Carlos Cardoso 6 anos atrás
Um antigo comercial do Fusca se orgulhava de que o modelo do ano seguinte só trazia como novidades uma mudança no espelho lateral. O conceito vendido era que o carro era tão perfeito, tão tecnologicamente insuperável que não havia mais o que mudar.
Isso, claro, é um absurdo, como também é um absurdo trocarem a bosta do farol todo ano: assim não há produção de escala que consiga baixar o custo, e só quem lucra são as montadoras e lojas de autopeças.
No meio-termo temos upgrades legítimos. Se o modelo 2015 vem com ABS e o seu 2014 não tem, é uma troca que só pela segurança já é justificada, e não dá para ser instalado como acessório. Só que isso é raro. Vivemos a era dos carros descartáveis, mas a Tesla está acabando com isso.
Aquele tesão de encher a boca e dizer “eu tenho um carro do ano” não seduz os donos de Teslas, as mudanças nos modelos não seguem um cronograma de lançamento típico da indústria, e você recebe updates via 3G ou Wi-Fi.
Updates, mas pode receber também… upgrades.
A mudança de paradigma aqui é que normalmente você tem que trocar de carro ou ir pra oficina para fazer um upgrade no possante. No caso dos Teslas, é por software.
Um exemplo: em 2012 a Tesla vendia o modelo S mais baratinho com bateria de 40 kWh. Só que os pedidos eram poucos, eles perceberam que era mais vantajoso instalar baterias de 60 kWh e limitar a disponibilidade de energia pra 40 kWh via software, assim as mesmas baterias seriam usadas nos modelos de 60 kWh.
O suporte a Supercharger, o carregador rápido da Tesla foi introduzido (epa) como opcional para o Tesla S 60, custava US$ 2 mil, upgrade via software. Os modelos seguintes já traziam o recurso nativo.
A estratégia da Tesla é instalar o máximo de hardware que puder nos carros, e disponibilizar o acesso mediante upgrades pagos. Todos os veículos saem com os mesmos sensores e equipamentos, mas você só acessa os que pagou como parte do seu pacote.
O hardware para suporte ao Piloto Automático vem em todos os Teslas S desde o final de 2014, mas na compra ele seria ativado por US$ 3 mil.
O Electrek fez as contas. Se você quiser economizar e comprar um Tesla S60 só no osso, sem nenhum opcional, ele sai por US$ 66 mil. Depois pode fazer os upgrades.
Nessa brincadeira são US$ 19 mil. De um carro de US$ 66 mil. 19 mil em software.
20 anos atrás camponeses com tochas perseguiriam Elon Musk, já a geração atual consegue entender o conceito de adicionar recursos via software a algo que é basicamente um computador sobre rodas. O principal é que um Tesla SEM nenhum desses DLCs não é inútil, não é um daqueles RPGs da DC onde no modo gratuito você no máximo chega ao nível Aquaman.
O preço desses upgrades é uma boa demonstração do quanto do custo dos automóveis modernos está no software. Resta saber se a moda vai pegar ou a indústria tradicional vai tentar sustentar o modelo onde você é convencido a trocar de carro todo ano.