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Dead Rising: Deluxe Remaster — Madrugada dos mortos

Repleto de melhorias, Dead Rising: Deluxe Remaster surge como a melhor versão do clássico que, mesmo tendo alguns problemas, continua muito divertido

23/09/2024 às 10:24

Quando a Capcom lançou o Dead Rising, o público ainda não conhecia toda a capacidade da sétima geração de consoles para mostrar dezenas, centenas de personagens na tela. Aquilo fez com que o jogo se destacasse, impressionando pelo nível de detalhes dos gráficos que pareciam muito melhores que os vistos até então. Quase duas décadas depois, será que uma (nova) remasterização justifica o seu retorno?

Dead Rising: Deluxe Remaster

Crédito: Divulgação/Capcom

Em Dead Rising seremos Frank West, um fotojornalista que vai a Willamette, Colorado, após ser informado sobre um incidente. Enquanto sobrevoar o local ele percebe que além de a pequena cidade estar sitiada pelo exército, diversos eventos violentos estão acontecendo pelas ruas.

Frank então pede para que o piloto o deixe em um heliporto localizado sobre o único passatempo dos moradores, o Willamette Parkview Mall. O combinado é que o helicóptero retorne em 72 horas e a partir do momento em que o protagonista chega ao shopping, uma contagem regressiva se tornará apenas um dos desafios que se colocará a nossa frente.

Na tentativa de descobrir o que está acontecendo no lugar e produzir sua matéria, Frank se depara com um apocalipse zumbi e nas próximas horas seu caminho cruzará com diversos personagens. Desta forma o enredo cria um ar de suspense, com os pedaços da trama se revelando conforme desvendamos casos.

Mas além dessas missões principais, se é que podemos chamar assim, seremos apresentados a várias outras de menor porte, muitas vezes envolvendo o resgate de pessoas espalhadas pelo shopping. Ao atuar como "o herói do dia", Frank deverá escoltar os sobreviventes até uma sala que serve como zona segura, algo que, acredite, será muito mais desafiador do que pode parecer.

Crédito: Divulgação/Capcom

Além de o shopping estar infestado de mortos-vivos, que mesmo sendo lentos se mostram extremamente perigosos quando em grandes grupos, os próprios sobreviventes estão longe de possuírem a melhor inteligência. Alguns até carregam consigo alguma arma e são capazes de se defender, mas isso não impede que se tornem alvos fáceis, apenas esperando que os mandemos nos seguir ou para onde ir.

Essa é uma mecânica interessante, pois adiciona uma variedade ao jogo e faz com que precisemos ter o maior cuidado para garantir que as pessoas cheguem vivas ao esconderijo. Porém, não serão poucas às vezes em que ficaremos profundamente irritados com o comportamento daqueles que estão nos acompanhando.

Outro fator muito importante da jogabilidade está na passagem do tempo. Ir de um ponto a outro do shopping fará com que o relógio avance alguns minutos, fazendo com que seja preciso pensar bem sobre para onde ir e o que fazer quando estivermos no lugar. Para piorar, os pedidos de socorro e mesmo os casos precisam ser atendidos num determinado prazo.

Assim, não serão poucas às vezes em que teremos que decidir entre resgatar essa ou aquela pessoa, com o relógio no pulso de Frank se mostrado um aliado valioso. Também precisaremos lembrar que não basta chegar ao ponto em que alguém foi avistado, já que a pessoa terá que ser levada para a sala segura e cada mudança de área mostrará que o tempo está passando.

O que ameniza um pouco esse senso de urgência é um bem-vindo sistema de salvamento automático, eliminando a necessidade de irmos a pontos específicos para registrar o nosso progresso. Outra adição que suavizou a dificuldade do jogo é o sistema que aponta para onde devemos ir. Agora uma bússola mostra esses objetivos, incluindo a distância que estamos dele e assim podemos nos organizar melhor sobre qual sobrevivente resgatar primeiro.

Crédito: Divulgação/Capcom

Outro destaque se baseia na profissão do protagonista, com o jogo nos dando acesso a uma máquina fotográfica. Será com ela que Frank poderá registrar situações que consideremos importantes, o que basicamente significa tirar muitas fotos de zumbis, mas elas não servirão apenas como o registro visual do fim do mundo.

Isso porque cada foto batida nos premiará com pontos de acordo com a quantidade de mortos-vivos presentes e o tema que ela se encaixa, podendo ser, por exemplo, dramática ou violenta — e sem premiação para fotos eróticas, dessa vez. Esses pontos encherão uma barra e quando isso acontecer, Frank subirá de nível, o que garantirá melhorias e novas habilidades.

Embora seja algo simples e que até se torna um tanto repetitivo com o passar do tempo, a utilização das fotos foi uma sacada interessante por parte da equipe responsável pela criação do jogo, já que ela dá sentido ao fato de estarmos na pele de um fotojornalista.

Contudo, não acho exagero dizer que a grande estrela de Dead Rising não é a máquina fotográfica, não são os zumbis, muito menos o seu protagonista. Aqui quem realmente brilha é o Willamette Parkview Mall. Funcionando como um mundo aberto, o shopping foi muito bem aproveitado como cenário de um apocalipse zumbi, com o lugar servindo como um grande parque de diversões.

Com várias lojas para serem exploradas e uma infinidade de objetos para serem encontrados, teremos que nos controlar para não deixar todas as tarefas e pedidos de ajuda de lado, só para ficar experimentado roupas ou procurando as mais poderosas (e inusitadas) armas.

Dead Rising: Deluxe Remaster

Crédito: Divulgação/Capcom

Sim, em Dead Rising quase tudo o que encontrarmos pelo caminho servirá para atacarmos os zumbis e como eles se movem tão lentamente, é difícil não lembrar daquele brinquedo encontrado nos parques em que atiramos em patinhos. Que tal usar um banco para varrer os inimigos ao redor? Quer esmagar a cabeça de mortos-vivos com alteres? Tudo bem. O que acha então de disparar pratos encontrados em algum restaurante?

A todo momento fica nítido como o pessoal da Capcom aproveitou o poderio do Xbox 360 para proporcionar a maior interatividade possível na época, o que merece elogios. Porém, estamos falando de um jogo lançado originalmente em 2006 e de lá para cá, bastante coisa mudou no mundo dos games e ter uma enorme quantidade de itens ou personagens na tela há muito deixou de ser novidade.

Logo, aquilo que podia ser fantástico quando estávamos saindo do PlayStation 2, Game Cube e Xbox, e que certamente foi usado por muita gente como motivo para justificar a compra de um novo console, hoje não tem o mesmo apelo.

Dead Rising: Deluxe Remaster

Crédito: Divulgação/Capcom

Ainda assim é preciso reconhecer o poder da RE Engine. Ao contrário do que aconteceu com aquela remasterização do Dead Rising que saiu em 2016 para PC, Xbox One e PlayStation 4, ao utilizar essa engine o Deluxe Remaster trouxe um nível de detalhes visual bem mais impressionante, com os personagens parecendo mais realistas e o Willamette Parkview Mall parecendo muito mais “vivo”.

Outra melhoria presente nesta versão está na jogabilidade, pois pela primeira vez podemos andar enquanto atiramos. Embora isso mude consideravelmente a dinâmica, os mais saudosistas poderão encarar o título com o sistema padrão de controles. Também podemos citar a nova dublagem e quem preferir, poderá ouvir os personagens falando português.

O que não mudou foi a abordagem canastrona ao tema do apocalipse zumbi. Para o bem ou para o mal, Dead Rising Deluxe Remaster continua nos colocando diante de chefes um tanto ridículos e fazendo uma sátira ao famigerado "American way of life", explorando o seu consumismo e o questionável comportamento do governo. E nesse contexto, os mortos-vivos já provaram servir como um ótimo fio condutor.

Crédito: Divulgação/Capcom

Com seus erros e acertos, o que me perguntava enquanto jogava essa remasterização era: um jogo com tais característica e já tendo recebido uma remasterização, precisava ser refeito (novamente)? Pois eu diria que a aposta é válida. Por mais que esse seja um título que escancara os sinais do seu tempo e que parece ter ficado preso em meados dos anos 2000, é inegável o quanto a Capcom acertou ao manter suas características, fazendo desta sua melhor versão.

Hoje ele pode parecer um tanto simples em suas mecânicas e até causar uma certa vergonha alheia ao notarmos a maneira como o enredo trata alguns personagens ou o tema em si. Mesmo assim, se o encararmos ciente da época em que o original foi lançado, se tornará mais fácil saborear essa remasterização.

Para mim, o primeiro Dead Rising funcionou muito melhor quando passei a vê-lo como uma evolução dos beat 'em ups, um que adotou as três dimensões, um mundo aberto e sistemas de evolução do personagem e missões. E se pudermos tratá-lo como algo pertencente a esse gênero, que era conhecido muito pela simplicidade entregue, vários do problemas que poderiam ser vistos como falhas acabam se tornando virtudes.

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