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Resenha — Os Incríveis 2 (sem spoilers)

Confira nossa resenha de Os Incríveis 2, a continuação das aventuras da família Pêra lidando com novos problemas dentro e fora de casa.

6 anos atrás

Já se passaram 14 anos desde que Brad Bird nos deu Os Incríveis, uma divertida comédia baseada em super-heróis (quatro anos antes do boom do gênero no cinema, com Homem de Ferro) ao mesmo tempo que mostrava o valor da família, mesmo uma desajeitada e superpoderosa. Os Incríveis 2 tem a missão de expandir a discussão e manter a qualidade, mas será que a Pixar acertou?

Descubra na resenha sem spoilers a seguir.

Trocando as Bolas

A trama de Os Incríveis 2 começa imediatamente após o primeiro, com a família Pêra tendo que lidar com a exposição recente na mídia causada pelo confronto com o Escavador, o vilão que aparecia na última cena do filme anterior. Tudo dá errado, eles ficam sem casa (que foi explodida pelo Síndrome), sem apoio do governo e são execrados pela opinião pública, ainda levada a odiar os heróis.

As coisas começam a mudar quando um casal de irmãos quer trazer os superseres de volta à ativa, e convida Roberto/Sr. Incrível, Helena/Mulher-Elástica e Lúcio/Gelado a serem os porta-vozes de uma campanha publicitária para mudar a mente da população em relação aos heróis. Porém, a escolhida para ser a ponta-de-lança da campanha é Helena.

Isso causa uma série de mudanças no filme. Enquanto em Os Incríveis era Beto quem retomava as atividades de herói em segredo, desta vez a Mulher-Elástica é quem está no centro das atenções do mundo, o que invariavelmente causa ciúmes e desperta a desconfiança do marido, afinal ele é o homem da casa.

Sim, o filme se passa em um análogo fictício dos anos 1960 e Brad Bird explora isso, pondo uma pitada da discussão dos papéis de homens e mulheres na sociedade da época, mas nada do nível de hoje. O fato do filme ser lançado ao mesmo tempo das discussões acerca do movimento #MeToo foram encaradas como uma coincidência, segundo o produtor da Pixar.

Helena não só precisa passar uma boa imagem que permita os heróis saírem das sombras, como descobre que é fonte de inspiração de toda uma nova geração; enquanto isso, um vilão misterioso conhecido como o Hipnotizador vai dar uma bela canseira na Helena, atrapalhando-a em seus esforços para fazer a coisa certa.

Beto engole a seco o fato de que Helena está fazendo o sucesso que ele queria para si, tendo que apoia-la para que ele próprio possa voltar a vestir a cueca por cima da calça. Ele fica com a missão de cuidar da casa, e se vê tendo que lidar com problemas do cotidiano como ajudar o Flecha com Matemática, encarar a primeira decepção amorosa da Violeta e controlar o pequeno Zezé, que é o destaque do filme.

Como visto em Os Incríveis, o superbebê possui diversos poderes (ele é basicamente o Franklin Richards, do Quarteto Fantástico; aliás a paródia com a primeira família da Marvel é descarada, os Pêras são tão disfuncionais quanto), não controla nenhum e causa inúmeras confusões, seja arrumando briga com um guaxinim, dando uma canseira em Edna Moda ou tentando ajudar a família a salvar o dia.

Tecnicamente Os Incríveis 2 mantém o estilo de seu predecessor, com um estilo de animação bastante caricata para representar os Estados Unidos do início dos anos 1960 mas emprega recursos mais modernos, principalmente nos efeitos de luz, sombra, tecidos e cabelos. Já a trilha sonora, a cargo novamente do mestre Michael Giacchino é perfeita, grandiosa nos momentos de ação e sutil nas cenas mais amenas.

A dublagem brasileira continua excelente, com a maioria dos atores repetindo seus papéis (a única exceção é o Flecha) e com as vozes adicionais de Otaviano Costa, Flávia Alessandra e Raul Gil, entre outros.

Por fim, o bônus da sessão é o excelente curta Bao, exibido antes do filme. Ele é uma singela fábula sobre o relacionamento entre mãe e filho e é dirigido pela chinesa Domee Shi, a primeira mulher a assinar uma animação da Pixar nos 32 anos de história do estúdio.

E um aviso importante: nos EUA o filme foi relacionado a ataques e convulsões após uma cena com exibição de flashes de luz que se estendem por mais de 90 segundos, o que levou às salas de cinema a avisarem os espectadores e o mesmo será feito aqui. Portanto, cuidado ao levar seus filhos para ver o filme ou evite-o caso tenha um quadro de epilepsia ou problemas similares.

Conclusão

Os Incríveis 2 consegue ser tão bom quanto o original, mas subverte a ideia de heroísmo ao inverter ao fazer da Mulher-Elástica a chefe da família, enquanto o Sr. Incrível vira dono de casa. Enquanto Helena lida com o marketing e o impacto de uma volta dos heróis capitaneado por ela, o que joga toda a atenção da mídia em sua direção, Roberto é forçado a aceitar que bancar um pai de verdade pode ser muito mais emocionante e heróico do que socar vilões.

Longe de ser um filme político, Os Incríveis 2 ainda é uma atração para toda a família, uma inversão da crítica original de Brad Bird ao Mais do Mesmo do cinema da época do primeiro filme, desta vez um questionamento ao culto dos super-heróis com toneladas de filmes do gênero saindo todos os anos (os da Marvel inclusos). A pergunta "onde estão os heróis?" mudou para "nós realmente precisamos de heróis?", e nesse caso, Bird tenta definir qual é o tipo de herói que precisamos.

Nota:

Cinco de cinco Zezés.

O Meio Bit compareceu à cabine de imprensa de Os Incríveis 2 a convite da Disney.

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