Carlos Cardoso 6 anos atrás
A crise de imaginação de Hollywood continua, todo dia surgem mais e mais reboots desnecessários, e só em 2017 te(re)mos entre outros Os Garotos Perdidos, Charmed, Gossip Girl, Fama, Dinastia, Twin Peaks, Arrested Development, Will & Grace, Queer Eye for the Straight Guy, Cold Justice, Miami Vice, The Munsters, Roseanne, Tremors e a abominação que será Jetsons com atores.
Xena, também estava no pacote. A Princesa Guerreira, cujo reino era uma aldeia com umas 20 pessoas foi uma personagem deliciosamente interpretada por Lucy Lawless, em uma série que nunca se levou a sério, fazendo um samba do crioulo doido com a História.
Muito melhor do que Hércules, série de onde a personagem surgiu. Acompanhada de sua fiel companheira (no bom sentido) Gabrielle (um nome perfeitamente bárbaro e selvagem) Xena enfrentava deuses, monstros e vilões da semana, e era divertidíssimo. Eles marcaram todos os pontos no bingo das séries, o episódio do Dia da Marmota foi ótimo, o de Troca de Corpos foi hilário, assim como o de Viagem no Tempo.
Xena virou heroína de um monte de meninas, que adoravam uma protagonista que não era uma princesa em apuros (o que é um saco). O público GLS também adorou, e Xena virou um ícone gay. A forma com que os roteiristas davam pinta de que havia ou poderia haver algo a mais entre as duas tornou as personagens muito mais interessantes.
Infelizmente os tempos modernos não admitem sutileza, tudo tem que ser jogado na cara do espectador, e o roteirista Javier Grillo-Marxuach, que estava preparando o remake de Xena pra NBC comprou essa cartilha.
Ele queria que a nova versão fosse focada “no relacionamento entre Xena e Gabrielle”. Ou seja: uma deliciosa paródia dos Conans da vida viraria um The X Word, onde as protagonistas oprimidas lutariam para ter seu amor reconhecido na terrível e homofóbica era do passado, com um monte de piadinhas sobre Trump, provavelmente.
“Não há razão para trazer Xena de volta se não for com o propósito de explorar totalmente um relacionamento que só pôde ser mostrado de forma disfarçada nos anos 90” — disse Grillo-Marxuach
PORRA NENHUMA digo eu.
Buffy era da mesma época, os fãs acompanharam, riram e se emocionaram vendo toda a saga da Willow se descobrindo lésbica, e os percalços de seu relacionamento com a Tara. O mundo não acabou, a Sociedade Machista Cis-Branco-Nazista não botou fogo no Joss Whedon (quem fez isso mais recentemente foi a militância progressista) e ninguém boicotou a série por causa da bruxinha que era boa no velcro.
Xena não era explícita por pura questão de estilo, e funcionou muito bem assim. Coisa que o tal roteirista pelo visto não conseguiu entender, e foi bater de frente com a NBC.
Felizmente alguém com bom-senso desceu o machado, e por enquanto o reboot de Xena está morto. Ou melhor, dormente. A emissora está aberta a propostas e é muito simpática à idéia, até Sam Raimi, um dos criadores está favorável. É só acharem alguém pra fazer direito.
Fonte: Hollywood Reporter.