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Resenha — Perdidos no Espaço

Perdidos no Espaço é a nova série da Netflix baseada no seriado de 1965 baseada no livro de 1812 baseado no livro de 1719. Nós vimos e — spoilers — gostamos muito. É uma aventura de ficção científica audaciosa, pretensiosa até, mas que entrega o que promete.

6 anos atrás

A Regra dos 15 Anos diz que você não deve assistir de novo filmes ou séries que gostou mais de 15 anos atrás. É verdade, pouca coisa resiste. Babylon 5 fica péssima, e a maioria dos seriados dos anos 80 são pura fórmula, mas e quando se trata de um remake, um reboot, uma nova visão baseada em uma série antiga?

Perdidos no Espaço está presente até na memória afetiva de quem nunca assistiu, o tema de Johnny Williams é inconfundível e a história da Família Robinson é querida por gerações, por isso tanta gente está reclamando da nova versão.

Só que a vida é assim, crianças. O Perdidos no Espaço que você acha que ama é uma versão Sci-Fi D'Os Robinsons Suíços, um livro de Johann David Wyss, escrito em 1812 que conta a história de uma família que sofre um naufrágio e tem que se virar para sobreviver em uma ilha deserta. Esse livro aliás é uma variação de Robinson Crusoé, de 1719. O próprio nome da família é uma referência explícita.

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A série da Netflix é o primeiro remake bem-sucedido da original de 1965. Em 2004 foi feito um piloto não-aprovado, dirigido por John Woo, mas fora ele e o filme de 1998 nada mais. A impressão geral era que Perdidos no Espaço não funcionaria para as novas platéias.

Ah, como estavam errados.

O que não funciona é uma série de baixo orçamento com cenários de papel machê e personagens caricatos. O conceito em si, de uma família em uma viagem para Alfa Centauro que tem sua rota desviada e tem que sobreviver em um planeta hostil funciona, mas para isso você precisa de tempo e uma fortuna, por sorte a Netflix tinha as duas coisas.

Perdidos no Espaço de 2018 é grandioso. Tem visual cinematográfico em todos os episódios, um monte de cenas externas e mesmo o interior das naves não é claustrofóbico. A série é moderna mas não modernosa, a tecnologia é basicamente a atual, e se soa estranho no meio disso a Humanidade ser capaz de viagem interestelar, fique calmo que será explicado.

Aparentemente a Terra está sofrendo uma extinção em massa por causa de um asteróide estranho, e colônias estão sendo estabelecidas em Alfa Centauro. Maureen Robinson é uma engenheira aeroespacial responsável por boa parte do projeto, e está levando para o novo mundo os três filhos e o quase ex-marido, um soldado veterano que negligenciou a família em nome do dever.

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Penny Judy, a filha mais velha tem 18 anos e é médica, ou quase. Judy Penny, a filha de 16 quer ser escritora, um grande avanço pois um roteirista mais “antenado” a transformaria em YouTubber. Elroy, digo, Wesley, digo Will Robinson tem 11 anos, é esperto pra idade dele mas chora o tempo todo, o que confesso me irritou no primeiro episódio, bem como a dinâmica familiar, com as meninas implicando uma com a outra, com o pai em modo-capacho obedecendo a esposa com fidelidade canina e a Mamãe-Robinson que sabe tudo e manda em tudo.

Então eu percebi que o errado era eu. Perdidos no Espaço não é sobre naves e robôs e pewpewpew, é sobre família. Judy Penny vive à sombra da irmã mais velha, que é a gênia da família, médica encaminhada. Will tem todo o direito de ser um bebê chorão, é um moleque de 11 anos vendo os pais se separarem e sem ter pra onde correr. John por sua vez quer a todo custo se reaproximar dos filhos, e faz tudo pra agradar a esposa, ele é o pai separado que compra tudo que o filho pede.

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O conflito em Perdidos no Espaço é real, bem como o perigo. Perigo esse que vem de dentro. Assim como na série original, Dr Smith era um sabotador, nesta ele, ou melhor ela é uma criminosa menor que toma a identidade da irmã tentando fugir para Alfa Centauro. Durante o acidente com a Resolute ela acha um sujeito muito ferido, com uma jaqueta de identificação com acesso a um dos módulos Júpiter. Ela rouba a jaqueta e assume a identidade do Dr Zachary Smith.

Ela é uma vilã das boas, sem arco de redenção. De vez em quando parece fazer algo bom mas é puro interesse. Não há piadinhas, não chama o robô de lata de sardinha enferrujada. Esqueça Johnatan Harris, ninguém vai tentar repetir a performance inigualável do primeiro Dr Smith.

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Não que não haja momentos de humor, o Don West está maravilhoso como Han Solo, ele é um mecânico excelente, contrabandista nas horas vagas que só pensa em dinheiro, mas se rende aos encantos de Penny Judy e no fundo quer fazer a coisa certa. Esse flerte aliás existia na série original, mas era tão de leve que os censores nem percebiam.

Perdidos no Espaço talvez esteja incomodando muita gente por não mostrar uma família perfeita. Penny Judy tem stress pós-traumático por quase ter morrido presa no gelo, John e Maureen vivem uma relação Beth/Jerry de Rick and Morty, só que com um Jerry competente em alguma coisa. Mas fique calmo, não é um novelão. É só uma série onde as pessoas conversam de vez em quando, tipo vida real.

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Mas não se engane, a situação geral nunca vira pano de fundo, e a história avança. Descobrimos mais sobre o Robô, sobre como a Mrs Robinson não é 100% santa, como a Dra Smith é bem FDP, sobre o acidente com a Resolute que não foi bem um acidente, descobrimos que eles precisam deixar o planeta, descobrimos que há mais sobreviventes e a temporada termina em um imenso cliffhanger, como era de se esperar.

Conclusão:

Perdidos no Espaço é uma série com grandes pretensões, quer ser grandiosa, quer ser ficção científica de qualidade combinando vários estilos de drama, incluindo Homem versus Natureza, querem mostrar e não contar, querem fugir do clichê de acumular mistérios, como Lost. O mais impressionante é que eles corresponderam essas pretensões entregando tudo que prometeram. Que venha a segunda temporada!


Perdidos no Espaço | Trailer oficial HD] | Netflix

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