk se parece com uma nave espacial da ficção científica dos Anos 50, é bem apropriado que a esperança para alcance ilimitado nas sondas que explorarão os mundos de Júpiter (menos Europa) use... vapor.
E sim, há um vídeo do brinquedo:
Fonte: Phys.org