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Eiyuden Chronicle: Hundred Heroes — 120 motivos

Último trabalho de Yoshitaka Murayama, Eiyuden Chronicle: Hundred Heroes é uma bela carta de amor aos fãs de JRPGs e principalmente, da série Suikoden

06/05/2024 às 10:36

Eu sempre fui um apaixonado por RPGs, mas de alguns anos para cá meu interesse pelo gênero recaiu principalmente sobre aqueles mais voltado para a ação. Por isso, a chance de eu gostar do Eiyuden Chronicle: Hundred Heroes parecia pequena. Porém, por se tratar de um sucessor espiritual da série Suikoden, eu precisava lhe dar uma chance e como estou feliz por ter feito isso.

Eiyuden Chronicle: Hundred Heroes

Crédito: Divculgação/Rabbit and Bear Studios

Em julho de 2020 Yoshitaka Murayama surpreendeu muita gente ao anunciar uma campanha de financiamento para um ambicioso projeto. Criador da série Suikoden, o plano do game designer era desenvolver um jogo em que novamente poderíamos recrutar uma centena de personagens para a nossa equipe e o público comprou a ideia, literalmente.

Quando a campanha terminou, ela havia conseguido US$ 4,6 milhões e se tornado o jogo com a maior arrecadação daquele ano no Kickstarter, além de terceiro maior de todos os tempos. Caberia então ao Rabbit and Bear Studios realizar o sonho dos fãs e após vários adiamentos e o lançamento do divertido Eiyuden Chronicle: Rising, o JRPG de Murayama está entre nós.

Aliás, assim que iniciamos o Eiyuden Chronicle: Hundred Heroes, uma tela diz que esse é um jogo dedicado a todos os fãs de JRPGs e se você não gostava dos jogos assim lançados na década de 90, provavelmente não será esse que o conquistará. Batalhas por turnos, muitas conversas e uma aventura com dezenas de horas de duração. Para o bem ou para o mal, está tudo ali.

Eiyuden Chronicle: Hundred Heroes

Crédito: Divculgação/Rabbit and Bear Studios

Eiyuden Chronicle: Hundred Heroes se passa em Allraan, continente em que diversas nações lutam pela supremacia e onde alianças, intrigas e traições são constantes. Parte dessa disputa são as Lentes Rúnicas, artefatos mágicos que podem mudar completamente a geopolítica do local.

E isso realmente acontece, quando o Império Galdeano descobre uma tecnologia capaz de amplificar o poder das lentes, fazendo com que a sua expansão sobre as demais nações se torne praticamente imparável.

Neste cenário conheceremos Nowa, um garoto que vive em uma pequena vila e que certo dia se depara com Seign Kesling, filho de uma lenda do Império e que já responde como oficial do exército. De maneira um tanto improvável, os jovens se tornam amigos e partem numa missão.

Esse será apenas o primeiro passo que o protagonista dará em uma longa viagem, onde seremos apresentados a situações tensas, reviravoltas interessantes no enredo e passagens que ajudam a reforçar o senso de aventura e amizade entre os personagens.

Por falar nisso, um dos aspectos mais interessantes de Eiyuden Chronicle: Hundred Heroes está justamente no seu subtítulo. Assim como na série da Konami que lhe serviu de inspiração, nesse jogo também podemos trazer mais de uma centena de personagens para a nossa equipe — 120, para ser mais exato. Com cada um deles contando com visuais, personalidades, habilidades e acredite, dublagens distintas, explorar Allraan em busca dessas pessoas acaba se tornando um divertido objetivo para os “colecionadores”.

Eiyuden Chronicle: Hundred Heroes

Crédito: Divculgação/Rabbit and Bear Studios

O interessante é que, como Nowa se torna o líder de um grupo conhecido como a Patrulha de Eltisweiss, essa mecânica de recrutamento se mostra fundamental para termos sucesso no processo de derrubar o Império. Aos poucos, o que antes não passava de um grupo, se tornará um pequeno exército e será com ele que poderemos desafiar os opressores.

No geral, esses novos membros serão convencidos apenas ao falamos com eles, mas em algumas situações será preciso encarar missões e, após lhes ajudar, eles se tornarão disponíveis. Sendo assim, Eiyuden Chronicle: Hundred Heroes é um jogo onde a exploração se faz constantemente presente, inclusive sendo importante conversarmos com todas as pessoas quando chegarmos numa cidade.

Aqui entra um aspecto que pode desagradar algumas pessoas. Ao contrário da maioria dos jogos lançados atualmente, esse não nos entrega tudo mastigadinho. Mesmo a explicação das missões não é muito clara e algumas vezes fiquei perdido, sem saber para onde ir ou o que fazer.

Assim, perder a oportunidade de recrutar algum membro é algo com que teremos que conviver, pois a menos que a pessoa recorra a algum guia, conseguir encontrar todos os personagens será uma missão, se não impossível, ao menos bastante trabalhosa. No entanto, prefiro acreditar que isso faz parte do charme tanto da série Suikoden, quanto desse sucessor espiritual.

Crédito: Divculgação/Rabbit and Bear Studios

Outra característica do Eiyuden Chronicle: Hundred Heroes que poderá afastar alguns é o seu sistema de batalha. Funcionando como um bom e velho RPG por turnos, aqui cada combatente terá que esperar sua vez para atacar, defender ou usar algum item, com uma barra localizada na parte superior mostrando a ordem em que isso acontecerá.

Com ela poderemos elaborar estratégias, decidindo qual inimigo atacar primeiro e saber em qual posição da fila eles estão para realizar suas ações. Além disso, algo que também adiciona um senso estratégico aos combates é a fileira em que nossos personagens estará, já que eles contam com maior ou menor alcance, dependendo de sua classe.

Ao todo, podemos levar seis heróis para os confrontos (além de um apoio), mas alguns deles ocupam mais de um espaço no “tabuleiro”. Então, sempre que partirmos para a exploração, poderemos escolher aqueles que nos acompanharão e conseguir um bom equilíbrio entre personagens de ataque, defesa e cura será fundamental para termos alguma chance.

Para os impacientes, o jogo conta com uma opção para deixar a máquina controlar as batalhas, com o comportamento dos heróis podendo ser definido antecipadamente. Em encontros com inimigos mais fracos, o recurso nos ajudará a poupar um bom tempo, mas o ideal é que sempre estejamos no comando, já que nem sempre a “inteligência artificial” toma as melhores decisões.

Mesmo sem trazer algo novo, os confrontos acontecem num bom ritmo e a necessidade de calcularmos quem atacar primeiro para assim evitar que ele tenha chance de nos acertar faz com que as lutas não sejam enfadonhas. O que não gostei é algo remanescente dos RPGs da década de 90 e que, na verdade, sempre me incomodou: os encontros aleatórios. Como os inimigos não aparecem antes das lutas começarem, é impossível evitá-las e muitas vezes o que eu queria era apenas avançar pelo mapa.

Crédito: Divculgação/Rabbit and Bear Studios

Eiyuden Chronicle: Hundred Heroes também nos coloca para disputar algumas batalhas entre apenas dois personagens e outras enormes, colocando frente a frente dois exércitos e quando ele se torna algo mais próximo de um jogo de estratégia por turnos. Porém, ambas as partes funcionam de maneira muito simples, passando a impressão de que faltou um maior empenho/tempo por parte dos desenvolvedores. Isso não quer dizer que sejam trechos ruins, apenas que eu esperava algo mais elaborado do que realmente são.

Já na parte audiovisual, o trabalho realizado pelo pessoal da Rabbit and Bear Studios me deixou plenamente satisfeitos. As músicas compostas por Hiroyuki Iwatsuki são lindas, ajudando a nos fazer imergir em Allraan e combinando prefeitamente com o ambiente em que estamos ou a situação passada pelo roteiro.

Quanto aos gráficos, adotar o estilo HD-2D foi uma ótima escolha, pois faz com que tenhamos a impressão de estar jogando um RPG lançado para o primeiro PlayStation, mas com uma qualidade visual que só existe na nossa memória. Eu também gostei do design dos personagens, criação de Junko Kawano.

Entendo que algumas pessoas poderão estranhar um jogo feito com cenários em 3D e personagens em sprites, mas eu adoro essa mistura. O efeito de desfoque nos ambientes também é algo que me agradou e embora a direção artística de Eiyuden Chronicle: Hundred Heroes não seja tão bonita quanto a de um Octopath Traveler, sempre admirarei estúdios que optem por seguir por esse caminho.

Crédito: Divculgação/Rabbit and Bear Studios

Com sua história interessante, contada de uma forma que sempre me deixou querendo saber o que aconteceria a seguir; gráficos muitos bonitos que misturam o velho e o novo; um sistema de batalha pouco inovador, mas que consegue entregar algum desafio — principalmente nos chefes; e mais de uma centena de personagens para encontrarmos, Eiyuden Chronicle: Hundred Heroes é mesmo, como diz na sua abertura, uma bela carta de amor aos fãs de JRPGs e que poderá te entreter por muitas e muitas horas.

Se você gosta de explorar, gosta de jogos com um ritmo mais lento e que entregam um universo fascinante, provavelmente ficará encantado por este que, infelizmente, foi o último trabalho do mestre Yoshitaka Murayama, falecido em fevereiro passado, pouco antes do jogo ser lançado e, portanto, sem saber como o público reagiria a esse ótimo JPRG.

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