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Meio Bit entrevista Steve Wozniak

O MB bateu um papo informal com Steve Wozniak, e o fundador da Apple conta qual o seu gadget favorito de todos os tempos, quem foram os seus ídolos de infância e conta como foi sua experiência de representar os nerds em um programa de dança na TV dos Estados Unidos.

10 anos atrás

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Tive o privilégio de entrevistar Steve Wozniak, o homem que mudou o mundo ao criar um dos primeiros computadores pessoais na garagem do seu amigo Steve Jobs. Apesar de afastado da Apple desde 1981, Woz se tornou um verdadeiro ícone e referência no mundo da tecnologia, e continua a ser um grande entusiasta, daqueles que usam todos os sistemas operacionais.

Alguns anos atrás, eu e o Cardoso tivemos o privilégio de conversar pessoalmente com Woz depois de uma palestra em Belo Horizonte, mas esta entrevista foi feita por email, eu mandei as perguntas e recebi as respostas de Woz no final de julho do ano passado. O texto seria publicado originalmente em uma revista impressa em agosto de 2013, mas a revista infelizmente saiu de circulação, assim pedi a autorização da minha amiga Elis Monteiro para publicar a conversa aqui no MB.

Caso você queira ir direto ao que interessa, é só clicar aqui, mas antes da entrevista, queria fazer uma pequena apresentação do meu herói de infância.

Woz era só um garoto curioso com inteligência acima da média crescendo nos anos 60 quando descobriu os livros de engenharia na casa do seu pai. Seu primeiro gadget foi um rádio amador, que ele usou para entrar em contato com pessoas em outras partes do mundo, algo que o inspirava e dava uma sensação gostosa de poder.

Woz morava no Silicon Valley, que segundo ele era o local com mais chips por metro quadrado do mundo, pelo menos naquela época, quando era possível até mesmo recebê-los por pagamento ao cortar a grama do vizinho. Woz contou que é eternamente grato aos seus professores, especialmente aqueles que sabem identificar a necessidade de cada aluno, ajudando a abrir a cabeça daqueles excepcionalmente brilhantes, que precisam expandir seus horizontes.

Um dia ele leu em uma revista um artigo sobre o Blue Box, um aparelho no qual você digitava tons para fazer chamadas de graça para qualquer lugar. Pensando um pouco a respeito, ele viu que seria capaz de produzir algo assim. Woz então convidou o seu amigo Steve Jobs para ser seu sócio na empreitada, a primeira que fizeram juntos. O detalhe interessante é que a dupla nunca usou o aparelho para fazer ligações. Muito mais do que o lucro, o objetivo dos dois era criar algo único, especial.

Quando descobriu o mundo dos computadores, soube que aquilo faria parte da sua vida para sempre, e passou a se dedicar ao assunto de forma integral. O primeiro computador que Woz criou tinha uma interface simples, feita apenas com luzes e botões, mas já era capaz de realizar operações, desde que você fosse capaz de decifrar os resultados, que eram apresentados em linguagem binária. O sono virou algo secundário na vida de Woz, que passou a dedicar todo o seu tempo livre para uma única tarefa: programar. Seu objetivo não era a tecnologia por ela mesma, e sim a possibilidade de utilizá-la para produzir resultados práticos e úteis para o ser humano.

Quando seu amigo Steve Jobs foi trabalhar na Atari, Wozniak achou aquilo um verdadeiro sonho, por isto aceito de cara o convite do amigo para ajudar a criar uma versão diferente do game Pong, o Breakout. Foram 4 dias e 4 noites sem descanso, mas a satisfação de ver o trabalho rodando em uma TV colorida era inigualável. Ao ver a bola mudando de cor na tela da TV, Woz e Jobs tiveram o grande insight da importância das cores, algo vital para a empresa de computadores que os dois iriam criar juntos. Na garagem, os dois criaram o Apple I, que foi o primeiro produto comercial da Apple, vendido por US$ 666 em 1976. O conceito de computador pessoal estava formado, e só iria evoluir a partir dali.

Em 1976 Steve Wozniak mudou o mundo ao construir o Apple II, que iria revolucionou completamente o cenário de tecnologia existente até então, criando dando início a era dos computadores pessoais. Seu produto foi vendido de forma brilhante por Steve Jobs, no que se tornou o primeiro sucesso da Apple. Depois de passarem conhecerem os projetos secretos da Xerox, Steve Jobs, Steve Wozniak e um jovem chamado Bill Gates ficaram abismados com o sistema operacional gráfico, que tinha janelas e menus e usava o mouse como interface. Em 1981, Woz sai da Apple, e no ano seguinte, seu antigo sócio Steve Jobs deixa a divisão LISA para se dedicar ao Macintosh, que foi lançado em 1984, e o resto é história. Os caminhos de Woz podem tê-lo separado da Apple, mas nunca dos seus produtos, que ele continua usando no dia a dia.

 

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Entrevista com Steve Wozniak

MB: Woz, você é um apaixonado por gadgets, e eu sei que você viaja com muitos deles, para onde quer que vá. Qual dos seus aparelhos você ama mais?

Woz: O meu laptop MacBook Pro é o gadget do qual eu mais dependo, mas eu realmente amo o meu iPhone 5 (branco) mais do que todos. É muito pela beleza do seu design, mas ele se tornou uma parte crítica da minha vida cada minuto do dia, é como uma extensão de mim mesmo. Eu amo outros smartphones que são incríveis, mas este é o meu favorito.

MB: E qual seria o seu gadget favorito de todos os tempos?

Woz: Posso responder esta pergunta com diferentes gadgets por diferentes períodos. De vez em quando, um novo gadget se tornava o meu favorito de todos os tempos. É difícil voltar e dizer qual é aquele que transportou a minha cabeça para um lugar mais avançado. Eu poderia dizer que foi meu primeiro gadget pessoal, um rádio transístor. O Apple I que me assegurou uma vida completa em meu próprio mundo. Quando você tem uma máquina que pode programar, você tem infinitas coisas que pode fazer, para sempre. O Apple ][ voi um salto tão gigantesco. Meu Apple ][c era ainda mais pessoal. O meu laptop Macintosh Duo trouxe a internet pra cama comigo. Bem, pra todos os lugares comigo. O Cube, por sua engenhosidade e também pela forma/função. Agora é o iPhone 5. Eu diria que a melhor experiência para mim entre todos estes foi o Apple ][, muito em parte porque eu tinha uma maneira simples, logo que tirava da caixa, para programar qualquer coisa, incluindo jogos animados.

MB: Falando do iOS 7, o que você achou do sistema? É uma evolução estética ou uma revolução completa?

Woz: Eu não saberia te dizer. Eu simplesmente não jogo o jogo dos betas. Eu me queimei vezes o suficiente 25 anos atrás para sair deste tipo de estresse só para estar na frente.*

* Esta entrevista foi feita em agosto de 2013, portanto antes do lançamento oficial do iOS 7. 

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MB: E o que você acha do tamanho da tela do iPhone? Ela é perfeita como é, ou você gostaria que ela pudesse ser maior, como a de um smartphone Android?

Woz: Eu gosto do meu iPhone mas eu também uso bastante os celulares Android. Eu já gostei e senti que ganhei mais das telas grandes, até mesmo do Galaxy Note. Eu também sinto que tenho mais facilidade usando as telas maiores. Pode ser uma heresia, mas, afinal de contas, o primeiro iPhone trouxe uma tela maior do que a de um Blackberry, com seu espaço desperdiçado por um teclado.

MB: Você é um guru para milhões de fãs de tecnologia no mundo inteiro, incluindo eu. Quando você era um garoto, quem te inspirava?

Woz: Eu me inspirava nos meus professores. Meu pai era o mais importante, mas meu professor de eletrônica no 2º grau foi diferente de todos os professores que já tive. Ele escrevia suas próprias aulas e era próximo de todos os seus estudantes. Eu também admirava personagens de tecnologia de livros de ficção. Esbarrei nos computadores quando era extremamente jovem, mas não me apaguei a pessoas específicas como ídolos nesta área. Eu amava toda a ciência dos computadores. Além disto, eu admirava os escritores que me inspiravam de forma emotiva, incluindo autores como Thoreau e Emerson.

Eu também admirava músicos que estavam expondo suas visões de contra cultura, e Dylan estava no topo desta lista. Eu tive todos os seus álbuns e li o encarte dúzias de vezes. Com o tempo, eu passei a admirar músicos que comunicavam de maneira forte seus pontos de vista sobre a humanidade e seus direitos em suas músicas, como era feito naquela época, e aí incluo Bruce Springsteen e Neil Young.

MB: Eu queria que você me contasse sobre a sua experiência no Dancing with The Stars. Aquilo foi mais divertido do que criar o primeiro computador pessoal?

Woz: Eu não assisto televisão. Eu não fazia idéia do que se tratava. Eu achei que ia passar, que eles iriam desistir. Mas eles foram tão legais e continuaram trabalhando em me convencer, e aí eu finalmente disse “sim”. Era assustador, mas isto também é verdadeiro para a maioria das celebridades do show. Eu tive que trabalhar muito só para fazer as rotinas simples. Quando você se esforça e atinge um resultado, isto é muito gratificante. Eu gostei muito da experiência, foi talvez a coisa mais divertida da minha vida como experiência única. Eu me sinto muito sortudo por ter sido capaz de fazer isto, e quis que a audiência percebesse isto.

MB: Não vou te perguntar sobre a sua relação com Steve Jobs, mas você poderia me dizer se, na sua opinião, a Apple sente a falta dele?

Woz: É muito difícil especular. Eu só sinto a falta da maneira como ele falaria sobre as direções nas quais a tecnologia deveria estar indo. Eu não posso dizer como seria, pois nós realmente não sabemos.

MB: Existe algo que você sinta falta dos velhos tempos da tecnologia?

Woz: Eu sinto falta da habilidade de ter uma idéia, juntar umas peças e criar suas próprias soluções que eram capazes de realizar tantas coisas. Hoje em dia nossos computadores fazem milhões de coisas a mais, então o fato de você poder construir o seu próprio não é mais tão impressionante, não te torna um Super-homem. O geek que sabe construir computadores não o destaca tanto assim, quando todos os geeks estão usando seus smartphones, mesmo que apenas para digitar de maneira super rápida ou coisas assim. Nós geeks não somos mais aqueles escolhidos especiais.

MB: O que você acha do Google Glass, e a computação wearable em geral? Você tem um?

Woz: Eu não tenho um Google Glass. Eu poderia, é verdade, mas sou tão ocupado que não sou a melhor pessoa para ser um early tester do produto. Eu tentei usar uma vez e gostei muito, e não consigo tirar aquela experiência da cabeça. Acho que o próximo grande passo é a computação wearable, um passo equivalente ao computador pessoal, o computador com interface gráfica de usuário, a internet, a web social e a internet móvel.

Crédito das fotos: Jonathan Alcorn

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