Meio Bit » Arquivo » Ciência » Astrônomo brasileiro descobre asteroide com anéis

Astrônomo brasileiro descobre asteroide com anéis

Essa merecia o Galvão gritando “É do Brasil!” Um astrônomo brasileiro, comandando uma equipe internacional descobriu algo que todo mundo tinha boa convicção de que não era possível: um asteroide com… anéis.

10 anos atrás

anel

Eu sou um ás no Photoshop.

Algo que irrita muito os adversários da Ciência é o fato de ela ser auto-corretiva, se aprimorar com o tempo e não ter problemas em reconhecer uma idéia como errada, diante de novas evidências. Algumas vezes é desagradável. Eu mesmo me recuso a aceitar as evidências de dinossauros com penas e parentes de aves. Cresci com T-Rex, não com um galinhossauro.

A parte divertida é que a Ciência não liga pra reputações. Se você perguntasse a qualquer astrônomo antes da colisão do cometa Shoemaker-Levy 9 com Júpiter, ele diria que a probabilidade desse tipo de evento seria ínfima. Agora a Astronomia avança de novo, dessa vez graças a uma pesquisa liderada por um brasileiro. O trabalho foi feito no ESO, o European Southern Observatory, aquele conjunto de telescópios no Chile, que o Brasil usa praticamente na base do favor, pois desde o Governo Lula não conseguimos aprovar as verbas pro projeto.

Mesmo com esse clima, mesmo com a forma criminosa com que Ciência é ignorada no Brasil, os pesquisadores ainda insistem. Um desses é um astrônomo do Observatório Nacional chamado Felipe Braga-Ribas. Ele desenvolve uma pesquisa com asteroides e ocultações, que são quando um asteroide passa na frente de uma estrela. A variação na luz nos permite identificar um monte de características do asteroide, mas Felipe não esperava descobrir o que descobriu quando o asteroide 10199 Chariklo passou na frente da estrela UCAC4 248-108672. Essa nomenclatura vem do catálogo do Observatório Naval dos EUA, mas é muito feio. Vamos chamar a estrela de Jorge.

Chariklo orbita entre Saturno e Urano, e por seu tamanho é considerado um Planeta Menor, nomenclatura criada para agradar Plutão, depois que foi rebaixado. Sendo realista, Chariklo continua sendo um asteroide metido a besta, se bem que essa ostentação toda é justificada.

Quando os dados das observações começaram a chegar, algo estava errado, muito errado. Um objeto pequeno, com 232 km, sem atmosfera teria que gerar uma curva de luz bem dura, com uma queda rápida na intensidade. Ao invés disso, foi obtido esta curva:

curvadeluz

As medições não foram feitas só no Chile. Observatórios da América do Sul toda participaram. Os dados comparados apontaram pra uma conclusão surpreendente: Chariklo tem um anel. Na verdade dois, com raio orbital de 391 km e 405 km, e largura de 7 km e 3 km. Parecem minúsculos mas representam 10 milhões de vezes mais massa do que todos os satélites geoestacionários terrestres.

Os anéis foram batizados provisoriamente de Oiapoque e Chui. (eu sei!)

aneldomal

A descoberta, divulgada neste press release foi publicada hoje na revista Nature. O paper original está disponível neste link [cuidado, PDF].

Aqui um vídeo da ESO falando sobre a descoberta:

Loading player...

Havia um consenso de que corpos pequenos não conseguiam manter sistemas de anéis. No Sistema Solar eles só aparecem em Saturno, Júpiter, Urano e Netuno. Essa descoberta não só mostra que isso não é verdade como apresenta um novo problema: por que diabos planetas menores não têm anéis então?

Mais ainda: ao mostrar que é viável um sistema de anéis em corpos pequenos, está aberto o caminho para a evolução natural do Elevador Espacial: a criação de anéis artificiais, provendo espaço para bilhões de pessoas. Sim, como vimos em Starship Troopers:

tfa11d7_StarshipTroopers_1618

Finalizando, uma boa oportunidade para acabar com o mito do Cientista Solitário, uma figura que existia no passado mas hoje em dia basicamente significa que o sujeito inventa máquinas anti-gravidade, moto-contínuos e pirâmides alienígenas. Ciência é uma atividade colaborativa. Você precisa da revisão de seus pares, mas antes disso precisa da contribuição deles. Felipe contou com uma boa galera no projeto, e merecem parte do mérito. São eles:

B. Sicardy (LESIA, Observatoire de Paris, Paris, France [LESIA]), J. L. Ortiz (Instituto de Astrofísica de Andalucía, Granada, Spain), C. Snodgrass (Max Planck Institute for Solar System Research, Katlenburg-Lindau, Germany), F. Roques (LESIA), R. Vieira- Martins (Observatório Nacional/MCTI, Rio de Janeiro, Brazil; Observatório do Valongo, Rio de Janeiro, Brazil; Observatoire de Paris, France), J. I. B. Camargo (Observatório Nacional/MCTI, Rio de Janeiro, Brazil), M. Assafin (Observatório do Valongo/UFRJ, Rio de Janeiro, Brazil), R. Duffard (Instituto de Astrofísica de Andalucía, Granada, Spain), E. Jehin (Institut d’Astrophysique de l’Université de Liege, Liege, Belgium), J. Pollock (Appalachian State University, Boone, North Carolina, USA), R. Leiva (Pontificia Universidad Católica de Chile, Santiago, Chile), M. Emilio (Universidade Estadual de Ponta Grossa, Ponta Grossa, Brazil), D. I. Machado (Polo Astronomico Casimiro Montenegro Filho/FPTI-BR, Foz do Iguaçu, Brazil; Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste), Foz do Iguaçu, Brazil), C. Colazo (Ministerio de Educación de la Provincia de Córdoba, Córdoba, Argentina; Observatorio Astronómico, Universidad Nacional de Córdoba, Córdoba, Argentina), E. Lellouch (LESIA), J. Skottfelt (Niels Bohr Institute, University of Copenhagen, Copenhagen, Denmark; Centre for Star and Planet Formation, Geological Museum, Copenhagen, Denmark), M. Gillon (Institut d’Astrophysique de l’Université de Liege, Liege, Belgium), N. Ligier (LESIA), L. Maquet (LESIA), G. Benedetti-Rossi (Observatório Nacional/MCTI, Rio de Janeiro, Brazil), A. Ramos Gomes Jr (Observatório do Valongo, Rio de Janeiro, Brazil, P. Kervella (LESIA), H. Monteiro (Instituto de Física e Química, Itajubá, Brazil), R. Sfair (UNESP -– Univ Estadual Paulista, Guaratinguetá, Brazil), M. El Moutamid (LESIA; Observatoire de Paris, Paris, France), G. Tancredi (Observatorio Astronomico Los Molinos, DICYT, MEC, Montevideo, Uruguay; Dpto. Astronomia, Facultad Ciencias, Uruguay), J. Spagnotto (Observatorio El Catalejo, Santa Rosa, La Pampa, Argentina), A. Maury (San Pedro de Atacama Celestial Explorations, San Pedro de Atacama, Chile), N. Morales (Instituto de Astrofísica de Andalucía, Granada, Spain), R. Gil-Hutton (Complejo Astronomico El Leoncito (CASLEO) and San Juan National University, San Juan, Argentina), S. Roland (Observatorio Astronomico Los Molinos, DICYT, MEC, Montevideo, Uruguay), A. Ceretta (Dpto. Astronomia, Facultad Ciencias, Uruguay; Observatorio del IPA, Ensenanza Secundaria, Uruguay), S.-h. Gu (National Astronomical Observatories/Yunnan Observatory; Key Laboratory for the Structure and Evolution of Celestial Objects, Chinese Academy of Sciences, Kunming, China), X.-b. Wang (National Astronomical Observatories/Yunnan Observatory; Key Laboratory for the Structure and Evolution of Celestial Objects, Chinese Academy of Sciences, Kunming, China), K. Harpsøe (Niels Bohr Institute, University of Copenhagen, Copenhagen, Denmark; Centre for Star and Planet Formation, Geological Museum, Copenhagen, Denmark), M. Rabus (Pontificia Universidad Católica de Chile, Santiago, Chile; Max Planck Institute for Astronomy, Heidelberg, Germany), J. Manfroid (Institut d’Astrophysique de l’Université de Liege, Liege, Belgium), C. Opitom (Institut d’Astrophysique de l’Université de Liege, Liege, Belgium), L. Vanzi (Pontificia Universidad Católica de Chile, Santiago, Chile), L. Mehret (Universidade Estadual de Ponta Grossa, Ponta Grossa, Brazil), L. Lorenzini (Polo Astronomico Casimiro Montenegro Filho/FPTI-BR, Foz do Iguaçu, Brazil), E. M. Schneiter (Observatorio Astronómico, Universidad Nacional de Córdoba, Córdoba, Argentina; Consejo Nacional de Investigaciones Científicas y Técnicas (CONICET), Argentina; Instituto de Astronomía Teórica y Experimental IATE–CONICET, Córdoba, Argentina; Universidad Nacional de Córdoba, Córdoba, Argentina), R. Melia (Observatorio Astronómico, Universidad Nacional de Córdoba, Córdoba, Argentina), J. Lecacheux (LESIA), F. Colas (Observatoire de Paris, Paris, France), F. Vachier (Observatoire de Paris, Paris, France), T. Widemann (LESIA), L. Almenares (Observatorio Astronomico Los Molinos, DICYT, MEC, Montevideo, Uruguay; Dpto. Astronomia, Facultad Ciencias, Uruguay), R. G. Sandness (San Pedro de Atacama Celestial Explorations, San Pedro de Atacama, Chile), F. Char (Universidad de Antofagasta, Antofagasta, Chile), V. Perez (Observatorio Astronomico Los Molinos, DICYT, MEC, Montevideo, Uruguay; Dpto. Astronomia, Facultad Ciencias, Uruguay), P. Lemos (Dpto. Astronomia, Facultad Ciencias, Uruguay), N. Martinez (Observatorio Astronomico Los Molinos, DICYT, MEC, Montevideo, Uruguay; Dpto. Astronomia, Facultad Ciencias, Uruguay), U. G. Jørgensen (Niels Bohr Institute, University of Copenhagen, Copenhagen, Denmark; Centre for Star and Planet Formation, Geological Museum, Copenhagen, Denmark), M. Dominik (University of St Andrews, St Andrews, United Kingdom) F. Roig (Observatório Nacional/MCTI, Rio de Janeiro, Brazil), D. E. Reichart (University of North Carolina – Chapel Hill, North Carolina [UNC]), A. P. LaCluyze (UNC), J. B. Haislip (UNC), K. M. Ivarsen (UNC), J. P. Moore (UNC), N. R. Frank (UNC) and D. G. Lambas (Observatorio Astronómico, Universidad Nacional de Córdoba, Córdoba, Argentina; Instituto de Astronomía Teórica y Experimental IATE–CONICET, Córdoba, Argentina).

asteroide_aneis

asteroide_aneis_2

Leia mais sobre: , , .

relacionados


Comentários