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Ou é um buraco negro nascendo ou alguém completou os 9 bilhões de nomes de Deus

Tal qual em um conto de Arthur Clarke, cientistas testemunharam algo inédito. Uma estrela se apagando. Não enfraquecendo, mas sumindo totalmente. Para todos os efeitos ela não está mais lá. Ela definitivamente não poderia, não deveria fazer isso, mas quem disse que o Universo liga pro que a gente acha?

7 anos atrás

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Os Nove Bilhões de Nomes de Deus é um dos (ótimos) contos de Arthur Clarke. Nele dois engenheiros visitam um mosteiro no Himalaia, os monges querem comprar um computador para ajudar no trabalho da Ordem: eles acreditam que Deus tem 9 bilhões de nomes, e é função dos monges compilar cada um deles em pesados livros com capas de couro. Por gerações, os religiosos pacientemente calculavam as permutações, seguindo regras antigas e complicadas. O computador agilizaria imensamente o trabalho.

O computador é vendido, instalado e as listagens começam a sair das impressoras. Um dos engenheiros pergunta o que acontecerá quando o trabalho terminar. O líder dos monges explica que o Universo terá cumprido sua função e acabará.

Os engenheiros começam a ficar preocupados, quando o último nome sair da impressora e nada acontecer os monges podem ficar irritados, culpar o computador e talvez até colocar a vida deles em perigo. Decidem fugir pela trilha de mulas que levava ao mosteiro, ao mesmo tempo em que o trabalho está quase no fim.

Quase chegando na pista de pouso, com o avião de fuga os esperando, um dos engenheiros olha pra cima e percebe que as estrelas estão, uma a uma, se apagando.

Foi exatamente isso que astrônomos testemunharam, na Constelação de Cisne.

Eles estavam acompanhando a galáxia NGC 6946, a uns 20 milhões de anos-luz da Terra. Mais precisamente a estrela N6946-BH1, que estava prestes a se tornar uma supernova, e prestes no sentido Scotty se você não consertar os motores de dobra AGORA nós estamos mortos!.

Com massa de 25 vezes a do Sol, era uma ótima candidata a supernova, e em 2009 seu brilho começou a crescer, chegou a vários milhões de vezes o do Sol, quando normalmente é só umas cem mil vezes mais brilhante.

A estrela é das grandes. Para dar uma idéia, esta é Betelgeuse (não vale 3 vezes), que tem METADE da massa de N6946-BH1. Está vendo o pontinho branco? É o Sol, na superfície dela.

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Só que em vez de explodir em um apocalipse de energia, a estrela começou a definhar, o brilho foi diminuindo, diminuindo e por volta de 2015 ela simplesmente se apagou.

Poucas coisas fora da ficção científica são capazes disso.

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Não é inédito uma supernova dar chabu: às vezes elas não têm a massa mínima pra desencadear a reação, depois que camadas da atmosfera são eliminadas ela não consegue sustentar o processo e se encolhe. Acontece com todo mundo, fale com seu médico, eu falaria.

Só que normalmente sobre uma estrela normal, dizendo que está cansada e estressada por causa do trabalho. Desta vez não havia estrela visível. Telescópios espaciais como o Hubble e o Spitzer foram apontados e começaram a procurar por assinaturas em infravermelho, talvez uma nuvem de poeira resultante da explosão fracassada estivesse ocultando a estrela.

Nada.

Como nem Galactus sumiria com uma estrela, e os cientistas não acreditaram quando Lula disse que foi a Marisa, só sobrou uma explicação: a N6946-BH1 se tornou um buraco negro.

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Eu sei.

Quando o núcleo esfriou e não conseguiu conter mais a gravidade da estrela, a matéria se condensou, reativando a fusão nuclear, provocando a primeira explosão, mas aparentemente a reação não conseguiu se manter, e o resto da estrela colapsou sem dó nem piedade, formando o buraco negro, em vez da supernova.

Isso explicaria um fenômeno que intriga cientistas faz tempo: temos muito mais estrelas super-gigantes do que supernovas, os números não batiam. Agora aparentemente está explicada a discrepância: uns 30% das super-gigantes ao invés de explodir, viram direto buracos negros.

A pesquisa foi publicada no artigo “The search for failed supernovae with the Large Binocular Telescope: confirmation of a disappearing star” e claro que temos o link, aqui é o MeioBit, a gente mata a cobra e mostra o fucking paper.

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