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USS Barb, o submarino que invadiu o Japão e afundou um trem

Durante a Segunda Guerra um submarino americano afundou um TREM japonês, e essa nem é a mais estranha aventura do USS Barb, um barco que não virou filme pois ninguém acreditaria no que ele fez...

5 anos e meio atrás

Em 1945 a guerra não estava indo muito bem para o Japão, mas ninguém esperava ser acordado no meio da noite com explosões e bombas. A cidade costeira levantou para ver fábricas, estaleiros, docas e usinas de processamento explodindo. No caos que se seguiu alguns achavam ser uma invasão em grande escala, os relatos apontavam para pelo menos 6 encouraçados e um submarino. Eles erraram por 6 encouraçados. O submarino, acertaram. Era o USS Barb.

USS Barb

O que confundiu os japoneses foi o ataque ser feito com foguetes. Os alemães tentaram mas não tinham conseguido lançar foguetes de barragem de submarinos. Os EUA chegaram tarde mas começaram a pesquisar essa tecnologia, ainda levaria alguns anos mas o comandante do USS Barb, Eugene B. Fluckey mexeu muitos pauzinhos, cobrou um monte de favores e conseguiu que o Barb recebesse um conjunto experimental de lançadores de foguetes.

Com isso ele infernizou a costa japonesa, atirando de 4Km de distância em alvos em terra, incluindo faróis e fábricas. Imagine esta barragem de foguetes, mas ao invés de um navio especializado, um submarino.

Não só o Comandante Fluckey antecipou em vários anos o conceito de submarinos lançadores de mísseis, como provou mais uma vez que a doutrina operacional oficial da Marinha não era boa o suficiente.

Submarinos normalmente se valem da furtividade, operam em silêncio, aguardam que o inimigo passe por eles e então atacam. Submarinos não devem se expor nem correr riscos desnecessários.

Fluckey não concordava com isso. Ex-escoteiro, ele se graduou como Alferes em 1935, aos 22 anos. Depois de servir em alguns alvos, foi para a escola de submarinos em New London, Connecticut, onde passou de Junho a Dezembro de 1938 aprendendo guerra submarina.

Ele voltou para os EUA depois de cinco missões de patrulha no USS Bonita, um submarino classe Barracuda, já bem obsoleto (era de 1925). Depois de se graduar em engenharia e fazer escola de comando, Fluckey serviu por uma patrulha no USS Barb como candidato ao comando, foi aprovado com louvor e ganhou seu primeiro comando aos 31 anos, mesmo James T. Kirk só foi comandar a Enterprise aos 34.

Eugene Fluckey / commander / USS Barb

Ele foi talvez o melhor comandante de submarino da marinha dos EUA, mas em seu coração ele não era um submarinista. Fluckey via submarinos como embarcações ágeis de ataque, e isso confundia os inimigos.

Em 22 de Janeiro de 1945 o USS Barb se esgueirou no porto de Mamkwan, na China dominada pelo Japão. Desviando das patrulhas o Barb encontrou nada menos que 30 navios mercantes japoneses ancorados. Acelerando em direção aos alvos, Fluckey ordenou que todos os oito torpedos dos tubos de proa fossem disparados. Fazendo uma volta apertada a toda velocidade, assim que a popa se alinhou com o porto, ele disparou os quatro torpedos de ré.

A missão era quase suicida; não havia onde se esconder, o porto só tinha 9 metros de profundidade. Fugindo com tudo o Barb seguiu por um canal não-mapeado, repleto de rochas submersas e campos minados.

Por mais de uma hora foram perseguidos por fragatas japonesas, Fluckey chegou a navegar entre juncos de pesca japoneses, que confundiram o radar inimigo e atraíram o fogo amigo. Em certo momento, no melhor estilo Jornada nas Estrelas o Capitão viu que os inimigos estavam se aproximando. O Barb já estava em sua velocidade máxima de 21 nós.

USS Barb / Pearl Harbour / 1945

Ele ordenou pelo intercom mais velocidade; a engenharia respondeu que os motores já estavam dando tudo que tinham, estavam a 100%, mas ninguém desobedecia uma ordem do Capitão, ele era absolutamente idolatrado pelos marinheiros, e decepcioná-lo seria impensável. Violando ou pelo menos contornando um pouco as Leis da Física, desrespeitando todas as normas de segurança e colocando fé no chamado "Fator de Encagaçamento" que todo bom engenheiro coloca em suas contas, eles conseguiram que as máquinas do Barb atingissem 150% da potência máxima. Ele estava fugindo a 23,5 nós, deixando para trás um inferno de navios destruídos.

Por causa desse ataque Fluckey recebeu a Medalha de Honra do Congresso, e o Barb ganhou uma Presidential Unit Citation, mas nem de longe as aventuras do Barb terminariam ali.

A última patrulha do Barb começou em 8 de Junho de 1945. Navegando no Mar de Okhotsk, no sudoeste japonês, o Barb continuou a atacar cidades costeiras e afundar navios, até que repararam que muito próximo da costa de uma das cidades passava uma ferrovia. Sem serem detectados eles identificaram o horário dos trens e Fluckey teve uma idéia: Vamos explodir aquela @#%$@ toda.

O primeiro problema é que submarinos normalmente não levam explosivos, mas isso foi resolvido desmontando uma das cargas de autodestruição do Barb. Outro problema era que alguém precisaria estar próximo para detonar a carga, mas um marinheiro chamado Billy Hatfield tinha a solução. Ele lembrou que quando era criança colocava nozes embaixo dos dormentes e quanto o trem passava eles eram pressionados e as quebravam. Era possível improvisar um interruptor de pressão e deixar que o próprio trem acionasse a detonação.

Para a missão Fluckey precisava de oito voluntários, mas todos a bordo de ofereceram, até um prisioneiro japonês jurou que não tentaria fugir, só queria assistir.

No final ele escolheu oito homens solteiros que haviam sido escoteiros, assim teriam mais chance de lidar com imprevistos, saberiam se orientar e teriam noções de primeiros-socorros. Lembre-se, não eram comandos, não eram tropas especiais, eram jovens marinheiros, invadindo um país inimigo. Fluckey só não foi junto porque os oficiais ameaçaram um motim, com um jurando que mandaria uma mensagem ao Comando Central se ele saísse do barco.

Durante a noite o USS Barb se aproximou a menos de 600 metros da praia, ele tinha menos de 2 metros de água entre o submarino e o fundo do oceano. Dois botes foram lançados, e logo atingiram a praia. Evitando as casas próximas, os marinheiros-sabotadores chegaram próximo aos trilhos, apenas para dar de cara com uma torre de vigia, mas como ninguém seria doido de atacar o Japão ali, o soldado dormia tranquilamente.

USS Barb crewman / combat flag

Em 20 minutos os explosivos foram instalados debaixo dos trilhos, o interruptor de pressão colocado na posição e correram pra praia. Quando estavam na metade do caminho, remando para a segurança um som ao longe estragou os planos: Um trem estava vindo. Fluckey pegou um megafone e quebrou o silêncio, gritando pros marinheiros "remarem feito o diabo". Antes de chegarem no Barb o trem passou por cima do interruptor, a detonação destruiu a caldeira, causando uma explosão de vapor que jogou pedaços da locomotiva a quase 100m de altura.

As chamas e explosões secundárias iluminaram a noite, a ferrovia ficou interditada por semanas, munição e soldados no trem foram pelos ares. Enquanto navegava para águas profundas, Fluckey convidou pelo intercom todos que não fossem essenciais à navegação para subir e apreciar a explosão.

O USS Barb foi a primeira embarcação americana a atacar diretamente a costa japonesa, e a ação contra o trem foi a única vez em que tropas americanas invadiram o território japonês.

Combat flag / USS Barb

Bandeira de combate do USS Barb, a única com uma locomotiva.

Segundo os cálculos do Capitão  Fluckey o USS Barb afundou 28 navios inimigos, em um total de 145 mil toneladas. Incluindo o porta-aviões de 20 mil toneladas Unyo e um navio-tanque de 11 mil toneladas, os dois no mesmo ataque.

As aventuras do Barb eram tão populares nos meios militares que o Presidente Roosevelt fazia questão de receber os relatórios de todas as missões do submarino. Eugene Fluckey recebeu a Medalha de Honra do Congresso, quatro Cruzes Navais, duas Navy Distinguished Service Medals e duas Legiões de Mérito. O barco e a tripulação receberam uma penca de condecorações, mas havia uma em especial que o Capitão se orgulhava de nunca ter dado a nenhum de seus marinheiros: O Coração Púrpura.

A força de submarinos era o serviço mais mortal de todas as forças armadas dos EUA na Segunda Guerra. De cada cinco submarinos um era perdido, mas o USS Barb nunca teve uma baixa, nenhum marinheiro morreu ou foi ferido durante o comando de Eugene Fluckey.

Eugene Fluckey / 2000 / USS Barb

Contra-Almirante Eugene Fluckey, em 3/11/2000.

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