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Far Cry 5 — Review

Com uma história fraca, mas uma jogabilidade extremamente viciante e divertida, Far Cry 5 é um daqueles títulos em que só queremos continuar jogando mais um pouco. Leia a nossa análise entendo porque.

6 anos atrás

De vez em quando eu me pego num terrível embate mental que é capaz de me atormentar por dias: o que é melhor, um jogo com uma narrativa fantástica, mas mecânicas capengas, ou um com enredo fraco, mas uma jogabilidade capaz de nos divertir por horas e mais horas?

É óbvio que o ideal seria uma junção dos dois, com a obra conseguindo nos entregar uma experiência quase perfeita e por mais que a minha paixão por boas histórias me faça tender a ficar com a primeira opção, sempre surge um jogo como o Far Cry 5 para me fazer achar o contrário.

Tudo começou quando a Ubisoft revelou que o próximo capítulo da sua consagrada franquia iria aos Estados Unidos e abordaria uma seita religiosa que dominou a fictícia cidade de Hope County, Montana. Naquele momento achei que esse seria o cenário ideal para a empresa usar a mídia para tecer uma dura crítica ao “American way of life”, mas infelizmente acho que criei muita expectativa sobre algo que a editora não estava disposta a encarar.

Não é que o Far Cry 5 não tente abordar temas delicados como o fanatismo religioso, o culto às armas de fogo ou a visão distorcida que os caipiras americanos possuem da realidade. Durante quase toda a campanha estamos cercados por esses assuntos e os mais variados estereótipos, o problema é a maneira como tudo se desenrola, quase sempre nos passando a ideia de que uma enorme oportunidade foi desperdiçada.

Do inferno…

No jogo assumiremos o papel de um policial novato que, após visitar Hope County para averiguar uma denúncia, se vê perseguindo pelos seguidores de Joseph “O Pai ” Seed. Conhecido como Portões do Éden, o grupo estaria raptando moradores, lhes submetendo a uma lavagem cerebral e preparando o local para o fim dos tempos. Começará ali uma luta pela sobrevivência e a tentativa de levantar uma resistência contra os “edenetes”, como são conhecidos os seguidores de Seed.

O grande problema é que além da história nunca servir como um incentivo muito interessante, com o vilão tendo até de recorrer a uma droga para conquistar seus seguidores, os personagens que nos são apresentados e a própria narrativa falham em nos fazer imergir no mundo do jogo. Nem mesmo os tenentes do Pai — John, Jacob e Faith — parecem interessantes o suficiente, estando ali apenas como um obstáculo para chegarmos ao nosso principal alvo.

Para piorar, a Ubisoft implementou um sistema onde certos trechos da história principal não podem ser evitados, com o protagonista sendo incessantemente capturado apenas para que o enredo possa ter continuidade. Isso acaba se tornando algo irritante, com a nossa viagem para um determinado ponto do mapa ou uma missão sendo interrompida de tempos em tempos, só para logo depois previsivelmente fugirmos das garras dos nossos raptores.

É compreensível que com isso os criadores do jogo tenham tentado nos manter ligados à trama, mas num jogo em que as principais qualidades estão justamente na exploração e na liberdade, essa é uma ideia que prejudica muito mais do que contribui.

Ao paraíso!

Mas se os roteiristas do Far Cry 5 cometeram diversos erros, o mesmo não pode ser dito das pessoas responsáveis pela jogabilidade do título. Contando com um do mundo aberto muito bem construído, é impressionante como a quase todo momento encontramos algo em Hope County que é capaz de chamar a nossa atenção.

Além do vasto mapa contar com regiões bem diferentes uma das outras, há muito a se fazer no lugar, com missões paralelas pipocando a todo instante no mapa e com inúmeros colecionáveis para serem encontrados. Outro ponto positivo é que existe uma boa variedade de tarefas a serem realizadas, poucas vezes fazendo com que tenhamos a sensação de estar repetindo ações.

Eu também gostei das companhias que ganhamos ao avançarmos na campanha. Servindo como suporte para os confrontos, caberá ao jogador decidir se prefere ser ajudado por sujeitos como um piloto e o seu antigo avião, por uma atiradora de elite antissocial ou por um piromaníaco esquisitão. Haverá ainda animais como um cachorro, um urso ou um puma e embora no caso dos humanos exista uma variação de personalidade, no geral eles só fazem comentários estranhos e dispensáveis.

Outro aspecto que considero muito positivo no Far Cry 5 é a liberdade que ele nos dá para agirmos. Se você prefere chegar com tudo nos inimigos, enfrentado-os como se fosse um tanque, isso será possível. Porém, aqueles que gostam de atuar nas sombras também poderão fazer isso, seja eliminando os adversários a distância com um rifle de precisão, seja abordando-os com armas brancas ou com um arco e flecha.

Além disso, haverá ainda áreas dedicadas à caça, diversas outras onde poderemos passar o tempo pescando ou ainda nos arriscarmos em saltos usando uma wingsuit e encarando desafios radicais bastante perigosos. Enfim, o jogo é uma enorme caixa de areia e nisso ele funciona maravilhosamente bem.

(Mas passando antes pelo purgatório)

De certa forma, é bom ver que com esse jogo a Ubisoft não tentou reinventar o gênero, entregando uma jogabilidade extremamente divertida e conteúdo para nos manter entretidos por dezenas de horas (e olha que nem estou falando dos DLCs vindouros ou do ótimo editor de mapas conhecido como Far Cry Arcade). Por outro lado, eu adoraria ver um título que tivesse coragem para abordar de forma mais incisiva temas tão interessante como o fanatismo religioso e a adoração pro armas, sem ter tanto medo de incomodar este ou aquele grupo.

Talvez eu não devesse ter acreditado tanto na capacidade da série de se aventurar por um terreno tão espinhoso, talvez nem fizesse muito sentido o Far Cry 5 nos colocar para pensar nas atrocidades cometidas por um bando de lunáticos, quando nós mesmo dizimamos centenas de pessoas para tentar destituir o seu líder. Afinal, será que o mais plausível não seria apenas pegarmos um carro ou avião e sumir dali?

No entanto, o que realmente incomoda são as muitas falhas no roteiro do jogo e na maneira até caricata que muitas coisas acontecem durante a aventura. Sinceramente, pessoas correndo por aí exalando uma fumacinha verde só para mostrar que elas estão chapadas pela droga criada por um hipster metido a líder religioso?

Felizmente nada disso tem sido o suficiente para me fazer largar o Far Cry 5. Isso me faz pensar que, pelo menos enquanto eu estiver sob o efeito da viciante liberdade que a criação da Ubisoft tem me dado, sim, uma jogabilidade extremamente divertida é capaz de me fazer ignorar uma história ruim. Ah! E quando o jogo em questão ainda nos permite fazer tudo isso na companhia de amigos, melhor ainda!

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